A Pessoa e Obra do Espírito Santo (13)

5. A Procedência do Espírito Santo

            O Espírito Santo é chamado de Espírito do Pai (Mt 10.20; Lc 11.13; 1Co 6.19; 1Ts 4.8) e Espírito do Filho (Gl 4.6; Fp 1.19; 1Pe 1.11), sendo enviado por Deus (At 5.32): Pai(Jo 14.26; Gl 4.6) e Filho(Jo 15.26).

            Segundo me parece, o texto que mais especificamente trata desta relação Trinitária é o de Romanos, quando Paulo diz:       “Vós porém, não estais na carne, mas no Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vós. E se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8.9).

            Paulo estabelece uma relação de identificação entre o Espírito de Deus e o Espírito de Cristo, que é um e o mesmo Espírito que habita em nós e nos identifica como propriedade de Deus e de Cristo. (Vejam-se também: 2Co 1.21,22; 5.5; Ef 1.13,14; 4.4,30). “O mesmo Espírito é comum ao Pai e ao Filho, o qual é com eles de uma só essência e possui a mesma Deidade eterna”, explica Calvino.[1]

            A relação Trinitária foi compreendida pela Igreja da seguinte forma: Quando falamos do Filho em relação ao Pai, dizemos que aquele é gerado( gennhqe/nta) do Pai e quando nos referimos ao Espírito, declaramos que Ele é procedente (e)kporeuo/menon)[2] do Pai e do Filho.[3]

            Esta relação ocorre eternamente, sem princípio nem fim, jamais havendo qualquer tipo de mudança na essência (ou)si/a) divina,[4] nem qualquer tipo de subordinação ontológica.

            Hodge explica:

 A subordinação pretendida consiste apenas naquilo que concerne ao modo de subsistência e operação, implícito nos fatos bíblicos de que o Filho procede do Pai, e o Espírito procede do Pai e do Filho, e de que o Pai opera através do Filho, e o Pai e o Filho operam através do Espírito.[5]

            Portanto, a subordinação não é ontológica (“imanente”)[6] mas sim existencial (econômica). Deste modo, a nomenclatura Pai, Filho e Espírito Santo, é apenas um designativo que implica uma correlação intertrinitária que é necessária e eterna, não uma primazia de essência, no que resultaria em diferenças de honra e glória.[7] Insisto: a relação Trinitária tem sido compreendida pela Igreja como uma procedência eterna e necessária, do Espírito da parte do Pai e do Filho.

            O Quarto Concílio Ecumênico, realizado em Calcedônia (8-31/10/451) ratificou o Credo de Nicéia (325) e o de Constantinopla (381). O seu objetivo era estabelecer uma unidade teológica na Igreja. Apesar de sua preocupação dominante ser concernente às questões referentes ao Filho, encontramos na sua declaração termos que se tornaram padrão dentro da teologia para se referirem à Trindade.

            Segue abaixo o Símbolo de Calcedônia:[8]

            Portanto, seguindo os santos Pais, todos nós, em perfeito acordo, ensinamos que se deve confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito na Deidade e também perfeito na humanidade; verdadeiro Deus e verdadeiro homem,[9] de alma racional (Yuxh\ logikh/)[10] e corpo, consubstancial (o(moou/sioj)[11] ao Pai na Divindade e consubstancial (o(moou/sioj) a nós na humanidade, ‘em todas as coisas semelhante a nós, exceto no pecado’;[12] gerado antes de todas as eras pelo Pai quanto à Sua Divindade, e nos últimos dias, por nós e para nossa salvação, nasceu da Virgem Maria, a Mãe de Deus (Qeoto/koj),[13] quanto à Sua humanidade; um e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, sendo conhecido em duas naturezas, inconfundíveis (a)sugxu/twj),[14] imutáveis (a)tre/ptwj),[15] indivisíveis (a)diaire/twj),[16] inseparáveis (a)xwri/stwj);[17] a distinção das duas naturezas de modo algum é anulada pela união, mas as propriedades de cada natureza são preservadas, e concorrem em uma Pessoa (Pro/swpon)[18] e uma Subsistência (u(/po/stasij),[19] não separada ou dividida em duas pessoas (Pro/swpon), porém um e o mesmo Filho, Unigênito, Verbo de Deus, o Senhor Jesus Cristo, conforme os profetas do passado e o próprio Senhor Jesus Cristo nos ensinaram a respeito Dele e o Credo dos santos Pais nos transmitiu”.

