A Pessoa e Obra do Espírito Santo (459)

6.4.13.5. Glorificando a Deus

Como temos enfatizado, a existência da Igreja como resultado da obra do Deus Trino glorifica a Deus. Somos o resultado da obra eterna de Deus que se manifesta na história até a consumação do Seu propósito glorificador “…. até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória (do/ca)(Ef 1.14). Quando Cristo regressar em glória (Mt 25.31; Mc 13.26) será glorificado na Sua Igreja a qual Ele criou, preservou e lhe conduziu à vitória.

            Deus é glorificado em nós (Jo 17.10/2Ts 1.10,12). A Igreja com todas as imperfeições, às quais não deve se acomodar, é uma expressão da multiforme graça de Deus, de sua sabedoria soberana e amor.

            Se considerarmos o que somos, certamente teremos uma visão diminuta da grandeza e beleza da Igreja. Contudo, se olharmos para o que éramos, do que seríamos capazes de fazer em nosso estado de total domínio do pecado, poderemos perceber então, ainda que parcialmente – já que a análise do que seríamos capazes de fazer dominados pelo pecado terá sempre em nós uma visão atenuada: a nossa depravação tende, aos nossos olhos, a ser menor do que a do outro – a beleza da igreja; o que Deus fez em nós; como nos tornamos seus filhos, seu povo.

            Calvino tem razão ao dizer: “A igreja (…) é um espelho no qual os anjos contemplam a portentosa sabedoria de Deus, a qual anteriormente não conheciam. Contemplam uma obra totalmente nova para eles, cuja forma estava oculta em Deus”.[1]

            A igreja é vocacionada a ser o que é: uma amostra claramente evidente do poder amoroso de Deus; como já dissemos: um monumento vivo e histórico da graça de Deus.

            A questão é, como podemos glorificar a Deus? Além das questões que temos analisado neste e em outros tópicos, destacamos:

a) Nas pequenas e grandes coisas: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória (do/ca) de Deus” (1Co 10.31).

            Nesta orientação Paulo amplia os parâmetros de nosso serviço e de nossa responsabilidade de glorificar a Deus. De certa forma, ele sacraliza as nossas atividades mais rotineiras tais como nos alimentar, mostrando que isso e tudo o mais deve ser feito para a glória de Deus.

            Deste modo, podemos perceber que a questão não está primeiramente no que fazemos, mas, como o fazemos. As coisas mais simples de nossa existência assumem uma configuração diferente quando entendemos que por meio delas podemos glorificar a Deus. Desta forma, o nosso trabalho, estudo, relacionamento, forma de tratar as pessoas e, por que não, até mesmo a forma como nos alimentamos podem ser meios de glorificação do nome de Deus. Como pode ser isso? Simples. Quando em todos estes atos contemplamos os princípios expressos em sua Palavra e procuramos privilegiá-la como objeto de nossa prática e consagração. Deus sempre é glorificado na obediência do seu povo.

b) Sendo-lhe agradecido: Tudo que temos procede de Deus. O espírito de gratidão sincera a Deus é uma forma de glorificar o Seu nome. O nosso louvor deve se dirigir unicamente a Ele. Calvino com acerto nos diz: “Quando Ele graciosamente nos concede todas as coisas, o desígnio para o qual Ele faz isso é este: para que Sua bondade se faça conhecida e enaltecida”.[2]

            Na cura dos dez leprosos narrada nos Evangelhos vemos o rápido esquecimento daqueles que foram beneficiados pela cura miraculosa operada pelo Senhor Jesus. No entanto, um deles revelou o espírito correto, procedente da genuína fé bíblica:

11De caminho para Jerusalém, passava Jesus pelo meio de Samaria e da Galileia. 12 Ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos, 13 que ficaram de longe e lhe gritaram, dizendo: Jesus, Mestre, compadece-te de nós! 14 Ao vê-los, disse-lhes Jesus: Ide e mostrai-vos aos sacerdotes. Aconteceu que, indo eles, foram purificados. 15 Um dos dez, vendo que fora curado, voltou, dando glória a Deus (doca/zw) em alta voz, 16 e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe; e este era samaritano. 17 Então, Jesus lhe perguntou: Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? 18 Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória (do/ca) a Deus, senão este estrangeiro? (Lc 17.11-18/Lc 18.35-43).

