A Pessoa e Obra do Espírito Santo (78)

        G) Desejável

“São mais desejáveis (dmx) (hamad) (= agradável, preciosa, escolhida, prazerosa) do que ouro, mais do que muito ouro depurado….” (Sl 19.10).

    Devido à sua pureza, santidade e beleza, a Palavra de Deus é desejável. Ela se torna agradável dentro do propósito de nos conduzir a servir a Deus em santidade.

    Os nossos desejos revelam as nossas carências ou a falta de consciência do que temos. Quem ama a Deus deseja a sua Palavra, encontrando prazer em cumpri-la. A lei é para o salmista de valor supremo e incomparável. Quem deseja agradar a Deus tem desejo profundo por buscar o discernimento de sua Palavra a fim de vivenciá-la em sua vida.

    “Quando o reino é um tesouro, a submissão é um deleite. Ou, invertendo a ordem, quando a submissão é um deleite, o reino é exaltado como um tesouro”, comenta Piper.[1]

        H) Dulcíssima

                                                            “São mais doces  (qAtm’) (mathoq) do que o mel e o destilar (= gotejar) dos favos”(Sl 19.10) 

    No antigo Oriente, o açúcar não era algo abundante.[2] A referência ao mel era unívoca; todos entenderiam. No Salmo 119, a mesma analogia é feita:  “Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais que o mel à minha boca”(Sl 119.103/Pv 16.24). No banquete de Deus oferecido por meio de sua Palavra, tem até sobremesa; o mel com seu gosto agradabilíssimo e renovador.[3]

    Paladar tem muito a ver com educação e memória. Em geral gostamos de alimentos que estão associados à nossa educação: fomos criados comendo aquela – considerada agora – iguaria. Isto traz a questão da memória: um alimento, um lugar, um aroma. Com todos eles vêm elementos agregados, por vezes, totalmente desconhecidos ou irrelevantes ao estrangeiro deste universo repleto de símbolos.

    Em virtude do nosso pecado, a Palavra de Deus não soa agradável e doce ao nosso paladar. Precisamos, portanto, educar o nosso paladar espiritual para que aprendamos a nos agradar da Palavra de Deus. Para isso, necessitamos meditar nela, ingeri-la e digeri-la com assiduidade. Meditar na Palavra, praticá-la, crer nos seus ensinamentos. Somente assim poderemos aprender a sentir prazer na Lei do Senhor, como é descrito o homem bem-aventurado no Salmo 1: “Antes, o seu prazer (#pex’)(thaphets) está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite” (Sl 1.2).[4]

    Essa  meditação é centrada em Deus e em sua Palavra. Não é uma mera meditação introspectiva ou transcendental, mas centrada em Deus e dirigida por ele.[5]

    Em outro lugar o salmista diz: “Com efeito, os teus testemunhos são o meu prazer (#pex’)(thaphets), são os meus conselheiros  (hc'[e)(’eçah)(Sl 119.24).

    O homem que se compraz na lei do Senhor é bem-aventurado. Parte da bem-aventurança já é o deleite na Palavra de Deus: “Aleluia! Bem-aventurado o homem que teme ao SENHOR e se compraz (#pex’)(thaphets)nos seus mandamentos” (Sl 112.1).

    Por mais prazeroso que seja o estudo da Palavra, o maravilhar-se com a majestade de Deus revelada e a sua instrução, nem sempre temos o discernimento correto na aplicação desta lei absoluta aos nossos dilemas cotidianos. Daí a oração do salmista:“Guia-me pela vereda dos teus mandamentos, pois nela me comprazo (#pex’) (thaphets) (Sl 119.35).

    É preciso que cultivemos o hábito de ler a Palavra e descobrir dentro de um processo de aprendizado, o prazer em cumpri-la: Agrada-me (#pex’)(thaphets) fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei” (Sl 40.8).

    A Palavra de Deus sempre será doce para aqueles que querem agradar a Deus confiando nas suas promessas. “Mais me regozijo com o caminho dos teus testemunhos  (tWd[e) (`eduth) do que com todas as riquezas” (Sl 119.14).

    Maringá, 12 de dezembro de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]John Piper, A Supremacia de Deus na Pregação,  São Paulo: Shedd Publicações, 2003, p. 24.

[2] “Os únicos gêneros alimentícios doces, conhecidos na antiguidade, foram açucares naturais, do tipo frutose produzida, por exemplo, pelas tâmaras, damascos, uvas, ou mel produzido pelas abelhas” (W. White Jr., Mel: In: M.C. Tenney, org. ger., Enciclopédia da Bíblia, São Paulo: Cultura Cristã, 2008, v. 4, p. 207).

[3] A  figura da “sobremesa” foi tirada da obra de Francisco L. Schalkwijk, Meditações de um peregrino, São Paulo: Cultura Cristã, 2014, p. 18.

[4] Para uma abordagem mais completa referente ao prazer na Lei do Senhor, ver o Estudo no Salmo 1.

[5] Veja-se: Bruce K. Waltke; James M. Houston; Erica Moore, The Psalms as Christian Worship: A Historical Commentary,  Grand Rapids, MI.: Eerdmans, 2010, (Sl 1.2), p. 139.

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