Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (69)

Salmo 11

Tomemos o Salmo 11 como uma ilustração da compreensão da santidade Deus na vida de seus servos.

O salmista inicia o salmo com sua declaração de fé e confiança, resultantes, certamente, de sua extensa e intensa experiência espiritual: “No Senhor me refugio”(Sl 11.1).[1]

Ainda que muitos de seus amigos pudessem fazer declaração semelhante, a percepção do salmista a respeito de suas adversidades não era a única. Em suas cogitações e medo, em nenhum momento estes amigos conselheiros, ainda que bem intencionados, levam em consideração o nome de Deus.

As nossas palavras mesmo não sendo mentirosas, são limitadas na descrição do que sentimos, ou para distinguir as nuances da inteireza de sentimentos expressos por pessoas diferentes a respeito do mesmo assunto, ainda que se valendo de termos semelhantes.

Posso usar a palavra horrorosa para descrever uma pequena insatisfação com uma comida enquanto, que na realidade, quis apenas dizer que achei um pouco salgada. O meu colega pode usar a mesma expressão porque de fato, com gosto mais refinado, detestou o tempero que, em sua opinião, estragou todo o prato.

A avaliação estratégica de seus amigos, ainda que aparentemente sincera, foi regida pelo medo e senso de preservação, funcionando num plano puramente material. Quem poderia recriminá-los por isso? O cenário apresentado não era falseado ou descrito com cores exageradamente vivas, antes, refletia a realidade evidente: Os inimigos eram muitos, amavam a violência (5), tinham se preparado estrategicamente, estavam fortemente armados e em lugar com visão e proteção privilegiadas (2).

A concretude adversa da história por vezes faz diluir a nossa declaração eufórica de fé, contudo, sem fundamento seguro.

Isto se manifesta até mesmo em nossas declarações melódicas de fé quando afirmamos querer coisas maravilhosas, como ter um coração igual ao de Deus, viver de forma gloriosa, ser inundado pela glória do Senhor etc., e não pedimos a Deus que nos capacite a sentir alegria em permanecer no templo durante pouco mais de uma hora de culto, a sermos fieis na devolução de nossos dízimos, a trabalhar com alegria, tratar com dignidade as pessoas e as demais coisas que podem fazer parte de nossa humana rotina.

A fé deve me conduzir com naturalidade em minha percepção e ação cotidiana. Porém, parece, que só percebemos isso em momentos de crise. Na realidade, solidificamos em nossa fé nas pequenas e rotineiras decisões diárias. Quando atentamos para os mandamentos de Deus nas demandas da vida e corrigimos rotas à luz das Escrituras, evidenciamos a nossa fé nas promessas de Deus, demonstrando a seriedade com que consideramos a sua Palavra.

As aflições com frequência servem para testar a nossa fé, evidenciar as nossas carências e revelar a fragilidade de nossos ídolos que mantínhamos em segredo no íntimo de nosso coração.

Uma fé autoconfiante pode ser o caminho mais rápido para a evidente demonstração de sua fraqueza e, por vezes, não-fé.

Vamos demonstrar isso no próximo post.

Maringá,11 de junho de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Este Salmo tem conexão com os Salmos 5, 7, 10 e 17.

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