            Aqui aprendemos que a gratidão é uma forma de glorificar o nome de Deus. No entanto, não há pecado mais comum do que a ingratidão, sendo uma de suas formas, a atribuição das bênçãos de Deus à nossa capacidade.[3] É necessário que nos lembremos que a gratidão devida a Deus nada lhe acrescenta. Antes, nós é que somos aperfeiçoados em nossa maturidade espiritual na prática do que é justo e agradável diante de Deus.[4]

Paulo nos instrui dizendo que todas as coisas existem por causa da Igreja e, que esta, na consideração da graça de Deus, o glorifique. “Porque todas as coisas existem por amor de vós, para que a graça, multiplicando-se, torne abundantes as ações de graças por meio de muitos, para glória (do/ca) de Deus” (2Co 4.15).

c) Acolhendo nossos irmãos a fim de ajudá-los em suas necessidades:

Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos. 2 Portanto, cada um de nós agrade ao próximo no que é bom para edificação. 3 Porque também Cristo não se agradou a si mesmo; antes, como está escrito: As injúrias dos que te ultrajavam caíram sobre mim. 4 Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança. 5 Ora, o Deus da paciência e da consolação vos conceda o mesmo sentir de uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, 6 para que concordemente e a uma voz glorifiqueis (doca/zw) ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. 7 Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória (do/ca) de Deus. (Rm 15.1-7).

            Paulo referindo-se a Tito e a outro irmão, talvez Lucas – que estavam empenhados no socorro aos crentes da Judéia –, escreve aos coríntios: “E não só isto, mas foi também eleito pelas igrejas para ser nosso companheiro no desempenho desta graça ministrada por nós, para a glória (do/ca) do próprio Senhor e para mostrar a nossa boa vontade” (2Co 8.19).

            A atitude de Paulo e dos irmãos da Macedônia socorrendo as igrejas da Judéia redundou na glorificação de Deus por parte dos crentes daquela região:

12 Porque o serviço desta assistência não só supre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas graças a Deus, 13 visto como, na prova desta ministração, glorificam (doca/zw) a Deus pela obediência da vossa confissão quanto ao evangelho de Cristo e pela liberalidade com que contribuís para eles e para todos, 14 enquanto oram eles a vosso favor, com grande afeto, em virtude da superabundante graça de Deus que há em vós. (1Co 9.12-14).

d) Integridade em nosso comportamento: No Sermão do Monte, o Senhor Jesus Cristo ensina: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem (doca/zw) a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16).

            Pedro consola e instrui os fiéis: “Mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem (doca/zw) a Deus no dia da visitação” (1Pe 2.12).

e) Honrando o nosso corpo: Paulo respondendo às questões dos crentes de Corinto, demonstra a nossa identidade como povo de Deus e habitação do Espírito. Assim, instrui: “Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai (doca/zw) a Deus no vosso corpo” (1Co 6.20).

            A forma como nos alimentamos, cuidamos de nossa saúde e até mesmo nos vestimos, tem também uma conotação espiritual. Afinal, somos o templo de Deus, e, por meio do nosso corpo procuramos refletir a glória daquele que em nós habita.

f) Propagando a Palavra de Deus e orando pelos servos de Deus: Paulo pede aos tessalonicenses que orem por ele, para que continue pregando a Palavra, visto que neste processo de pregação e obediência Deus é glorificado: “Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada (doca/zw), como também está acontecendo entre vós; e para que sejamos livres dos homens perversos e maus; porque a fé não é de todos” (2Ts 3.1-2).

            As nossas orações intercessórias são instrumentos de Deus para a concretização de seu propósito no qual Ele é glorificado.

g) Paciência nas injustiças: A presença do Espírito da glória em nós é um motivo mais do que suficiente para nos consolar em meio às tribulações. Nos momentos de aflição tendemos a nos sentir humilhados, envergonhados, impotentes e sufocados.

            Quão estimulante é saber que em nós, nestas e em todas as circunstâncias, habita o Espírito da Glória de Deus. Portanto, nestas circunstâncias em especial, devemos continuar glorificando a Deus com nossa fidelidade e gratidão por Ele nos preservar firmes em situação tão adversa. Não nos envergonhemos, pois, diz Pedro, antes, glorifiquemos a Deus com nossa palavra e testemunho:

4Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória (doca/zw) e de Deus. 15 Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; 16 mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique (do/ca)[5] a Deus com esse nome. (1Pe 4.14-16).

Maringá, 15 de abril de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa



[1]João Calvino, Efésios, São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 3.10), p. 94.

[2]João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Parakletos, 2002, v. 3, (Sl 79.12), p. 261.

[3]Vejam-se: João Calvino, O Livro dos Salmos,São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 28.8), p. 608; Vol. 1, (Sl 8.4), p. 165-166.

[4] Veja-se: João Calvino, O Livro dos Salmos,v. 2, (Sl 40.9), p. 231-232.

[5]Conforme já mencionamos, aqui há uma variante textual. Em alguns documentos aparece doca/zw.

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