            Retornando à nossa linha mestra, devemos reafirmar que a relação Trinitária tem sido compreendida pela Igreja como uma procedência eterna e necessária, do Espírito da parte do Pai e do Filho.

            As palavras de Agostinho (354-430) tornaram-se basilares na compreensão Ocidental: “O Espírito Santo, conforme as Escrituras, não é somente Espírito do Pai, nem somente o Espírito do Filho, mas de ambos”.[20] por isso, que a Confissão de Westminster(1647),refletindo esta compreensão bíblica conforme a tradição teológica ocidental, dizer: “O Espírito Santo é eternamente procedente do Pai e do Filho” (II.3) (Jo 15.26; Gl 4.6).

            Palmer (1922-1980), coloca a questão da “procedência” do Espírito nos seguintes termos:

Sua procedência não quer dizer que seja inferior ao Pai e ao Filho, do mesmo modo que pelo fato do Filho ser gerado tampouco significa que não esteja num plano de igualdade com o Pai. O segredo está no fato de que o Espírito foi ETERNAMENTE espirado, do mesmo modo que o Filho foi eternamente gerado. Nunca houve um tempo em que o Espírito não fosse espirado. Tem coexistido eternamente com o Pai e o Filho. Dizer que procedeu de, ou foi espirado do Pai e do Filho não implica que seja menos Deus; só fala da relação que sustenta eternamente com as outras duas Pessoas da Trindade.[21]  

            Os nossos termos serão sempre limitados, meras alusões à complexidade do ser divino,[22] por isso, podemos no máximo, trabalhando dentro dos limites da Revelação, ter uma compreensão pálida deste mistério, que certamente ultrapassa em muito a nossa percepção e mais ainda, à nossa linguagem, no esforço de expressar o que percebemos;[23] no entanto, se a doutrina da Trindade foi-nos revelada nas Escrituras, fazendo parte do desígnio de Deus, tem por certo “utilidade” para a vida da Igreja.[24] Nada na Escritura é ocioso (At 20.27/2Tm 3.16). Ocioso e ingrato,[25] é deixar de considerar “todo o desígnio de Deus”[26] ou tentar ultrapassá-lo. Quanto a este último perigo, talvez mais tentador para nós teólogos, cabe a advertência de Calvino (1509-1564), ao encerrar o capítulo sobre a Trindade:

Espero que pelo que temos dito, todos os que temem a Deus verão que ficam refutadas todas as calúnias com que Satanás tem pretendido até o dia de hoje perverter e obscurecer nossa verdadeira fé e religião. Finalmente confio em que toda esta matéria haja sido tratada fielmente, para que os leitores refreiem sua curiosidade e não suscitem, mais do que é lícito, molestas e intrincadas disputas, pois não é minha intenção satisfazer aos que colocam seu prazer em suscitar sem medida algumas novas especulações.

Certamente, nem conscientemente nem por malícia omiti o que poderia ser contrário a mim. Mas como meu desejo é servir à Igreja, me pareceu que seria melhor não tocar nem revolver outras muitas questões de pouco proveito e que resultariam enfadonhas aos leitores. Porque, de que serve discutir se o Pai gera sempre? Tendo como indubitável que desde a eternidade há três Pessoas em Deus, este ato contínuo de gerar não é mais que uma fantasia supérflua e frívola.[27]

Por outro lado, se os termos são imperfeitos e imprecisos, devemos sempre lembrar que somente a Escritura é inspirada e infalível, não os nossos termos e interpretações. O ponto, portanto, que deve ser priorizado, é a realidade por trás dos termos.[28]

            Procede esta compreensão?

