A Pessoa e Obra do Espírito Santo (334)

6.4.7.5.3. Os servos de Deus na igreja de Corinto  

Introdução   

Trabalhe e deixe-o [Deus] dar os frutos! ‒ Martinho Lutero (1483-1546).1 

Se atender à nossa vocação pode parecer difícil, em algumas circunstâncias, pode ser dificílimo permanecer nela. Uma das grandes tentações é nos desviar de nossa vocação. Aqui, por vezes, nos deparamos com algumas sérias questões: perseverança ou teimosia? Covardia ou sensatez? Manifestação da vontade de Deus ou sacralização do meu desejo? Tentação ou provação? 

Calvino entende que a consciência de nossa vocação nos dá um norte. Aliás, foi com este propósito que Deus concedeu a todos vocações para que não fiquemos à deriva, andando em círculos sem objetivos. Deste modo, ater-nos às nossas vocações é um princípio prático e objetivo de vida:  

Para que não sejam levados em volta às cegas por todo curso da vida, a cada um foi atribuída pelo Senhor [uma vocação], como se fosse um posto de serviço, sua forma de viver.2 

É bastante sabermos que a vocação do Senhor é em tudo o princípio e fundamento do agir correto, à qual quem não se reportar, jamais se aterá ao caminho reto em suas atividades.3  

A Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios é eminentemente prática, tratando de situações concretas que têm valor perpétuo para a vida da Igreja. À luz da Epístola e do Livro de Atos, analisemos preliminarmente alguns aspectos concernentes à Igreja e a sua relação com Paulo. 

Paulo chegou a Corinto entre os anos 49 e 52 AD. Este cálculo baseia-se no Édito de Cláudio 49 AD (At 18.2) e o Consulado de Lúcio Júnio Anaeu Gálio († c. 65), irmão do filósofo estoico Sêneca (At 18.12), que é colocado entre o ano de 51-52 AD. 

Paulo veio de Atenas com muita humildade (At 18.1; 1Co 2.1-3).4 Começou imediatamente a trabalhar com Áquila e a morar na casa dele (At 18.3). Ele pregava todos os sábados na sinagoga (At 18.4). Quando Silas e Timóteo chegam da Macedônia, Paulo pode se dedicar totalmente à pregação da Palavra (At 18.5). O apóstolo teve uma visão do Senhor que, pelo que fica subentendido, era um teste para a sua vocação ali, porque a impressão que se tem é de que Paulo desejasse ir embora (At 18.9-10). Ele trabalhou mais de 18 meses em Corinto (At 18.11,18/1Co 3.6; 4.15), e estabeleceu a Igreja (1Co 3.6; 4.15; 9.1-2). 

Primariamente, ao que parece, a Igreja passou a se reunir na casa de Áquila, e posteriormente, se estabeleceu na casa de Tício Justo (At 18.7). Conforme indicamos, ao longo dos anos, podemos perceber que a igreja sofria de uma profunda arrogância espiritual, estando dividida pela suposta possessão de dons maravilhosos, mas, na realidade, era imatura espiritualmente (1Co 3.1-9). 

  A igreja de Corinto estava confusa diante da mensagem do Evangelho, havendo alguns que desejavam sinais e outros, sabedoria. Paulo não acomodou sua pregação aos interesses de seus ouvintes, antes, apresentou a mensagem da cruz que é o poder de Deus e sabedoria dele, ainda que tal palavra soasse como escândalo e loucura (1Co 1).5 

No texto que lemos, Paulo fala sobre a infantilidade dos coríntios em suas facções, e revela o seu não crescimento espiritual. O apóstolo então, usa duas metáforas para comparar a Igreja: a lavoura e o edifício. Por meio destas imagens, ele nos fala a respeito da glória da Igreja de Cristo e do nosso trabalho. Primeiramente nos deteremos na primeira figura referida no verso 9, “lavoura de Deus… sois vós”.  

No próximo post começaremos a analisar alguns ensinamentos desta passagem:  

Maringá, 04 de novembro de 2021. 

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa 

[1]Martin Luther, Psalm 147: In: Jaroslav Pelican, ed., Luther’s Works, St. Louis: Concordia Publishing House, 1958, v. 14, p. 114.
Apud Gene Edward Veith, Jr., Deus em Ação, São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 117.
[2]João Calvino, As Institutas, III.10.6.
[3]João Calvino, As Institutas, III.10.6.
[4]Depois disto, deixando Paulo Atenas, partiu para Corinto” (At 18.1). “Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. 2 Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. 3 E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós” (1Co 2.1-3).
[5]“Muitos pregadores comprometem a sua vocação e se voltam às expectativas da cultura, por causa da perda de confiança nas Escrituras, da preocupação com as batalhas erradas e uma horrível falta de modelos excelentes” (Alistair Begg, Pregando para a Glória de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2014, p. 25).

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