Uma oração intercessória pela Igreja (10)

3. Ouvir com discernimento  (Continuação)

            Em tudo devemos buscar discernimento, refletindo e retendo a Palavra:

O coração do sábio (!yBi) (bîyn) adquire o conhecimento (t[;D;) (daath),[1] e o ouvido dos sábios (~k’x’) (chakam)[2] procura o saber (t[;D;) (daath). (Pv 18.15).

Não é bom proceder sem refletir (t[;D;) (daath), e peca quem é precipitado. (Pv 19.2).

Quem retém as palavras possui o conhecimento (t[;D;) (daath), e o sereno de espírito é homem de inteligência. (Pv 17.27).

O coração (לב) (lêb) sábio (בּין) (bîyn)procura o conhecimento (t[;D;) (daath), mas a boca dos insensatos se apascenta de estultícia. (Pv 15.14). (Ver também: Pv. 16.16; 23.4,23).

Quando Nabucodonosor entrevistou Daniel e a seus amigos com vistas a servirem no palácio, registra as Escrituras:

Ora, a estes quatro jovens Deus deu o conhecimento e a inteligência em toda cultura e sabedoria; mas a Daniel deu inteligência (בּין) (bîyn)de todas as visões e sonhos. Vencido o tempo determinado pelo rei para que os trouxessem, o chefe dos eunucos os trouxe à presença de Nabucodonosor. Então, o rei falou com eles; e, entre todos, não foram achados outros como Daniel, Hananias, Misael e Azarias; por isso, passaram a assistir diante do rei. Em toda matéria de sabedoria e de inteligência (בּינה) (bîynâh) sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos e encantadores que havia em todo o seu reino.(Dn 1.17-20).

Veith como que “Deus é sempre designado como a fonte de todo conhecimento verdadeiro, e a habilidade intelectual é dádiva dele”.[3]

A sabedoria destes jovens provinha de Deus e esta se manifestava em sua obediência aos seus mandamentos. A submissão à Palavra leva-nos de forma objetiva a ter uma visão da realidade bastante diferenciada. O quadro de referência bíblico continuará sendo um desafio à simples inteligência carnal, limitada ao saber hodierno. “O Cristianismo fornece uma estrutura intelectual que é, na verdade, superior a qualquer outra visão do mundo para buscar o conhecimento”, conclui Veith[4]

            Portanto, devemos nos esforçar por obter este entendimento: “O princípio da sabedoria é: Adquire a sabedoria; sim, com tudo o que possuis, adquire o entendimento(בּינה) (bîynâh) (Pv 4.7).

            Por meio da meditação e prática da Palavra, Deus nos concede discernimento com clareza. Este é o testemunho do salmista: “A revelação das tuas palavras esclarece (rAa) (‘ôr) e dá entendimento (!yBii) (bîyn)[5] aos simples (ytiP,) (pethiy) (= ingênuo, tolo, mente aberta)(Sl 119.130).[6]

            Deus concede este entendimento aos símplices, referindo-se às pessoas ingênuas que por não terem desenvolvido uma mente discernidora, é aberta a qualquer conceito,[7] não percebendo as armadilhas e contradições do seu inconsistente mosaico de pensamento.

            A Palavra nos conduz à maturidade, ao discernimento para que não mais tenhamos uma “mente aberta”, em que tudo passe sem fronteira, sendo suscetível a todo tipo de sedução e engano.[8] Faz-se necessário que pensemos e, como nosso pensamento também foi afetado pelo pecado, pensemos sobre o nosso pensamento, rogando o espírito de sabedoria concedido por Deus (Ef 1.17). Devemos aprender a refletir sobre o ensino bíblico, suplicando o discernimento do Espírito.

            Deus deseja que exercitemos o senso crítico (Pv 1.4; 14.15) deixando a paixão pela “necedade” (Pv 1.22).[9] MacArthur, pontua:

Um indivíduo simples é como uma porta aberta – ele não tem discernimento sobre o que pode sair ou entrar. Tudo entra porque ele é ignorante, inexperiente, ingênuo e não sabe discernir as coisas. Pode ser até que tenha orgulho de ter uma ‘mente aberta’, apesar de ser verdadeiramente um tolo. Mas a Palavra de Deus faz com que essa pessoa seja ‘sábia’. (…) Ser sábio é dominar a arte do viver diário por intermédio do conhecimento da Palavra de Deus e sabendo aplicá-la em toda situação.[10]

Maringá, 6 de abril de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Vejam-se também: Pv 10.14; 11.9; 12.1; 13.16; 14.6; 19.25; 21.11; 23.12.

[2]“A ideia essencial (…) representa um modo de pensar e uma atitude para com as experiências da vida, incluindo questões de interesse geral e moralidade básica. Tais assuntos se relacionam à prudência em negócios seculares, habilidades nas artes, sensibilidade moral e experiência nos caminhos do Senhor” (Louis Goldberg, Hãkam: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 459). Em síntese, envolve a capacidade de discernir entre o bem e o mal. Veja-se: Robert B. Girdlestone, Synonyms of the Old Testament, Grand Rapids, MI.: Eerdmans, 1981 (Reprinted), p. 74.

[3]Gene Edward Veith, Jr, De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 19.

[4]Gene Edward Veith, Jr, De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 13. “O cristianismo é a religião que oferece o maior privilégio e que, com ele, exige a maior obrigação. No cristianismo, o esforço intelectual e a experiência emocional não são descuidados – longe disto – porém devem combinar-se para frutificar na ação moral” (William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, (I,II,III Juan y Judas), Buenos Aires: La Aurora, 1974, v. 15, p. 53).