            Este deve ser sempre a pergunta do estudante sincero, desejoso de conhecer mais a Palavra de Deus. Bavinck (1854-1921) mais uma vez é-nos imprescindível em suas observações a respeito da elaboração doutrinária da Igreja:

Para satisfazer a essa exigência (tratar da diversidade e unidade) a Igreja Cristã e a teologia cristã primitiva fizeram uso de várias palavras e expressões que não podem ser encontradas literalmente nas sagradas Escrituras. A Igreja começou a falar da essência de Deus e de três pessoas nessa essência do Ser divino. Ela falava de características triúnas e trinitárias, ou essenciais e pessoais, da eterna geração do Filho e da procedência do Espírito Santo do Pai e do filho, e outros termos semelhantes.

Não há razão pela qual a Igreja Cristã e a teologia cristã não devam usar esses termos e expressões, pois as Sagradas Escrituras não foram dadas por Deus à Igreja para ser desconsideradamente repetida, mas para ser entendida em toda a sua plenitude e riqueza, e para ser reafirmada em sua própria linguagem para que dessa forma possa proclamar os poderosos feitos de Deus. Além disso, tais termos e expressões são necessários para manter a verdade da Escritura contra seus oponentes e colocá-la em segurança contra equívocos e erros humanos. E a história tem mostrado através dos séculos que a despreocupação com esses nomes e a rejeição deles conduz a vários afastamentos da confissão.

Ao mesmo tempo nós devemos, no uso desses termos, nos lembrar que eles são de origem humana e, portanto, limitados, sujeitos a erro e falíveis. Os Pais da Igreja sempre reconheceram isso. Por exemplo, eles afirmavam que o termo pessoas, que foi usado para designar as três formas de existência no Ser divino não fazem justiça à verdade, mas servem de ajuda para manter a verdade e eliminar o erro. A palavra foi escolhida, não porque fosse a mais precisa, mas porque nenhuma outra melhor foi encontrada. Nesse caso a palavra está atrás da ideia, e a ideia está atrás da realidade. Apesar de não poder preservar a realidade a não ser dessa forma, nós nunca devemos nos esquecer de que é a realidade que conta, e não a palavra. Certamente na glória outras e melhores palavras e expressões serão colocadas em nossos lábios.[29]

            Na procedência do Espírito da parte do Pai e do Filho temos uma relação trinitária ontológica e econômica. Partindo do princípio de que a revelação de Deus alude à essência de Deus, por meio da manifestação da Trindade, vemos, ainda que limitadamente, aspectos da relação essencial da Trindade. Privar-nos desta compreensão (procedência do Pai e do Filho) equivale a empobrecer a nossa compreensão de Deus conforme nos foi dado conhecer na Palavra e definitivamente em Jesus Cristo. Corremos o risco de cair parcialmente num agnosticismo teológico.[30]

Maringá, 04 de outubro de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] João Calvino, Exposição de Romanos,(Rm 8.9), p. 271.

[2] gennhqe/nta e e)kporeuo/menon são expressões usadas no Credo Niceno-Constantinopolitano (381). Quanto à distinção das expressões, e o significado da “procedência”, confesso minha ignorância, juntamente com Agostinho (354-430) e João Damasceno (c. 675-749) (Veja-se: F. Turretin, Institutes of Elenctic Theology,v. 1, III.31.3; J. Oliver Buswell, A Systematic Theology of the Christian Religion,Grand Rapids, Michigan:  Zondervan, © 1962, I, p. 119-120).

[3] Como já mencionamos supra, a expressão “e do Filho”em latim “Filioque”, foi acrescentada no Concílio local de Toledo (589).

[4]“O Pai é entendido como o primeiro princípio (archê) da Trindade e, por conseguinte, como o princípio unificador da hypostases (u/po/stasij). O Filho é gerado do Pai, e o Espírito procedente do Pai através do Filho”  (Trinitas: In: Richard A. Muller, Dictionary of Latin and Greek Theological Terms,4. ed. Grand Rapids, Michigan:  Baker Book House, 1993, p. 308). No entanto, a expressão do autor, “o Espírito procedente do Pai através do Filho”não corresponde à compreensão de Nicéia e Constantinopla, visto que esta fórmula, de certo modo, inspirada em Gregório de Nissa (c. 335-c.394) – que modelou a teologia oriental –, foi rejeitada por Agostinho (354-430), para evitar qualquer tipo de subordinação (Agostinho, A Trindade,V.14.15. p. 208-210). (Veja-se: J.N.D. Kelly, Doutrinas Centrais da Fé Cristã,p. 198).

[5] Charles Hodge, Teologia Sistemática, p. 346.

[6] Conforme expressão de Olson (Roger Olson, História das Controvérsias na Teologia Cristã: 2000 anos de unidade e diversidade, São Paulo: Editora Vida, 2004, p. 196).

[7] “A propriedade peculiar e pessoal da terceira pessoa é expressa pelo título Espírito. Esse título não pode expressar sua essência, visto que sua essência é também a essência do Pai e do Filho. Ele deve expressar sua eterna relação pessoal com as outras pessoas divinas, visto ser ele uma pessoa constantemente designada como o Espírito do Pai e o Espírito do Filho” (Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge,São Paulo: Editora os Puritanos, 1999,Capítulo II, p. 91). (Veja-se: também, A.A. Hodge, Esboços de Theologia, Lisboa: Barata & Sanches, 1895, p. 151-152).

[8] O Credo de Calcedônia é precedido pela confirmação dos Credos de Nicéia (325) e Constantinopla (381). A elaboração deste novo Credopode ser explicada pelo surgimento de novas heresias referentes a Cristo (Apolinarismo, Nestorianismo e Eutiquianismo), que precisavam ser combatidas. (Veja-se:  P. Schaff, The Creeds of Christendom, 6. ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (Revised and Enlarged), (1931), v. 2, p. 63-64).

[9] Este conceito já estava presente em Irineu (c. 130- c. 200). (Irineu, Irineu de Lião,IV.6.7. p. 382-383).

[10] Esta expressão visa combater o Apolinarismo. Apolinário, o jovem (c. 310-c.390), bispo de Laodicéia na Síria (c. 360), teve os seus ensinamentos condenados em vários Concílios: Alexandria (362)(aqui somente o apolinarismo, não Apolinário); Roma (377) (Apolinário e o apolinarismo); Antioquia (378), no 2º Concílio Ecumênico de Constantinopla (381) (Apolinário e o apolinarismo). Apesar destas condenações, Apolinário conseguiu adeptos; um de seus discípulos, Vitális, fundou uma congregação em Antioquia (375), sendo sagrado bispo por Apolinário. “Os apolinarianos tiveram pelo menos um sínodo em 378, e há evidência no sentido de ter ocorrido um segundo sínodo. Depois da morte de Apolinário, seus seguidores dividiram-se em dois partidos, os vitalianos e os polemeanos ou sinusiatos. Por volta de 420, os vitalianos já estavam reunidos com a Igreja Grega. Pouco mais tarde, os sinusiatos fundiram-se no cisma monofisita” (V.L. Walter, Apolinarismo: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã,São Paulo: Vida Nova, 1988-1990, v. 1, p. 98).

            Devido à sua concepção tricotômica do homem, bem como o seu desejo de preservar a divindade e a uni personalidade de Cristo, terminou por concebê-Lo como sendo totalmente divino e apenas 2/3 humano. A ideia de total humanidade envolvia o conceito de pecaminosidade, por isso, a sua tentativa de resguardar o Filho. Para ele, o homem era constituído de Sw=ma (carne ou corpo); Yuxh/ (alma animal) e Pneu=ma(alma racional). O Pneu=ma é que torna o homem o que ele é. Aplicando estes conceitos a Jesus, Apolinário dizia que Jesus tinha Sw=ma e Yuxh/ iguais a de um homem comum; já o Pneu=ma fora substituído pelo Lo/goj; assim, Jesus possuía um corpo, uma alma, mas não possuía um espírito humano.

            Assim, para Apolinário há uma única vida; uma perfeita fusão do homem (carne) com o divino, sendo a carne de Jesus glorificada pelo Logos, daí ele falar de “carne divina”, “carne de Deus”, “natureza encarnada da Palavra divina”

            Os ensinamentos de Apolinário foram censurados pelo fato de que, se o Logos não tomou sobre si a integridade da natureza humana – estando toda ela afetada pelo pecado –, esta natureza não poderia ser redimida, visto que aquilo que o Filho não levou sobre si não pode ser alvo de sua redenção.

[11] o(moou/sioj, na versão latina: “consubstantialem”. Da mesma substância, consubstancial, coessencial. Atanásio (que empregava a expressão (o(moio/usioj)(“de natureza semelhante”) para Jesus Cristo), combatendo o Arianismo, já havia usado este termo em Nicéia (325), referindo-se à Trindade, indicando a unidade da essência do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Aqui em Calcedônia, a expressão é utilizada para indicar a verdadeira divindade e verdadeira humanidade de Cristo. Calvino (1509-1564) diz que “essa palavrinha fazia a diferença entre os cristãos de pura fé e os sacrílegos arianos” (As Institutas,I.13.4).

[12] Hb 4.15.

[13] Qeoto/koj, na versão latina: “Dei genetrice”. (Qeo/j & To/koj = Ti/ktw = “Dar à luz um menino/ gerar, chegar a ser mãe/produzir”: “Mãe de Deus”. A expressão foi usada para indicar que Aquele que foi concebido de Maria, fora obra dO Espírito Santo, portanto era Deus. A expressão também ressalta, que Maria não foi mãe simplesmente da natureza humana de Jesus, mas sim, da pessoa Teantrópica de Jesus Cristo (Cf. The Creeds of Christendom, 6. ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (Revised and Enlarged), (1931), v. 2, p. 64).

[14] a)sugxu/twj, na versão latina: “inconfuse”. “Sem confusão”, “sem mistura”. Expressão usada contra o Eutiquianismo, que sustentava que a encarnação fora o resultado da fusão do divino com o humano.

[15] a)tre/ptwj, na versão latina: “immutabiliter”. “Sem conversão”, “sem transformação”. Da mesma forma, esta expressão também foi usada contra o Eutiquianismo.

[16] a)diaire/twj, na versão latina: “indivise”. “Sem divisão”. Expressão que visava combater o Nestorianismo, que separava às duas naturezas de Cristo, afirmando ser a sua união apenas moral, simpática e afetiva.

[17] a)xwri/stwj, na versão latina: “inseparabiliter”. “Sem separação“, “indissolúvel”. Termo também usado contra o Nestorianismo. G.C. Berkouwer (1903-1996), interpretando Korff (1887-1942), comenta que estes quatro advérbios de Calcedônia: inconfundíveis (a)sugxu/twj), imutáveis (a)tre/ptwj), indivisíveis (a)diaire/twj),inseparáveis (a)xwri/stwj), ”Enriquecem a fé e a humildade da Igreja. Esses advérbios assemelham-se a um alinhamento de boias cercando o estreito canal navegável e alertando os navios contra os perigos ameaçadores dos dois lados. Não são uma definição nem servem para definir, pois tal não foi a intenção da Igreja” (G.C. Berkouwer, A Pessoa de Cristo,São Paulo: ASTE., 1964, p. 68. Veja-se: também: B. Lohse, A Fé Cristã Através dos Séculos,2. ed. São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1981, p. 100-101). Num mar tormentoso como aquele vivido em Calcedônia, as “âncoras” foram necessárias – e ainda são –, para preservar segura a Igreja em meio a todas as ondulações heréticas na história, sem se distanciar da plenitude da revelação bíblica.

[18]Pro/swpon, na versão latina: “Personam”. “Pessoa”; significando primariamente, “face” ou “expressão”. A ideia básica da palavra é a de um papel representado por alguém numa brincadeira. Logicamente, este termo é menos técnico e preciso que u(/po/stasij. Os Pais gregos, se apropriaram desta palavra, utilizando-a para referirem-se à Trindade, conferindo-lhe o sentido teológico de “indivíduo”, de uma pessoa que tem uma natureza racional e uma substância individual, própria. (Quanto às discussões teológicas a respeito da interpretação dada a esta palavra, Veja-se: Persona: In: Richard A. Muller, Dictionary of Latin and Greek Theological Terms,4. ed. Grand Rapids, Michigan:  Baker Book House, 1993, p. 223-227).

