A Pessoa e Obra do Espírito Santo (452)

6.4.12.2. Revelação e pleno conhecimento de Deus (17)   (Continuação)     

No texto que estamos analisando, vemos que a oração do Apóstolo é no sentido de que Deus “….vos conceda espírito de sabedoria (sofi/a) e de revelação (a)poka/luyij) no pleno conhecimento (e)pi/gnwsij)[1] dele” (Ef 1.17).

            A ignorância sabida e insatisfeita pode ser um ingrediente maravilhoso em nosso desejo por santificação. Sei que não sei, mas, preciso saber. A ideia é de que sei o suficiente para saber que não sei e preciso saber. Isto nos impulsiona a crescer.

Este sentimento conduzido pelo Espírito, sem dúvida, é esplêndido para a vida cristã. Este tipo de raciocínio e conclusão já é uma operação da graça de Deus em nossas mentes e corações.

A consciência de nossa ignorância a respeito de Deus acompanhada pelo desejo sincero de conhecê-lo mais e mais, é graça. Sozinhos, não assistidos pelo Espírito, tendemos a achar que nos bastamos. O que é um grande equívoco de perspectiva e de conclusão. Ou, por outro lado, podemos ser levados por um espírito depressivo de ignorância e impossibilidade de avançar em qualquer direção.

Tanto a autossuficiência arrogante como a inação melancólica e depressiva, são sentimentos nocivos porque não correspondem à realidade de nossa vida e ao propósito de Deus para o homem criado à Sua imagem. Deus deseja que nos alegremos nele, em seu conhecimento e comunhão obediente (Fp 3.1; 4.4).     

A nossa ignorância quando se torna autojustificada produz uma insensata e suposta piedosa satisfação em não saber, acompanhada por um clima de insatisfação com o conhecimento da Palavra, que podemos julgar teórica ou apenas “da letra”.

O perigo é de simplesmente acomodar-nos em nossa ignorância e trazer todos ao nosso mesmo nível de acomodação. Assim, tornamo-nos vítimas da ignorância satisfeita. Criticamos quando não entendemos culpabilizando os que ensinam.

Ainda que, na realidade, deveríamos saber, nos dizemos “novos na fé”, “pessoas simples”, etc. Curiosamente, esta condição de neófito ou de humildade não nos impede de fazer críticas mordazes aos que procuram nos ensinar. Na realidade, não queremos crescer, estamos satisfeitos desse jeito; somos “pessoas humildes”. Há um perigo velado de nos orgulharmos em nossa ignorância sob o manto sagrado de uma suposta humildade. É desolador nos orgulharmos da ignorância do que deveríamos saber. Em geral isso nos torna críticos e arrogantes, contentes conosco mesmo, sob o disfarce de “simplicidade”.

Sempre desconfio de irmãos nossos que com um sorrisinho no canto da boca, dizem com certo prazer, próprio de quem transfere o seu fardo para o outro, que não entenderam nada. Em geral com ênfase na palavra nada.

 Este não é o propósito de Deus para seus filhos. Ele deseja que sejamos santificados por intermédio da sua Palavra que é a verdade, ensinada de forma verdadeira. Não há outro meio senão por intermédio da Palavra. Precisamos conhecer a Palavra e procurar, pela graça, vivenciá-la. Empregando uma figura do apóstolo Paulo, é necessário que nossa vida, seja um “ornamento”, uma espécie de decoração da doutrina (Tt 2.10).[2]

Quando nos desviamos da Palavra abrimos caminho para todo tipo de esquisitices espirituais. É preciso sempre manter-nos sintonizados na Palavra.

É por meio da Palavra que Deus nos santifica, fazendo-nos entender os Seus ensinamentos nos capacitando a aplicá-los em nossa realidade cotidiana. Percebam bem este ponto, conforme temos insistido: O conhecimento de Deus por intermédio da Palavra passa necessariamente por sua aplicação. Isso não significa buscar casuísmos interpretativos para, quem sabe, endossar o que queremos ou pensamos, mas, para, num ato de fé, vivenciar a Palavra em todas as esferas de nossa existência.

Conhecer a Deus é obedecer aos Seus mandamentos, rogando a Sua iluminação para aplicá-los às situações com as quais nos deparamos em nossa existência. Portanto, conhecer é obedecer; conhecer é praticar. E é justamente nesta prática confiante e submissa que mais nos aprofundaremos no conhecimento de Deus, desenvolvendo uma comunhão mais íntima e reverente com Ele.

            Um dos grandes propósitos de Satanás é manter-nos na ignorância, conduzindo-nos de forma desviante ao desejo por experiências distantes da Palavra ou, à semelhança dos gregos, a querermos uma sabedoria estéril ou, a seguir o modelo judeu desejando ver sinais. Todos estes atalhos nos afastam da verdadeira santificação que passa pelo conhecimento de Deus. Creio estar correto Graig ao escrever: “O empobrecimento intelectual em relação à fé pode levar ao empobrecimento espiritual”.[3]

            Paulo falando da luz gloriosa do Evangelho em apontar para Cristo, refere-se também ao estratagema e propósito de satanás:

Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus. (2Co 4.3-4).

            Deus não é conivente com o erro e a mentira. Todo o seu método está de acordo com a oração de Cristo: A santificação é pela Palavra de Deus que é a verdade (Jo 17.17).

São Paulo, 06 de abril de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]E))pi/gnwsij = “conhecimento intenso”, “conhecimento correto”. (*Rm 1.28; 3.20; 10.2; Ef 1.17; 4.13; Fp 1.9; Cl 1.9,10; 2.2; 3.10; 1Tm 2.4; 2Tm 2.25; 3.7; Tt 1.1; Fm 6; Hb 10.26; 2Pe 1.2,3,8; 2.20).

[2]“Não furtem; pelo contrário, deem prova de toda a fidelidade, a fim de ornarem (kosme/w) (= ornamentar, adornar, ataviar, decorar), em todas as coisas, a doutrina de Deus, nosso Salvador” (Tt 2.10). (Kosme/w. *Mt 12.44; 23.29; 25.7; Lc 11.25; 21.5; 1Tm 2.9; Tt 2.10; 1Pe 3.5; Ap 21.2,19). (Veja-se: Francisco L. Schalkwijk, Meditações de um peregrino, São Paulo: Cultura Cristã, 2014, p. 130).

[3] William L. Craig, A Verdade da Fé Cristã, São Paulo: Vida Nova, 2004, p. 14. “Pessoas que simplesmente andam na montanha-russa da experiência emocional estão roubando de si mesmas uma fé cristã mais rica e profunda ao negligenciar o lado intelectual dessa fé” (William L. Craig, A Verdade da Fé Cristã, São Paulo: Vida Nova, 2004. p. 14).

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