Teologia da Evangelização (76)

2.4.6. O propósito de Deus em salvar o seu povo

Se somos de fatos cristãos, não é porque tenhamos nos decidido por Cristo, mas porque Cristo se decidiu por nós. É a busca desse ‘amante tremendo’ que nos torna cristãos. ‒ John Stott.[1]

O anúncio da salvação feito pela igreja só tem sentido se: 1) Houver pessoas necessitando serem salvas; 2) Houver de fato a possibilidade concreta de salvá-las. Obviamente estas duas premissas não esgotam a questão; contudo, são essenciais a este assunto. Como vimos, com o pecado de todo o ser humano, todos passaram a necessitar da salvação. Vimos também que a obra de Cristo foi completa.  Ele satisfez plenamente as santas e justas exigências do Pai, pagando todas as nossas dívidas. Assim, de fato, há salvação para todos aqueles que Crerem em Cristo.

          A igreja não pode salvar nem outorgar salvação a ninguém, sendo ela mesma a beneficiária desta graça. Todavia, cabe à igreja a gloriosa tarefa de proclamar esta mensagem da qual ela mesma é uma testemunha a partir de sua própria existência: a igreja é o que é pela graça salvadora de Deus. Portanto, Deus não tornou a salvação uma mera possibilidade – que poderia ser realizada ou não. Ele a fez um fato real conforme o seu Plano eterno, por meio dos atos salvadores da Trindade.[2]

          Owen (1616-1683), interpreta:

Se Cristo apenas tivesse obtido os benefícios e não pudesse dá-los, então Sua morte talvez não salvasse ninguém. (…) Se uma coisa é obtida para mim, certamente deve ser minha por direito, e tudo o que for meu por direito, há de ser meu de fato. Portanto, a salvação que Cristo obteve há de pertencer àqueles para os quais Ele a obteve. Se é dito: ‘sim, mas é deles sob condição de crerem’, eu repito novamente: “mas a fé também é dada por Deus”.[3]

          Jesus Cristo veio para obter a salvação definitiva para o seu povo (Mt 1.21; Jo 3.16; 2Co 5.21; Gl 1.4; 1Tm 1.15; Hb 2.14-15). Ele cumpriu o seu propósito (Jo 10.27-28; Cl 1.21-22; Hb 1.3; 9.12-14; 1Pe 2.24; Ap 5.9-10).[4]

A Igreja evangeliza amparada nesta certeza: Deus salvará a todos aqueles que crerem em Jesus Cristo, recebendo-o como seu Senhor e Salvador. Deus salvará todo o seu povo. A salvação é uma prerrogativa exclusiva do Deus Trino. Deus levará adiante o Seu propósito. Ele é fiel; Ele honrará a Sua Palavra; nenhum dos crentes, pela graça, será deixado para trás. Este é a nossa certeza e conforto que nos conduz à proclamação desta doce e verdadeira Boa Nova. Há salvação para todos aqueles que, mediante a Palavra, receberem a Cristo como seu Senhor.

Maringá, 27 de setembro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] John R.W, Stott, Por que sou Cristão, Viçosa, MG.: Ultimato, 2004, p. 20.

[2]Vejam-se: R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 7-14; Idem., El Cuerpo Glorioso de Cristo, Grand Rapids, Michigan, SLC., 1985, p. 169-175; A.W. Pink, Deus é Soberano, p. 49ss., especialmente, p. 75-76; J. Owen, Por Quem Cristo Morreu?, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1986, p. 19-22.

[3]John Owen, Por Quem Cristo Morreu?, p. 33. J.I. Packer observa: “Cristo não obteve uma salvação hipotética para crentes hipotéticos, uma mera possibilidade de salvação para qualquer indivíduo que quisesse crer. Antes proveu uma salvação real para todo o seu povo escolhido” (O “Antigo” Evangelho, São Paulo: Fiel, 1986, p. 16). Vejam-se: Confissão de Westminster, X.1 e Catecismo Maior de Westminster, Perguntas 67 e 68.

[4] Veja-se: John Owen, Por Quem Cristo Morreu?, p. 29-32.

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