[19] u/(po/stasij, na versão latina: “Subsistentiam”. “Substância”, “natureza”, “essência”. A palavra denota uma subsistência pessoal e real. (* 2Co 9.4; 11.17; Hb 1.3; 3.14; 11.1). (Sobre a interpretação desta palavra nos textos aludidos, Veja-se: Wick Broomall, Su(b)stancia: In: E.F. Harrison, ed. Diccionario de Teologia,p. 504-505).

[20]Agostinho, A Trindade,São Paulo: Paulus, 1994, XV.17.27. p. 522. Veja-se: também: IV.20.29; V.14.15; XV.17.29; 26.47; 27.50.

[21]Edwin H. Palmer, El Espiritu Santo, Edinburgh: El Estandarte de la Verdad, (s.d.), Edição Revista, p. 15. Berkhof (1873-1957) coloca desta forma: “O eterno e necessário ato da primeira e da segunda pessoas da Trindade pelo qual elas, dentro do Ser Divino, vêm a ser a base da subsistência pessoal dO Espírito Santo, e propiciam à terceira pessoa a posse da substância total da essência divina, sem nenhuma divisão, alienação ou mudança” (L. Berkhof, Teologia Sistemática,Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990,p. 98).  (Veja-se: também, A.H. Strong, Systematic Theology,35. ed. Valley Forge, Pa.: Judson Press, 1993, p. 340-343; F. Turretin, Institutes of Elenctic Theology,v. 1, III.31.3ss. p. 308-310; A.A. Hodge, Esboços de Theologia,p. 151-152; Charles Hodge, Teologia Sistemática,p. 394; Loraine Boettner, Studies in Theology,p. 122-124; Herman Bavinck, The Doctrine of God,p. 310ss; L. Berkhof, Teologia Sistemática,p. 97-98; R.L. Dabney, Lectures in Systematic Theology,Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1985 (Reprinted), XIX, p. 210-211).

[22] Este tipo de comentário poderia induzir o leitor à compreensão de que desvalorizamos os termos teológicos; o que estaria extremamente distante de nossa convicção e perspectiva. Os termos teológicos, em grande parte, são expressões humanas na elaboração da fé conforme revelada nas Escrituras; portanto, limitados. No entanto, servem de referências para expressar a compreensão bíblica formulada ao longo da história. Desprestigiar gratuitamente as expressões teológicas, tem, em geral, contribuído para o empobrecimento da doutrina bíblica e, consequentemente o enfraquecimento da vida cristã.

[23]“A linguagem é a primeira tentativa do homem para articular o mundo de suas percepções sensoriais. Esta tendência é uma das características fundamentais da linguagem humana” (Ernst Cassirer. Antropologia Filosófica,2.  ed. São Paulo: Mestre Jou, 1977, p. 328).

[24]“O artigo sobre a santa Trindade é o coração e o núcleo de nossa confissão, a marca registrada de nossa religião, e o prazer e o conforto de todos aqueles que verdadeiramente creem em Cristo.

            “Essa confissão foi a âncora na guerra de tendências através dos séculos. A confissão da santa Trindade é a pérola preciosa que foi confiada à custódia da Igreja Cristã” (Herman Bavinck, Our Reasonable Faith,p. 145).

[25]Veja-se: J. Calvino, As Institutas, III.21.4.

[26]Calvino também aqui tem algo dizer: “A Escritura é a escola dO Espírito Santo, na qual, como nada é omitido não só necessário, mas também proveitoso de conhecer-se, assim também nada é ensinado senão o que convenha saber” (J. Calvino, As Institutas,III.21.3).

[27]Juan Calvino, Institución de la Religión Cristiana, Rijswijk, Países Bajos: Fundación Editorial de Literatura Reformada, 1967 (Nueva Edición Revisada), I.13.29.

[28] Veja-se: François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 402-403.

[29]Herman Bavinck, Our Reasonable Faith,p. 157-158.

[30] Veja-se: Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, p. 102.

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