Teologia da Evangelização (62)

2.4.3.2.2.9.3. O Selo e o Penhor do Espírito

 “Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho (eu)agge/lion) da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados (sfragi/zw) com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor (a)rrabw/n) da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef 1.13-14).

          O Catecismo de Heidelberg (1563), em sua primeira pergunta, lemos:

          “Qual é o teu único conforto na vida e na morte?”

R. É que eu pertenço – corpo e alma, na vida e na morte – não a mim mesmo, mas a meu fiel Salvador, Jesus Cristo, que com o Seu precioso sangue pagou plenamente todos os meus pecados e me libertou completamente do domínio do Diabo; que Ele me protege tão bem, que sem a vontade de meu Pai no céu nenhum cabelo pode cair da minha cabeça; na verdade, que tudo deve adaptar-se ao Seu propósito para a minha salvação. Portanto, pelo Seu Santo Espírito, Ele também me garante a vida eterna e me faz querer estar pronto, de todo o coração, a viver para Ele daqui por diante.

          O Reino de Deus é o Reinado de Deus, o governo triunfante de Cristo sobre todas as coisas. “O Reino de Deus significa que Deus é Rei e age na história para trazer a história a um alvo divinamente determinado”.[1]

          Isto não é mera abstração de uma fé infundada, cujo único fundamento é a sua confiança no ilusório poder de si mesma. O Reino de Deus indica que há um Rei.  Todas as coisas existem porque Ele mesmo as criou e preserva. Mais: O Seu reinado envolve a realidade visível e invisível. As galáxias mais distantes, que nem sequer os mais potentes telescópios puderam vislumbrá-las; as mais simples e mesmo complexas vidas que habitam no fundo do oceano, em regiões quase inacessíveis aos homens, estão sob o controle de Deus.

As coisas quase imperceptíveis de forma significativa a nós: um pardal, as flores e o nosso cabelo que insiste em se ausentar sem o nosso consentimento, na maioria das vezes só percebida nas falhas que deixam, nada, coisa alguma escapa ao Seu domínio e sábio reinado. O reinado de Deus não é algo decorativo ou simbólico; antes, é real e grandemente confortador para os Seus filhos. O seu poderoso e amoroso domínio envolve graciosamente a nossa salvação, nos preservando em perseverança até o fim. Deus não apenas nos salva, mas, também, deseja que usufruamos do conforto da certeza subjetiva de que estamos seguros sob o Seu cuidado.

          Falar no Reino é apontar para a concretização do propósito de Deus em Cristo, libertando os homens do poder de Satanás, conduzindo-os à liberdade concedida por Cristo, o Senhor: “…. até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef 1.14). Esta certeza que emana da Palavra é altamente estimulante e confortadora para a Igreja. Ela deve produzir em nós uma atitude de gratidão que tenha reflexos em nosso culto e nossa ética.[2]

          Todos os que creem em Cristo como Seu Senhor e Salvador pessoal recebem definitivamente o Espírito Santo, o “Santo Espírito da Promessa”, sendo selados para o dia do juízo. A fé é selada pelo Espírito. O Espírito que fora prometido pelo Pai e pelo Filho, agora habita em nós, sendo Ele mesmo o agente do cumprimento das promessas (Ef 1.13/At 1.4,5; 2.33) e parte do cumprimento daquilo que Jesus Cristo prometeu (Jo 14.26; 16.7).[3] O Espírito que é o cumprimento da promessa certamente cumprirá o que Nele foi prometido.[4] Por isso Ele é chamado de Espírito da Promessa, Aquele que nos sela, sendo o nosso penhor; “é o dom da certeza”.[5]

          Paulo escreve aos Romanos: “…. O amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Rm 5.5).Anos mais tarde, exortaria a Timóteo: “Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita em nós” (2Tm 1.14).

  Maringá, 09 de setembro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] George E. Ladd, The Presence of the Future: The Eschatology of Biblical Realism, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, Revised Edition, 1974, p. 331.

[2] Ver: R.C. Sproul, O Que é Teologia Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 174.

[3]“…. o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26). “…. convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei” (Jo 16.7).

[4] Veja-se: W. Hendriksen, Efésios, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, (Ef 1.13), p. 117.

[5]Frederick D. Bruner, Teologia do Espírito Santo, São Paulo: Vida Nova, 1983, p. 209.

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