A Pessoa e Obra do Espírito Santo (306)

          2) Positivamente considerando (Continuação)

18) Apto para exortar e convencer

                     “Apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem” (Tt 1.9).

          Na Palavra encontramos os recursos que nos tornam “aptos”, “poderosos” (dunato/j = “poder”, “capaz”, “força”)[1] para “exortar” (parakalei=n[2] = “exortar”, “encorajar”, “rogar”, “admoestar”) pelo “reto ensino” (u(giai/nw = “estar são”, “estar com saúde” e didaskali/a = “doutrina”) e “convencer” (e)le/gxw = “reprovar”, “repreender”)[3] aos que se opõem, gostam de contradizer a Palavra. As Escrituras são adequadas para isso (2Tm 4.2): Ela edifica os crentes, anima-os, exorta-os e rebate os ataques dos que se aprazem em contradizer, em ser do contra.[4]

          Notemos então, como vimos, que a fonte da autoridade do presbítero para poder exortar e convencer, está na Palavra. Uma advertência para todos nós é: não tentemos realizar a nossa função fora da Palavra. A autoridade e poder provêm da Palavra de Deus. Não confundamos nossas opiniões com as Escrituras. A fonte de todo o nosso pensar e agir deve ser a Escritura, não simplesmente a nossa experiência de homens bem-sucedidos socialmente, amadurecidos e práticos.

          Conforme já vimos quando tratamos da praticidade da Palavra, a Escritura é útil e suficiente para o ensino e, também para corrigir, para refutar o erro e repreender o pecado (2Tm 3.16). O termo usado aqui para “convencer” (e)le/gxw) (Tt 1.9) já possuía um rico emprego na literatura secular,[5] significando, de modo especial:

          a) A exposição lógica e objetiva dos fatos de uma matéria, com o objetivo de refutar os argumentos de um oponente; daí a ideia de refutar e convencer.

          b) A correção do modo de viver dos homens, feita pela consciência, pela verdade ou por Deus.

          Uma ideia embutida na palavra grega é a de evidenciar o erro, expô-lo e trazê-lo à luz, objetivando corrigi-lo. Há na palavra o sentido de “disciplina educativa”; a educação e a correção devem caminhar juntas (Pv 3.11,12; Hb 12.5; Ap 3.19).

          Por isso, Paulo recomenda a Timóteo que pregue a Palavra, porque ela de fato é útil para a correção: “Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige(e)le/gxw), repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2Tm 4.2).

          Em outro lugar, Paulo insiste com Tito para que repreenda os falsos mestres a fim de que eles tenham uma fé sadia: “Portanto, repreende-os (e)le/gxw) severamente para que sejam sadios na fé” (Tt 1.13).[6]

Maringá, 01 de outubro de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]* Mt 19.26; 24.24; 26.39; Mc 9.23; 10.27; 13.32; 14.35,36; Lc 1.49; 14.31; 18.27; 24.19; At 2.24; 7.22; 11.17; 18.24; 20.16; 25.5; Rm 4.21; 9.22; 11.23; 12.18; 15.1; 1Co 1.26; 2Co 10.4; 12.10; 13.9; Gl 4.15; 2Tm 1.12; Tt 1.9; Hb 11.19; Tg 3.2

[2]O verbo parakale/w tem o sentido de: implorar (Mt 8.5; 18.29), suplicar (Mt 18.32); exortar (Lc 3.18; At 2.40; 11.23); conciliar (Lc 15.28); consolar (Lc 16.25; 15.32; 1Ts 5.11; 2Ts 2.17); confortar (2Co 1.4; 7.6); contemplar (2Co 1.4); convidar (At 8.31); pedir (At 9.38; 1Co 4.13; 16.15); pedir desculpas (At 16.39); fortalecer (At 20.2,12); solicitar (At 25.2; Fm 9,10); chamar (At 28.20); admoestar (1Co 4.16; Hb 10.25); recomendar (1Co 16.12; 2Co 8.6; 9.5; 1Tm 6.2).

            O escritor de Hebreus orienta os irmãos a exortarem-se mutuamente, para que todos perseverem firmes em sua fé: “…. Exortai-vos (parakale/w) mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado” (Hb 3.13); “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações (parakale/w) e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima” (Hb 10.25). Notemos que todos nós, irmanados na mesma fé e propósito, devemos estar comprometidos com o consolo, conforto, admoestação e estímulo aos nossos irmãos. Como família de Deus (Ef 2.19) estamos todos juntos e dependemos uns dos outros para permanecermos firmes, não desanimando. Somos família de Deus porque temos o mesmo Pai que nos gerou espiritualmente e nos instrui com vistas ao nosso amadurecimento pleno. A fraternidade cristã revela-se nesta atitude cooperante. Hoje exercitamos com o nosso irmão o conforto; amanhã somos alvo dessa palavra grandiosa e necessária em nossa caminhada.

            Judas escreveu com este propósito: “Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos (parakale/w) a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Jd 3).

[3]* Mt 18.15; Lc 3.19; Jo 3.20; 8.46; 16.8; 1Co 14.24; Ef 5.11,13; 1Tm 5.20; 2Tm 4.2; Tt 1.9,13; 2.15; Hb 12.5; Tg 2.9; Jd 15; Ap 3.19.

[4] “É um notável tributo à Palavra de Deus, quando o apóstolo diz que ela é adequada não só para governar os que se deixam instruir, mas também para quebrantar a oposição obstinada de seus inimigos. O poder da verdade divina é tal que facilmente prevalece contra todas as falsidades” (João Calvino, As Pastorais, (Tt 3.9), p. 314).

[5]Vejam-se: H.M.F. Buchsel, E)le/gxw: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, v. 2, p. 475; H.-G. Link, Culpa: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 1, p. 572.

[6]Para um estudo mais detalhado desta palavra, ver: Hermisten M.P. Costa, O Pai Nosso, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001.

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