A Pessoa e Obra do Espírito Santo (249)

6.3.10.1. Uma bendita convicção (Continuação)

Esta doutrina está relacionada a diversas outras doutrinas bíblicas. Como a nossa abordagem não tem a pretensão a ser exaustiva, indicarei apenas alguns textos bíblicos relacionados ao nosso assunto e, no momento próprio retornaremos a alguns deles.

João 3.36:   Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.

 João 4.14: Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna.

João 5.24: Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.

João 6.37-40: 37 Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora. 38 Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou. 39 E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. 40 De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.

João 10.27-30; 44-45, 65: 27 As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. 28 Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. 29 Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar.30 Eu e o Pai somos um. (…) 44 Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. 45 Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim. (…) 65 E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido.

João 17.11-12: 11 Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo, ao passo que eu vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, que me deste, para que eles sejam um, assim como nós. 12 Quando eu estava com eles, guardava-os no teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura.

Rm 8.1: Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.

Romanos 8.29-30:  29 Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. 30 E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.

Romanos 8:35-39:  35 Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? 36 Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. 37 Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. 38 Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, 39 nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.

1 Coríntios 1.8-9: 8 o qual também vos confirmará até ao fim, para serdes irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo. 9 Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor.

2 Coríntios 1.21-22: 21 Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo e nos ungiu é Deus, 22 que também nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nosso coração.

Efésios 1.12-14:  12 a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; 13 em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; 14 o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.

Efésios 4.30: E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção.

2 Timóteo 4.18: O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém!

1 Pedro 1.3-5: 3 Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, 4 para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros 5 que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo.

1 João 2.19: Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos.

1 João 5.4,11:  4 porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. 11 E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho.

1Jo 5.13:  Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus.

Judas 24-25: 24 Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória, 25 ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém!

          Devido às nossas limitações, que incluem falta de planejamento, previsão orçamentária, inconstância e vários outros impedimentos, muito do que idealizamos não se concretiza. Podemos falar isto no plano institucional – grandes obras inacabadas, por exemplo – e no campo pessoal – cursos incompletos, projetos abandonados, empreendimentos interrompidos, economia insuficiente, etc.

          Todos estamos sujeitos a determinadas indefinições e, certamente, não é estranho a nenhum de nós em alguma medida, a frustração na concretização de algum projeto ainda que bastante modesto.

          Quando Paulo estava preso em Roma, escreveu uma carta à igreja de Filipos. Esta igreja era bastante generosa. Vivia agora uma fase de perseguição (Fp 1.29). Diz então: Estou plenamente certo (pei/qw)[1] de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la (e)pitele/w)[2] até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).[3]

          Paulo se refere à “boa obra” de quem? Ele fez uma obra notável em Filipos. Pelo Espírito ele desviou a sua rota, levou o Evangelho para a Europa, pregou, pessoas se converteram, começou uma igreja na cidade e, agora, cerca de 10 anos depois permanecia viva e atuante. A igreja também fazia uma boa obra cuidando do apóstolo e das igrejas necessitadas na Judéia (Fp 1.5,7; 4.10-18; 2Co 8.1-4).

          No entanto, ele não está se referindo à sua “boa obra” ou à “boa obra” dos filipenses, antes, trata da boa obra de Deus. Deus podia ter operado, como de fato fez, por meio dele e Silas, contudo, a obra é sempre de Deus.[4] Esta é a sua convicção e alegria.

          Paulo está inteiramente convicto de que Deus, aquele que começou a obra por nós,  há de completá-la também em nós. Ele sabe quem é o seu Deus. Quando olha a história do surgimento da igreja de Filipos, além do modo excepcional como o Espírito o encaminhou para ali, certamente há algo muito específico que aconteceu que é uma amostragem concreta da forma ordinária de Deus agir. A boa obra de Deus, mesmo em nós, tem início muito antes de nossa consciência de sua operação.

A graça preveniente se antecipa a nós em amor e bondade, preparando as ocasiões e circunstâncias para que ouçamos o Evangelho e, regenerados por graça, creiamos na mensagem de salvação. A graça amorosa de Deus se antecipa a nós e torna o nosso amor possível (Jo 3.16; Rm 5.6-10; 2Co 8.9; 1Jo 4.7,10,19).

          Como vimos, a vocação é um ato exclusivo de Deus. O seu chamado não é inócuo. Ele é poderoso para levar adiante o seu decreto redentor (Rm 8.30; 1Co 1.9; 2Tm 1.9; Jo 6.44; 10.27; 16.13-14; Rm 4.17).

          Retornando ao texto (Fp 1.6), destacamos que a palavra grega (e)pitele/w) além do sentido de completar (Fp 1.6; 2Co 8.6,11), tem também o de concluir (Rm 15.28); levar a termo(2Co 8.11); aperfeiçoar (2Co 7.1; Gl 3.3); construir (Hb 8.5); realizar (Hb 9.6); cumprir (1Pe 5.9).

