A Pessoa e Obra do Espírito Santo (57)

                  4) Rei Eterno  (Continuação)

No Salmo 2, essencialmente messiânico, lemos:6Eu, porém, constituí (%s;n”) (nasak) (= estabeleci)[1] o meu Rei sobre o meu santo monte Sião. 7Proclamarei o decreto do SENHOR: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei” (Sl 2.6-7).

    O Reinado do Filho é de caráter eterno conforme o decreto estabelecido por Deus. A glória do Filho é eterna (Jo 17.5).[2] Jesus Cristo, o Messias, é Deus. Foi o Pai mesmo quem o constituiu. Esta constatação deve nos conduzir a uma fé reverente, não a uma curiosidade presunçosa.[3]

    O Reinado de Cristo é instituído e preservado pelo próprio Deus Pai.

    João Calvino escreve sobre esse ponto:

A doutrina da eterna duração do reino de Cristo é, portanto, aqui estabelecida, visto que ele não fora posto no trono pelo favor ou pelos sufrágios humanos, mas por Deus que, do céu, pôs a coroa real em sua cabeça, com suas próprias mãos.[4]

   Em Hebreus deparamo-nos com a citação do Salmo 2.7 para indicar a glória e majestade do Messias:

3 Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, 4 tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles. 5 Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei Pai, e ele me será Filho?” (Hb 1.3-5).[5]

No Apocalipse temos ecos do Salmo 2, na declaração da eternidade do Reino do Messias (Ap 1.5; 2.27; 12.5; 19.4-5, etc.).[6]

    Deus permanece no controle de todas as coisas, mesmo em meio à oposição dos presumidamente poderosos, que não conseguem entender que todo o seu poder não lhe é ontologicamente inerente, mas, provêm de Deus.

Em Atos, os discípulos orando, afirmam que a morte de Cristo e a consequente ressurreição estavam sob o controle do Pai: “Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram” (At 4.28).

    A morte de Cristo que parecia uma vitória de satanás sobre o Reinado do Senhor, não o foi, antes, constituiu-se na realização do propósito de Deus.[7] A ressurreição de Cristo é o coroamento dessa vitória. Sem a sua morte vicária, não haveria ressurreição, onde o poder de Deus se manifestou de maneira esplêndida.

    A ressurreição de Cristo sempre fez parte essencial da pregação apostólica indicando a relevância e profundidade de seu significado para a Igreja. Ela se constitui no alicerce da fé cristã e uma certeza que nos enche de uma viva esperança.

    Paulo pregando em Antioquia demonstra esta realidade citando inclusive o Salmo 2:

32 Nós vos anunciamos o evangelho da promessa feita a nossos pais, 33 como Deus a cumpriu plenamente a nós, seus filhos, ressuscitando a Jesus, como também está escrito no Salmo segundo: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei. 34 E, que Deus o ressuscitou dentre os mortos para que jamais voltasse à corrupção, desta maneira o disse: E cumprirei a vosso favor as santas e fiéis promessas feitas a Davi. 35 Por isso, também diz em outro Salmo: Não permitirás que o teu Santo veja corrupção. 36 Porque, na verdade, tendo Davi servido à sua própria geração, conforme o desígnio de Deus, adormeceu, foi para junto de seus pais e viu corrupção. 37 Porém aquele a quem Deus ressuscitou não viu corrupção. (At 13.32-37).

    Da mesma forma escreve aos Romanos: “E foi designado (o(ri/zw) (determinado, constituído, destinado)[8] Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 1.4).

    Maringá, 26 de novembro de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] *Sl 2.6; Pv. 8.23.

[2]“E, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (Jo 17.5).

[3] Veja-se: C.H. Spurgeon, El Tesoro de David, Barcelona: Libros CLIE, 1989, v. 1, (Sl 2.7), p. 21-22.

[4] João Calvino, O Livro dos Salmos,São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 21.2), p. 457-458.

[5] Cf. Peter C. Craigie; Marvin E. Tate, Psalms 1-50,2. ed. Waco: Thomas Nelson, Inc. (Word Biblical Commentary, v. 19), 2004, (Sl 2), p. 69; James M. Boice, Psalms: an expositional commentary, Grand Rapids, MI.: Baker Book House, 1994, v. 1, (Sl 2), p. 25-26; Willem A. VanGemeren, Psalms: In: Frank E. Gaebelein, gen. ed., The Expositor’s Bible Commentary, Grand Rapids, MI.: Zondervan, 1991, v. 5, p. 65-66; D.A. Carson, Jesus, o Filho de Deus: O título cristológico muitas vezes negligenciado, às vezes mal compreendido e atualmente questionado, São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 46ss. (Especialmente).

[6]“E da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra. Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados” (Ap 1.5),

[7] “A morte do Senhor Jesus Cristo na cruz do Calvário não foi um acidente; foi obra de Deus. Foi Deus quem o ‘manifestou’ ali” (David M. Lloyd-Jones, A cruz: A justificação de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1980, p. 3).

[8]*Lc 22.22; At 2.23; 10.42; 11.29; 17.26,31; Rm 1.4; Hb 4.7.

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