A Pessoa e Obra do Espírito Santo (182)

6.3.5. Arrependimento para a vida (Continuação)

As nossas racionalizações complementadas por alguns comprimidos podem servir como paliativos durante algum tempo, contudo, não atingem o cerne do problema; elas não resolvem a questão do pecado e consequentemente da culpa.

Aliás, o sentimento de culpa pode ser uma das bênçãos de Deus para que não nos entreguemos totalmente ao pecado. A culpa, nestes casos, é graça! Deus opera desta forma conduzindo-nos, pelo Espírito Santo, de volta a Ele mesmo.

O Senhor usou o profeta Natã como seu instrumento para proferir a Palavra de Deus, não as suas opiniões ou teorias. Somente a Palavra  pode curar nossas feridas restaurando a nossa alma. E, não há restauração espiritual sem o retorno a Deus; à nossa restauração primeira à comunhão com Deus.

O painel da culpa ou o indicativo de uma necessidade?

          Se você estiver conduzindo o seu automóvel em uma estrada e o painel do óleo começa a piscar, o que você faria para resolver aquele incômodo? Pararia o carro com a firme possibilidade em mente de acionar o seguro? Ou, procuraria localizar o fusível do painel que permite aquela luz que tanto me incomoda se acenda?

Psicologia e Pregação

Culpa é um conceito legal resultante de uma condenação pelo fato de ter-se quebrado uma lei.[1] Não há genuína culpa sem um padrão, e a sua transgressão. As Escrituras nos ensinam que todos nós como seres responsáveis que somos, tornamo-nos culpados por transgredir a sua lei (Jo 8.34; Rm 5.12; 6.23; Ef 2.1).

As psicologias,  que obviamente, não são más si, que invadiram os nossos púlpitos, em parte pela ausência de pessoas habilitadas para expor as Escrituras com autoridade e integridade, se misturaram com a teologia de tal forma, que conceitos, por vezes, totalmente estranhos à Palavra são difundidos com naturalidade sem que nem ao menos percebamos.

Lamento isso mas, o que tenho observado ao longo dos anos, é que ministros inseguros teologicamente, ou por fazerem um curso malfeito, desinteresse teológico, mentes equívocas, gosto por surfar nas ondas dos modismos ou, por pura inabilidade teológica, quando se enveredam por outras áreas de estudo, o que poderia ser de grande utilidade para o seu pastorado, tende a se constituir no assunto recorrente de seus sermões, em geral, vazios de conceitos bíblicos.

Quando muito, as Escrituras servem apenas para convalidar temas requentados de suas áreas de maior atuação. O púlpito, nesses casos, virou um mero biscate (bico) “gambiárrico” de sobrevivência. A Igreja, então, sofre de inanição, buscando subterfúgios para complementar a sua carência. Nesses casos, o “Centrum” pode ser um bom complemento. Contudo, quando os fiéis não são bem instruídos na Palavra e nos seus Símbolos de Fé, quase nunca conseguem discernir o “Centrum Select” proveniente da Palavra,  do “Dramin” que tira o enjoo e proporciona um sono quase irresistível. Além do que, aquele se torna cada vez mais raro.

Um dos conceitos propalados nesta psicologização tão popular e, ao mesmo tempo, maléfica, é de que devemos eliminar o sentimento de culpa. Outro ensinamento associado a esse, é o da importância de cultivarmos uma autoestima. Como se a sensação de não termos culpa ou promover um alto conceito de nós mesmos mudasse a realidade do que somos.

Sem dúvida, a culpa psicológica, que pode perdurar pela falsa ideia de pecado ou, pela compreensão equivocada da obra expiatória de Cristo e do completo perdão de Deus, deve ser superada biblicamente.[2]

No entanto, a autoestima não irá vencer o genuíno sentimento de culpa resultante de um pecado real. Somente o Evangelho pode nos mostrar o que realmente somos e como podemos nos tornar em Cristo.

Martin Buber (1878-1965), tem um insight muito perspicaz:

Se Deus faz essa pergunta [“Onde você está?], Ele não quer saber algo que ainda não saiba sobre a pessoa; Ele quer provocar alguma coisa nessa pessoa, algo que só pode ser provocado dessa maneira – com a condição de que a pergunta atinja o coração da pessoa, de que a pessoa se permita ser atingida no coração.

Adão se esconde para não ter de dar satisfações, para escapar da responsabilidade em relação à própria vida. Dessa maneira, todos os homens se escondem, pois todos são Adão e estão na situação de Adão. Para escapar da responsabilidade por sua vida, a existência é transformada num sistema de esconderijos.[3]

Sentimento de culpa como bênção

É necessário que se diga que o problema humano não é a culpa mas, sim, o pecado. Tendemos a criticar as consequências de nossos atos ignorando que a sequência é decorrente de escolhas nossas. Devemos considerar também, que o sentimento de culpa não é necessariamente resultante do pecado mas, da graça restauradora de Deus que deseja nos conduzir ao arrependimento de nossos pecados.

Por isso, uma das consequências do pecado é a culpa. “Quando Adão e Eva cometeram sua primeira transgressão, a vergonha e a culpa foram sentidas pela primeira vez na história humana”, escreve Sproul.[4] Ele está correto à luz do que escreve Paulo:  “Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável  (*u(po/dikoj)[5] perante Deus” (Rm 3.19).

O pecado não é uma invenção cristã, antes é a realidade do homem após a Queda, quando nossos primeiros Pais desobedeceram a Deus resultando tal ato em vergonha e culpa.

Maringá, 09 de maio de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Veja-se: Culpa: In: Carl F.H. Henry, org. Dicionário de Ética Cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 152-153.

[2] Sobre esses pontos, veja-se: Francis A. Schaeffer, Verdadeira espiritualidade, São Paulo: Editora Fiel, 1980, p. 144-156.

[3]Martin Buber, O caminho do homem segundo o ensinamento chassídico, São Paulo: É Realizações, 2011, p. 10.

[4]R.C. Sproul, Estudos bíblicos expositivos em Romanos,  São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 109.

[5] Termo jurídico que indica alguém evidentemente culpado, já não havendo possibilidade de defesa.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *