A Pessoa e Obra do Espírito Santo (75)

             D) Verdadeira

Davi professa a sua fé amplamente vivenciada:         “Os juízos (jP’v.mi) (mishpat) (Julgamentos)  do SENHOR são verdadeiros (tm,a/) (‘emeth) (Sl 19.9).

    No Salmo 119.160, lemos: “As tuas palavras são em tudo verdade (tm,a/) (‘emeth) desde o princípio, e cada um dos teus justos juízos dura para sempre”.

    Juízos aqui, enfatizam a suprema autoridade de Deus em nos prescrever as leis que devem regular as nossas relações e exigir que as cumpramos (Dt. 4.1,5,8,14; 5.1; 6.1).[1]

    Após aliança de Deus com Davi, o salmista canta louvores ao Senhor, reconhecendo a fidelidade de Deus expressa em sua Palavra: “Agora, pois, ó SENHOR Deus, tu mesmo és Deus, e as tuas palavras são verdade (tm,a/) (‘emeth), e tens prometido a teu servo este bem” (2Sm 7.28).

   “Não há verdade no sentido bíblico do termo, isto é, verdade válida, fora de Deus. Toda verdade procede de Deus e é verdade porque está relacionada com Deus”, conclui Scott.[2]

    A sua palavra, portanto, como toda a sua comunicação conosco, fundamenta-se nesta realidade. O Deus da verdade se revela verdadeiramente tal como é em sua essência, se mostrando a nós, ainda que não exaustivamente, mas, proporcionalmente, como de fato é.

 Por Deus ser perfeito, todos os seus atributos revelam aspectos de sua essência. O salmista refere-se a Deus como“Senhor, Deus da verdade (tm,a/) (‘emeth) (Sl 31.5).

De modo semelhante, fala o profeta Jeremias: “Mas o SENHOR é verdadeiramente (tm,a/) (‘emeth) Deus; ele é o Deus vivo e o Rei eterno; do seu furor treme a terra, e as nações não podem suportar a sua indignação”(Jr 10.10).

Partindo desta certeza o salmista pôde afirmar:   “A tua justiça é justiça eterna, e a tua lei é a própria verdade (tm,a/) (‘emeth)(Sl 119.142). (Da mesma forma Sl 119.151,160).[3]

    Novamente declara o salmista: “São verdadeiros (hn”Wma/) (‘emunah) (= fiéis, dignos de crédito)todos os teus mandamentos (hw”c.mi) (mitsvah). (Sl 119.86).

    A palavra Mandamentos (hw”c.mi) (mitsvah), com frequência é associada com a Torah e com o “temor do Senhor”.  Por vezes é também empregada de modo intercambiável com a Torah (Gn 26.5;  Ex 16.28; 24.12; Dt 30.10).

    Referindo-se ao “corpo geral da Lei de Deus”,[4] enfatiza as exigências naturais da Aliança feita por Deus com o seu povo, e demonstra a sabedoria adquirida em observá-la, sem nada acrescentar ou omitir: “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos (hw”c.mi) (mitsvah); porque isto é o dever de todo homem” (Ec 12.13).

    Em outro lugar: “Todas as veredas do SENHOR são misericórdia e verdade (tm,a/) (‘emeth) para os que guardam a sua aliança e os seus testemunhos” (Sl 25.10).

    Deste modo, a Palavra se constitui em base segura e confiável sobre a qual posso dirigir minha vida. Toda a Palavra do Senhor é igualmente verdadeira, não havendo contradição, sendo ela a própria verdade que permanece, não estando circunscrita a tempos e épocas.

    A Palavra de Deus não traz meias verdades. Ela é a verdade absoluta de Deus   toda a realidade.

    É por meio dela que conhecemos o caminho de Deus. O salmista, alegando a sua integridade, ora: “Pois a tua benignidade, tenho-a perante os olhos e tenho andado na tua verdade (tm,a/) (‘emeth) (Sl 26.3).

    Devemos orar para que Deus nos guie, nos concedendo discernimento no caminho da verdade. É neste sentido que o salmista ora:

Ensina-me, SENHOR, o teu caminho, e andarei na tua verdade (tm,a/) (‘emeth); dispõe-me o coração para só temer o teu nome. (Sl 86.11/Sl 26.3).

Guia-me na tua verdade (tm,a/) (‘emeth) e ensina-me, pois tu és o Deus da minha salvação, em quem eu espero todo o dia. (Sl 25.5).

    Instruído pelo Senhor, o salmista, por graça, escolheu o caminho proposto por Deus: “Escolhi o caminho da fidelidade (hn”Wma/) (‘emunah) e decidi-me pelos teus juízos” (Sl 119.30).

    Deus nos guarda misericordiosamente por meio da verdade. Nesse sentido, suplica o salmista: “Não retenhas de mim, SENHOR, as tuas misericórdias; guardem-me sempre a tua graça e a tua verdade (tm,a/) (‘emeth) (Sl 40.11).

    A verdade de Deus é iluminadora, discernindo o caminho por onde devemos caminhar:     “Envia a tua luz e a tua verdade (tm,a/) (‘emeth), para que me guiem e me levem ao teu santo monte e aos teus tabernáculos” (Sl 43.3).

    Deus tem prazer em nossa integridade; coração sincero e verdadeiro: “Eis que te comprazes na verdade (tm,a/) (‘emeth) no íntimo e no recôndito me fazes conhecer a sabedoria” (Sl 51.6).

    Deus deseja que nos relacionemos com Ele com fidelidade do mesmo modo que Ele se relaciona conosco:  A nossa resposta deve ser condizente com a santidade e integridade de Deus (Lv 19.2).

    Esta é a palavra de Josué ao povo de Israel: “Agora, pois, temei ao SENHOR e servi-o com integridade e com fidelidade (tm,a/) (‘emeth); deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais dalém do Eufrates e no Egito e servi ao SENHOR” (Js 24.14).

    De modo semelhante Samuel instrui ao povo que o rejeitara:     “Tão-somente, pois, temei ao SENHOR e servi-o fielmente (tm,a/) (‘emeth) de todo o vosso coração; pois vede quão grandiosas coisas vos fez” (1Sm 12.24).

O Senhor em sua misericórdia, é sensível à oração dos fiéis: “Perto está o SENHOR de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade (tm,a/) (‘emeth) (Sl 145.18).

    Deus nos concedeu o conhecimento de sua verdade para nossa instrução e vida. Não para uma mera apreensão intelectual, mas, para que possamos conduzir a nossa vida dentro de seus sábios, santos e abençoadores preceitos.[5]

    A teologia fundamentada na Palavra é imprescindível nesse propósito, nos concedendo verdadeiro conhecimento, guiando a nossa vida em suas decisões e ações.[6]

    A experiência de todo fiel, é que a nossa oração se ampara na fidelidade de Deus. Conhecemos o nosso Deus. Sabemos que Ele é verdadeiro em sua natureza e, por isso mesmo, em todos os seus atos e promessas. É nessa certeza que o salmista ora: “Quanto a mim, porém, SENHOR, faço a ti, em tempo favorável, a minha oração. Responde-me, ó Deus, pela riqueza da tua graça; pela tua fidelidade (tm,a/) (‘emeth)  em socorrer” (Sl 69.13).

    Enquanto aguardamos com perseverante fé a resposta de Deus, devemos nos alimentar da verdade, proclamando-a em nosso testemunho, palavra e louvor a Deus:

Confia no SENHOR e faze o bem; habita na terra e alimenta-te da verdade (hn”Wma/) (‘emunah). (Sl 37.3).

Não ocultei no coração a tua justiça; proclamei a tua fidelidade e a tua salvação; não escondi da grande congregação a tua graça e a tua verdade (tm,a/) (‘emeth). (Sl 40.10).

Eu também te louvo com a lira, celebro a tua verdade (tm,a/) (‘emeth), ó meu Deus; cantar-te-ei salmos na harpa, ó Santo de Israel. (Sl 71.22).

    Devemos magnificar a Deus considerando, inclusive, a sua verdade. Davi o fez com inteireza de coração diante dos “deuses” da terra. A nossa obediência a Deus tomando como princípio diretor a sua Palavra é um indicativo significativo de a quem de fato servimos e honramos. Testemunha o salmista:

1Render-te-ei graças, SENHOR, de todo o meu coração; na presença dos poderosos (~yhil{a/) te cantarei louvores. 2 Prostrar-me-ei para o teu santo templo e louvarei o teu nome, por causa da tua misericórdia e da tua verdade (tm,a/) (‘emeth), pois magnificaste acima de tudo o teu nome e a tua palavra. (Sl 138.1-2/Sl 119.46).

Maringá, 12 de dezembro de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


 [1]“Agora, pois, ó Israel, ouve os estatutos e os juízos (jP’v.mi) (mishpat) que eu vos ensino, para os cumprirdes, para que vivais, e entreis, e possuais a terra que o SENHOR, Deus de vossos pais, vos dá. (…) 5 Eis que vos tenho ensinado estatutos e juízos (jP’v.mi) (mishpat), como me mandou o SENHOR, meu Deus, para que assim façais no meio da terra que passais a possuir.  (…)  8 E que grande nação há que tenha estatutos e juízos (jP’v.mi) (mishpat) tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho? (…)   14 Também o SENHOR me ordenou, ao mesmo tempo, que vos ensinasse estatutos e juízos (jP’v.mi) (mishpat), para que os cumprísseis na terra a qual passais a possuir” (Dt 4.1,5,8,14). “Chamou Moisés a todo o Israel e disse-lhe: Ouvi, ó Israel, os estatutos e juízos (jP’v.mi) (mishpat) que hoje vos falo aos ouvidos, para que os aprendais e cuideis em os cumprirdes” (Dt 5.1). “Estes, pois, são os mandamentos, os estatutos e os juízos (jP’v.mi) (mishpat) que mandou o SENHOR, teu Deus, se te ensinassem, para que os cumprisses na terra a que passas para a possuir” (Dt 6.1).

[2]Jack B. Scott, Aman: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 87.

[3]“Tu estás perto, SENHOR, e todos os teus mandamentos são verdade (tm,a/) (‘emeth)” (Sl 119.151). “As tuas palavras são em tudo verdade (tm,a/) (‘emeth) desde o princípio, e cada um dos teus justos juízos dura para sempre” (Sl 119.160).

[4] E. Calvín Beísner, Psalms of Promise: Celebrating the Majesty and Faithfulness of God, 2. ed. Phillipsburg, NJ.: P. & R. Publishing, 1994, p. 35.

[5]“O fim para o qual Deus deu a sua verdade não foi somente para a instrução de nossas mentes, mas muito mais para a transformação de nossas vidas” (Albert N. Martin, As Implicações Práticas do Calvinismo, São Paulo: Os Puritanos, 2001, p. 9-10).

[6] Veja-se: Johannes Wollebius, Compêndio de Teologia Cristã,  Eusébio, CE.: Peregrino, 2020, p. 24.

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