[5] O verbo (!yBii) (bîyn) e o substantivo (hn”yBi) (bîynâh) apresentam a ideia de um entendimento, fruto de uma observação demorada, que nos permite discernir para interpretar com sabedoria e conduzir os nossos atos. “O verbo se refere ao conhecimento superior à mera reunião de dados. (…) Bîn é uma capacidade de captação julgadora e perceptiva e é demonstrada no uso do conhecimento” (L. Goldberg, Bîn: In: L. Harris, et. al., eds., Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 172).

  !yBii (bîyn) permite diversas traduções (ARA): Acudir (Sl 5.1) (No sentido de considerar); Ajuizado (Gn 41.33,39); Atentar (Dt 32.7,29; Sl 28.5); Atinar (Sl 73.17; 119.27); Considerar (Jó 18.2; 23,15; 37.14); Contemplar (Sl 33.15); Cuidar (Dt 32.10); Discernir (1Rs 3.9,11; Jó 6.30; 38.20; Sl 19.12); Douto (Dn 1.4); Ensinar (Ne 8.7,9); Entender/entendido/entendimento (Dt 1.13;4.6; 1Sm 3.8; 2Sm 12.19; 1Rs 3.12;1Cr 15.22; 27.32; 2Cr 26.5; Ed 8.16; Ne 8.2,3,8,12; 10.28; Jó 6.24;13.1; 15.9; 23.5; 26.14; 28.23; 32.8,9; 42.3); Fixar no sentido de pensar detidamente (Jó 31.1); Inteligência (Dn 1.17); Mestre (no sentido de expert) (1Cr 25.7,8); Penetrar (com o sentido de discernir) (1Cr 28.9; Sl 139.2); Perceber (Jó 9.11;14.21; 23.8); Perito (Is 3.3); Procurar (Sl 37.10); Prudentemente (2Cr 11.23); Reparar (1Rs 3.21); Revistar (procurar atentamente) (Ed 8.15); Saber/Sabedoria (Ne 13.7; Pv 14.33); “Sisudo” em palavras (1Sm 16.18); Superintender (por ter maior conhecimento) (2Cr 34.12). A LXX geralmente emprega a palavra Suni/hmi (syniêmi) para traduzir o verbo hebraico. Suni/hmi (syniêmi) envolve a ideia de reunir as coisas, analisá-las, tentando chegar a uma conclusão por meio de uma conexão das partes (*Mt 13.13,14,15,19,23,51; 15.10; 16.12; 17.13; Mc 4.12; 6.52; 7.14; 8.17,21; Lc 2.50; 8.10; 18.34; 24.45; At 7. 25 (duas vezes); 28.26,27; Rm 3.11; 15.21; 2Co 10.12; Ef 5.17). Paulo instrui aos efésios: “….Vede prudentemente como andais, não como néscios, e, sim, como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus. Por esta razão não vos torneis insensatos, mas procurai compreender(Suni/hmi)qual a vontade do Senhor”(Ef 5.15-17).

[6] Por isso mesmo Deus nos convida a um exame de sua Palavra. Nela temos os Seus ensinamentos e promessas que, de fato, podem iluminar os nossos olhos, apontando e nos capacitando a seguir o Seu caminho. “Porque o mandamento é lâmpada, e a instrução, luz(rAa) (‘ôr)….”(Pv 6.23). Esta é a experiência do salmista: “Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina (rAa) (‘ôr) os olhos”(Sl 19.8). “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz (rAa) (‘ôr) para os meus caminhos”(Sl 119.105). Nas Escrituras, seguir a instrução de Deus é o mesmo que andar na luz: “Irão muitas nações e dirão: Vinde, e subamos ao monte do SENHOR e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e a palavra do SENHOR, de Jerusalém (…) Vinde, ó casa de Jacó, e andemos na luz (rAa) (‘ôr) do SENHOR” (Is 2.3,5). “Atendei-me, povo meu, e escutai-me, nação minha; porque de mim sairá a lei, e estabelecerei o meu direito como luz (rAa) (‘ôr) dos povos” (Is 51.4). (Para um estudo mais pormenorizado do emprego da palavra no Antigo Testamento, vejam-se: H. Wolf, ‘ôr: In: L. Harris, et. al., eds., Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 38-42; William Gesenius, Hebrew-Chaldee Lexicon to the Old Testament,3. ed. Michigan: WM. Eerdmans Publishing Co. 1978, p. 23).

[7]“O simples (ytiP.) (pethiy) dá crédito a toda palavra, mas o prudente atenta (yBi) (biyn)para os seus passos” (Pv 14.15).

[8]Cf. L. Goldberg, Petî: In: L. Harris, et. al., eds., Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1249. Para um estudo mais detalhado da palavra, veja-se: M. Saebo, Pth: In: E. Jenni; C. Westermann, eds., Diccionario Teologico Manual Del Antiguo Testamento, Madrid: Ediciones Cristiandad, 1985, v. 2, p. 624-628.

[9]“Até quando, ó néscios (ytiP) (pethiy), amareis a necedade (ytiP) (pethiy)? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento?” (Pv 1.22).

[10]John F. MacArthur Jr., Adotando a Autoridade e a Suficiência das Escrituras: In: J.F. MacArthur Jr., ed. ger., Pense Biblicamente!: recuperando a visão cristã do mundo, São Paulo: Hagnos, 2005, p. 39. Veja-se também: J.F. MacArthur Jr., Nossa Suficiência em Cristo, São José dos Campos, SP: Fiel, 1995, p. 68.

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