          Paulo está persuadido, convencido, confiante e tranquilo[5] no que concerne ao aperfeiçoamento e consumação da salvação dos filipenses. O Espírito que habita em nós, cuida de sua casa em nós, preservando-a em santidade.[6]

          Uma convicção que podemos e devemos ter quanto à nossa salvação é que Deus, aquele que começou a boa obra a nosso favor (elegendo, vocacionando, concedendo-nos fé, justificando, adotando, etc.), nos aperfeiçoará, nos confirmando pela graça até o fim (Fp 1.6/Jo 10.28; 1Pe 1.5).

Ninguém será deixado no meio do caminho![7] Ninguém será deixado para trás. “A salvação é obra de Deus do princípio ao fim; portanto, onde ela começou, certamente se completará”, conclui Bruce (1910-1990)[8]

          A doutrina da perseverança dos santos nos fala não de uma perseverança de alguns dias, meses, ou muitos anos, antes, a de sermos preservados em perseverança até o fim, unido a Cristo em obediência à sua Palavra.[9]

          Uma figura que pode refletir bem o que Paulo, inspirado por Deus nos ensinou, é a utilizada por Meyer (1847-1929):

Entramos no ateliê do artista e lá encontramos pinturas inacabadas cobrindo grandes telas e sugerindo grandes projetos, mas que foram abandonados, seja porque o gênio não foi competente para concluir o trabalho ou porque a paralisia pôs morte em sua mão; mas quando entramos na grande oficina de Deus, não encontramos coisa alguma que possua uma marca de pressa ou de insuficiência de poder para terminá-la e temos a certeza de que a obra que Sua graça começou há de ser completada pelo braço de sua força.[10]

          Vejamos alguns aspectos desta perseverança que nos falam de um grandioso conforto resultante da graça de Deus e de nossa responsabilidade como povo de Deus.

Maringá, 28 de julho de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Curiosamente onde Paulo mais usa este verbo é na Epístola aos Filipenses (Fp 1.6,14,25; 2.24; 3.3,4).

[2]Conforme já indicamos, a palavra grega além do sentido de completar (Fp 1.6; 2Co 8.6,11), tem também o de concluir (Rm 15.28); aperfeiçoar (2Co 7.1; Gl 3.3); construir (Hb 8.5); realizar (Hb 9.6); cumprir (1Pe 5.9).

[3] “A graça começa, continua e termina a obra da salvação no coração de uma pessoa” (C.H. Spurgeon, Sermões Sobre a Salvação,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992, p. 45). “… Em sua inteireza a nossa salvação procede do Senhor. É sua realização. Ele mesmo apresenta Sua noiva a Si mesmo por que ninguém mais pode fazê-lo, ninguém mais é competente para fazê-lo. Somente Ele pode fazê-lo. Ele fez tudo por nós, do princípio ao fim, e concluirá a obra apresentando-nos a Si mesmo com toda esta glória aqui descrita” (D.M. Lloyd-Jones, Vida No Espírito: No Casamento, no Lar e no Trabalho, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, (Ef 5.27), p. 137). Do mesmo modo acentua Murray: “A salvação é do Senhor, tanto em sua aplicação como em sua concepção e realização” (John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada,São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 98). Vejam-se, R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo,Michigan: Subcomision Literatura Cristiana de la Iglesia Cristiana Reformada, 1985, p. 169ss; 177ss.; C.H. Spurgeon, Sermões Sobre a Salvação,p. 12ss.

[4] A ênfase é no que Deus está fazendo neles (filipenses), e não por meio deles (Paulo e Silas). (Veja-se: Gordon D. Fee, Comentario de la Epístola a Los Filipenses, Barcelona: Editorial CLIE, 2004, (Fp 1.6), p. 135).

[5] O mesmo verbo, peiqw, é traduzido em 1Jo 3.19 por “tranquilizaremos”.

[6] Veja-se: Thomas Watson, A Fé Cristã, estudos baseados no breve catecismo de Westminster, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 322-323.

[7]Veja-se: C.H. Spurgeon, Sermões Sobre a Salvação, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992, p. 12.

[8]F.F. Bruce, Filipenses, Florida: Editora Vida, 1992, (Fp 1.3-6), p. 42. “Deus jamais começa uma obra e a deixa inacabada; seria uma contradição do Seu Senhor” (D. Martyn Lloyd-Jones, A Vida de Alegria, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2008, p. 47).

[9]“A prova crucial de fé verdadeira é perseverar até ao fim, permanecendo em Cristo e se conservando em sua palavra” (John Murray,Redenção: Consumada e Aplicada,São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 168).

[10]F.B. Meyer, The Epistle to the Philippians: A devotional commentary, Fourth impression, London: The Religious Tract Society, © 1905, 1912, p. 28.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *