A Pessoa e Obra do Espírito Santo (268)

6.4.5.3. É preservada por Cristo

                            “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).

          Creio que aqui há uma promessa que envolve conquista e preservação. Dentro desse semitismo, “as portas do inferno (da morte) não prevalecerão”, temos algumas possibilidades de interpretação. Parece-me que o sentido primário não é necessariamente de que as portas do inferno avançarão contra a igreja, ou, nem que as portas da morte iriam dominar ou separar a igreja, mas, que as portas do inferno (da morte) não resistirão à igreja em seu avanço na pregação do Evangelho libertando os homens do poder de satanás − a sua casa será invadida (Mc 3.27)[1] − para o Reino de Deus.

          Ninguém poderá deter a igreja em sua caminhada de fé (conquista). Também creio que há o aspecto defensivo (preservação). As portas da morte não vencerão a igreja a despeito de todas as armadilhas de satanás. Jesus, o Cristo, mesmo sofrendo e morrendo pelas mãos dos anciãos, ressuscitaria (Mt 16.21)[2] e continuará preservando o seu povo.

          Temos uma promessa com grande teor escatológico: Por meio da igreja que o Senhor edifica, o império das trevas não resistirá ao poder do Evangelho anunciado. O Senhor consumará a sua obra. A Igreja será guardada e preservada intacta (Rm 1.16/Cl 1.13/1Co 15.24/Ef 5.25-27; Jd 24-25).[3]

          Em síntese, a Igreja nesta vida se deparará sempre com as investidas do diabo que tentará bloquear o seu avanço e, se possível, destruí-la, mas, o Deus fiel a sustentará.

          Obviamente Jesus não está se referindo a uma igreja em particular, a uma denominação, mas sim, à sua Igreja, composta por todos aqueles que permanecem unidos a Cristo, “e que por um só Espírito guarda e observa a união da fé, junto com a concórdia e caridade fraterna”, escreve Calvino.[4]

          Aqui Jesus se refere provavelmente às tentativas de satanás, que se concentrarão na Igreja, visando destruí-la.

          Paulo fala dos “desígnios[5] de Satanás(2Co 2.11), indicando a ideia de que ele tem metas definidas, estratégias elaboradas, um programa de ação com variedades de técnicas e opções a serem aplicadas conforme as circunstâncias e a quem quer seduzir e o que tem em vista.

          Ele emprega toda a sua “energia” para realizar os seus propósitos. (At 13.10).[6] – indicando a ideia de que ele tem metas definidas, estratégias elaboradas, um programa de ação com variedades de técnicas e opções a serem aplicadas conforme as circunstâncias[7] – diz que “… O deus deste século cegou os entendimentos (no/hma) dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2Co 4.4).

Satanás “fará qualquer coisa para conseguir vantagem sobre nós, diz o apóstolo, fará qualquer coisa para derrubar-nos, para fazer-nos parecer ridículos e para pôr em desgraça o nome de Deus”, aplica Lloyd-Jones.[8] 

De fato, satanás tenta diante de nossos olhos, desconstruir o mundo de Deus, fazendo uma inversão de valores, revertendo o mal em bem e vice-versa. Ele é um ótimo marqueteiro, se propondo a vender o mundo forjado por ele – sem lei, princípios ou normas: totalmente depravado –, como o melhor, mais moderno, livre e eficaz. Por sua vez, o mundo de Deus com suas leis e princípios é descrito e, por fim, percebido como anormal, estranho, desatualizado e alienante. A sua proposta é apresentada como o caminho para o sucesso e a visibilidade.[9]

          Satanás age contra nós como um brilhante estrategista, buscando a melhor tática para nos vencer. “A astúcia é a grande característica do diabo”, conclui Lloyd-Jones.[10]

Maringá, 18 de agosto de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]“Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só então lhe saqueará a casa” (Mc 3.27).

[2]“Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia” (Mt 16.21).

[3] “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1.16). “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Cl 1.13). “E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder” (1Co 15.24). 25Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, 26para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, 27 para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Ef 5.25-27). 24 Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória, 25 ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém!” (Jd 24-25).

[4]Juan Calvino, Resposta ao Cardeal Sadoleto, 4. ed. Barcelona: Fundación Editorial de Literatura Reformada, 1990, p. 30-31.

[5]“Para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios (no/hma)(2Co 2.11). A palavra traduzida por “desígnio” (no/hma), ocorre cinco vezes no NT., sendo utilizada apenas por Paulo: 2Co 2.11; 3.14; 4.4; 10.5; 11.3; Fp 4.7, tendo o sentido de “plano” (Platão, Político,São Paulo: Abril Cultural (Os Pensadores, v. 3), 1972, 260d), “intenção maligna”, “intrigas”, “ardis”. Com exceção de Fp 4.7, a palavra sempre é usada negativamente no NT. No/hma é o resultado da atividade do nou=j (mente); (J. Behm, noe/w, etc. In: Gerhard Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament,Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), v. 4, p. 960). “É a faculdade geral do juízo, que pode tomar decisões e pronunciar certos ou errados os veredictos, conforme as influências às quais tem sido expostas” (J. Goetzmann, Razão: In: Colin Brown, ed. ger. ONovo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 4, p. 32).

[6]“Ó filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perverter os retos caminhos do Senhor?” (At 13.10). “Satanás aplica toda sua energia pra tirar qualquer coisa de Cristo” (João Calvino, O evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 1.3), p. 35).

[7] “Satanás não tem propósitos construtivos; suas táticas são simplesmente para contrariar a Deus e destruir os homens” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus,São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 82-83).

[8]D. M. Lloyd-Jones, O Combate Cristão, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 90.

[9] Veja-se: P. Andrew Sandlin, Deus decide o que é normal, Brasília, DF.: Editora Monergismo, 2021, p. 9-11.  (Edição do Kindle).

[10] D.M. Lloyd-Jones, O Combate Cristão, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 75.

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