Uma oração intercessória pela Igreja (147)

           2) Perseverança

          “E, quando se encontraram com ele, disse-lhes: Vós bem sabeis como foi que me conduzi entre vós em todo o tempo, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia” (At 20.18).

            O apóstolo acompanhou aqueles irmãos de perto. Conheceu as entranhas de muitos de seus problemas. Chorou e se alegrou com muitos irmãos. Isto ele o fez sistematicamente: “noite e dia”. Perseverantemente: “por três anos”. Por vezes, com grande sensibilidade: “com lágrimas”. Os instruiu, repreendeu, corrigiu e consolou. Em tudo, porém, manteve a Palavra como norma de seu ensino e procedimento. Agora, relembra e os orienta: “Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um” (At 20.31).

            Paulo relembra aos presbíteros que o seu trabalho entre eles não foi movido por entusiasmos episódicos e circunstâncias aprazíveis, antes, foi “desde o primeiro dia”. Certamente, é fácil deduzir que o apóstolo não esteve bem todos os dias nesses três anos em que conviveu com eles. Provavelmente nem todos os dias acordou com a mesma disposição. Contudo, ele trabalhou intensamente desde o primeiro dia em que entrou na Ásia. É preciso que não percamos essa dimensão, senão desanimaremos rapidamente. Nem sempre vemos o fruto de nosso trabalho. Os frutos que esperávamos, até de forma justa, não são sempre tangíveis aos nossos olhos. Mas, precisamos continuar firmes na obra de Deus. No Senhor o nosso trabalho nunca será em vão (1Co 15.58).

            Os crentes de Filipos são um bom exemplo de um trabalho, de uma união fraterna cooperante que se manifestava também de forma perseverante. O apóstolo observando isso dava constantemente graças a Deus por aqueles irmãos (Fp 1.3-5).

          3) Senso de oportunidade

           “Jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa” (At 20.20).

            Paulo tinha um senso pastoral apurado. Ele não perdia oportunidade de ensinar à igreja. Sabia que tinha coisas proveitosas a dizer. Cristo era o conteúdo de sua mensagem. O seu ensino é urgente. O tempo era pequeno.  Assim, se valia de todas as ocasiões, ensinando publicamente e, também, nas casas, tendo, por vezes, oportunidade de falar mais proximamente a irmãos que tinham dúvidas, reforçar ensinamentos ministrados publicamente e, também, evangelizar a outros.

         4) Sensibilidade obediente

           “22 E, agora, constrangido em meu espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que ali me acontecerá, 23senão que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulações.  24 Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus” (At 20.22-24).

            Havia muito o que fazer em Éfeso, mas, sabia que Deus tinha outros planos para ele. Havia muitas outras cidades que também precisavam ouvir o Evangelho. Por isso mesmo ele trabalhou intensamente, aproveitou as oportunidades e preparou uma liderança para continuar pastoreando a igreja. Quando ficamos simplesmente reclamando da “falta de tempo” ou de muitas tarefas, perdemos parte do pouco que temos para realizar o que Deus nos confiou. Temos que levar adiante a nossa vocação cumprindo o que Deus colocou em nossas mãos, quer na preparação para o nosso ofício, quer no exercício de nosso chamado. Paulo agia com senso de urgência, competência e submissão.

            Pessoalmente acho muito difícil despedidas. Ter a compreensão correta da hora de partir, especialmente quando as coisas estão indo bem exige um discernimento que em geral não temos. Da mesma forma, permanecer firmes quando parece que há oposição, as coisas não caminham bem e nos sentimos desgastados, não é simples. Essas são questões recorrentes no ministério. Como interpretar os sinais? A nossa permanência é perseverança ou teimosia? Partir é obediência corajosa ao chamado de Deus ou covardia e interesses menos nobres simplesmente de crescer em nossa carreira? Paulo constrangido pelo Senhor a quem servia, tinha um ministério a cumprir. Ele sabia que isso se estendia para além de Éfeso. Atendeu obedientemente ao seu chamado.

          5) Sem predileções

           “28Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue. (…) 31 Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um” (At 20.28,31).

            Quem são as ovelhas do pastor? As que dão mais trabalho? As mais próximas, amigas e afáveis? Talvez não costumemos teorizar sobre isso. Mas, é natural que nos inclinemos para aquelas com as quais mais nos identificamos por motivos variados: faixa etária, generosidade para conosco, gosto em aprender, afinidades familiares, interesses comuns, desprendimento para com os serviços da igreja. etc.

            Paulo, no entanto, procurou pastorear a todos igualmente conforme a necessidade de cada um. Ele pastoreava “todo o rebanho” (28). O pastorado é sobre todos aqueles que nos foram confiados. Mesmo aquelas ovelhas mais difíceis. Ele fala que admoestou com lágrimas “a cada um” (31).

            Pastoreamos a todos publicamente e, também, a cada um dentro das circunstâncias das particularidades que se nos mostrarem como oportunidades.

            Na instrução de Jesus Cristo a Pedro, demonstrou que ele deveria cuidar dos jovens e novos na fé com integridade e sensibilidade (Jo 21.15),[1] bem como alimentar e pastorear toda a igreja (Jo 21.16-17)[2] conduzindo-os todos à maturidade.[3]

São Paulo, 11 de setembro de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] “Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Ele lhe disse: Apascenta  (Bo/skw) (= alimentar, cuidar)  os meus cordeiros” (Jo 21.15).

[2]16Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu me amas? Ele lhe respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia (poimai/nw) as minhas ovelhas (proba/tion). 17Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta (Bo/skw) as minhas ovelhas (proba/tion) (Jo 21.16-17).

[3] Veja-se: Derek Prime; Alistair Begg, Ser pastor, São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 40.

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