A Pessoa e Obra do Espírito Santo (269)

          6.4.5.3. É preservada por Cristo (Continuação)

Sem dúvida, a grande arma de Satanás é a sagacidade, a astúcia, a artimanha, o ardil. Isto faz com que ele aja de forma variada, tenha um repertório multiforme, sinistro de ataques. A sua força está de modo especial na sua inteligência, associada à sua perspicácia, que foram desenvolvidas ao longo de séculos de história.

A história da maldade humana tem em satanás um grande mentor e aprendiz. Ele age de forma “criativa” testando as suas técnicas e vai se especializando conforme os resultados que obtém. Ele sabe se valer como ninguém de suas vitórias e fracassos.  O seu alimento é o seu ódio a Deus e, por extensão à sua Igreja.

          Murray escreve:

Satanás possui habilidades intelectuais muito mais elevadas do que qualquer homem possa ter. Onde o orgulho se mostra evidente, podemos estar certos de que Satanás encontrou uma porta. É ele quem deseja que os homens sejam idolatrados e considerados como celebridades.[1]

Paulo, interpretando o acontecimento histórico registrado em Gênesis, diz: “Mas receio que, assim como a serpente enganou (e)capata/w = desviou, seduziu, desencaminhou) a Eva com a sua astúcia (panourgi/a[2] = “ardil”, “truque”, “maquinação”, “trapaça”), assim também sejam corrompidas as vossas mentes, e se apartem da simplicidade e pureza devidas a Cristo” (2Co 11.3). 

          Um dos métodos de Satanás, é aproveitar a nossa distração. Quando relaxamos a nossa defesa em determinado ponto, ali tornar-se-á a sua prioridade. Satanás sabe escolher e manusear com sagacidade as suas armas. Como disse Spurgeon (1834-1892): “Se você for um gigante, ele não vai aparecer diante de você com estilingue e uma pedra. Virá armado até os dentes para derrubá-lo”.[3]

          Aliás, este fato vem indicar que Satanás não é uma força impessoal; uma força não planeja, não faz tramas, nem arma ciladas; isto é próprio de um ser pessoal. O seu nome Satana=j[4] indica de fato aquilo que ele é: “O adversário”.

          Ele prepara ciladas para que, dominados por ele, façamos a sua vontade. Paulo exorta aos efésios: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus,[5] para poderdes ficar firmes contra as ciladas (meqode/ia)[6]do diabo”(Ef 6.11).

          Esta palavra envolve um “plano ou sistema deliberado”.  Ela é da mesma raiz da nossa palavra “método” (me/qodoj).[7] As ciladas de Satanás visam sempre nos induzir ao erro. Ele, portanto, atua de forma metódica, seguindo sempre um plano para obter êxito nos seus propósitos.

          Paulo, falando dos critérios necessários para o presbiterato, diz: É necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço (pagi/j)[8]do diabo”(1Tm 3.7). Nos laços e armadilhas preparados pelo diabo.

          Não é à toa que no Apocalipse, Satanás é denominado de “o sedutor (plana/w) (= enganador, extraviador, desencaminhador) de todo o mundo”(Ap 12.9).

Maringá, 18 de agosto de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Iain Murray, Como a Escócia perdeu sua firmeza na Palavra: In: John F. MacArthur, org.,  A Palavra Inerrante, São Paulo: Cultura Cristã, 2018, [p. 149-171], p. 162.

[2]Ocorre 5 vezes no NT.: Lc 20.23; 1Co 3.19; 2Co 4.2; 11.3; Ef 4.14.

[3]C.H. Spurgeon, Um Antídoto contra os Artifícios de Satanás: In: Bruce H. Wilkinson, ed. ger. Vitória sobre a Tentação, 2. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1999, p. 184.

[4] NT. * Mc 1.13; At 26.18; 2Co 2.11; 12.7; 2Ts 2.9; 1Tm 5.15; Ap 2.9,13; 3.9.

[5]Quanto à armadura romana e o treinamento do exército, Veja-se: Flavio Josefo, La Guerras de los Judios, Barcelona: CLIE., [1985], Tomo I, III.3. p. 311ss.

[6] A palavra “cilada” significa, “tramas”, “ardis”, “maquinações”, “astúcia”. [* Ef. 4.14 (aqui traduzida por “induzir” (ARA); “enganar” (ARC); 6.11]. Este é o significado original da palavra, variando conforme a conjunção com outras (Veja-se: entre outras obras, H.E. Dana; Julius R. Mantey, Manual de Gramatica del Nuevo Testamento Griego,Buenos Aires: Casa Bautista de Publicaciones, 1975, p. 104-105).  Meqode/ia é da mesma raiz da nossa palavra “método”, que também provém do grego me/qodoj, termo formado por meta/ (“no meio de”, “no centro de”) e o(do/j (“caminho”). Em Aristóteles (384-322) a palavra (me/qodoj) tinha o sentido de “investigação”, sendo por vezes usada como sinônimo de “teoria” (qewri/a) e “ciência” (e)pisth/mh).(Veja-se: Aristóteles, Física,III, 1; 200 b 13; VII, 1; 251 a 7, etc. Cf. Método: In: A. Lalande, Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia, São Paulo: Martins Fontes, 1993, p. 678. [Observações de R. Eucken e J. Lachelier]). Etimologicamente, portanto, método é o emprego de um caminho, andar dentro e por meio dele. Podemos definir operacionalmente método, como o conjunto de elementos e processos necessários a se obter determinado objetivo. É o caminho para a consecução de um objetivo proposto. Lalande (1867-1963) acentua que etimologicamente a palavra significa demanda e, “por consequência, esforço para atingir um fim, investigação, estudo” (Método: A. Lalande, Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia, p. 678).

[7] Esta não ocorre nas Escrituras.

[8] pagi/j significa “armadilha”, “rede”, “laço” [* Lc 21.34 (ARA) na ACR e BJ, no verso 35; Rm 11.9; 1Tm 3.7; 6.9; 2Tm 2.26].

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