Teologia da Evangelização (165)

4.3.9. A Graça de Deus

Como vimos, a graça é um bem que nos incomoda. A salvação é uma declaração de nosso pecado e total impossibilidade de resolver o nosso crucial problema. A graça nos alegra e nos humilha. Creio que todos nós já tivemos sentimentos assim; contrastantes referentes à mesma questão.[1]

 O anúncio da graça fala de nosso desespero, de nossa incapacidade e, ao mesmo tempo, do amor gracioso, redentivo e invencível de Deus.

  Paulo, de despedindo dos presbíteros de Éfeso, entre outras coisas, demonstra saber que lhe aguardavam cadeias e tribulações por causa do Evangelho. Então arremata: “Porém, em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar (diamartu/romai) o evangelho da graça de Deus” (At 20.24).

  Conforme já estudamos, a Graça é o favor imerecido, manifestado livre, contínua e soberanamente por Deus aos pecadores que se encontravam num estado de depravação e miséria espirituais, merecendo o justo castigo pelos seus pecados (Rm 4.4/11.6; Ef 2.8-9).[2]

          O Evangelho é da graça porque nele encontramos o favor imerecido de Deus para com o homem – para com cada um de nós -, que merecia a condenação eterna. 

O nosso Deus é “O Deus de toda graça” (1Pe 5.10). Bem-aventurados são todos aqueles que vivem como súditos do Reino da graça de Deus.

          O Evangelho é uma mensagem da graça de Deus (At 20.24). Esta é uma proclamação fundamentalmente distintiva da Igreja.

          Deus confiou à Igreja o privilégio responsabilizador de testemunhar o Evangelho da graça (1Co 9.16; 2Tm 4.2). A graça de Deus age por meio da verdade (Cl 1.6). Deus mesmo confirma a sua Palavra (At 14.3). Deus não nos chamou a pregar as nossas opiniões ou hipóteses, mas sim a sua Palavra visto que, Ele age por intermédio dela (Jo 17.17; Rm 10.17; Cl 1.5,6).

          A Igreja é proclamadora da graça de Deus, tendo em sua existência histórica a concretude da graça: a Igreja, como vimos, é o monumento da graça soberana de Deus! (1Pe 2.9,10).

          A graça de Deus reina; todavia a sua manifestação mais completa dar-se-á na consumação da história, quando Cristo vier em glória, decretando definitivamente o triunfo da graça sobre o poder de Satanás, da morte e do pecado. Cristo será glorificado em nós e, nós seremos glorificados nele segundo a sua graça (2Ts 1.10-12; 1Pe 1.13; 1Co 15.57/2Co 2.14). Aqui então se tornará plenamente efetivo o “louvor da glória da sua graça” (Ef 1.6).

          A mensagem da igreja é de radiante alegria. A salvação chegou e está garantida por Deus, o Senhor da graça (1Pe 1.3-9).

 

4.3.10. A Preservação de Deus[3]

 “Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo….” (Rm 16.25).

          Paulo anunciava o “Evangelho de Deus” (Rm 1.1) e do Filho (Rm 1.9). O Evangelho não é uma vaga mensagem a respeito de Deus, antes pertence a Deus. Ele é o seu Autor e conteúdo.

          Portanto, a garantia da veracidade do Evangelho está  em Deus. A fidelidade de Paulo a esta Boa Nova que lhe fora confiada (Rm 1.5) o levava a chamar “meu evangelho”.[4]

          Essa mensagem é de perseverança: o Evangelho é o poder de Deus (Rm 1.16). Deus pelo seu poder nos confirma em santidade até o dia final (Jo 10.28-29; Fp 1.6; 2Ts 3.3; 1Pe 1.5; Jd 24-25). A mensagem do Evangelho é um desafio aos homens depositarem a sua fé exclusivamente em Deus, como o autor e consumador da salvação.[5]

Evangelizar é declarar o poder de Deus, que transforma os homens, unindo-os a si, preservando-os até o fim.

São Paulo, 09 de fevereiro de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Veja-se: Karl Barth, Esboço de uma Dogmática, São Paulo: Fonte Editorial, 2006, p. 23.

[2]“Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida“ (Rm 4.4). “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (Rm 11.6). “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9).

[3] Vejam-se: C.H. Spurgeon, Perseverança na Santidade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, [s.d.], 21p.; C.H. Spurgeon, Sermões Sobre a Salvação, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992, p. 9-16.

[4] “O Evangelho não é algo inventado pelas percepções dos profetas ou pregadores, mas esse Evangelho vem do próprio Deus. Ele o possui. É Sua propriedade. Portanto, quando proclamamos o Evangelho, estamos proclamando uma mensagem que não é nossa” (R.C. Sproul, O Pregador Mestre: In: R. Albert Mohler, Jr., et. al. Apascenta o meu rebanho: um apaixonado apelo em favor da pregação, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 95).

[5]Veja-se: J. Calvino, La Epistola del Apostol Pablo A Los Romanos, Grand Rapids, Michigan: Subcomision Literatura Cristiana de la Iglesia Cristiana Reformada, 1977 (Rm 16.25), p. 392-393.

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