A Pessoa e Obra do Espírito Santo (429)

13) Sábio manejo da Palavra em seu anúncio perseverante  (Continuação)

       Insistimos: Pregar é explicar e aplicar a Palavra aos nossos ouvintes. O aval de Deus não é sobre nossas teorias e escolhas, muito menos sobre a “graça” de nossas piadas, mas sobre a sua Palavra. Portanto, o pregador prega o texto, de onde provém a verdade de Deus para o seu povo. “Quando nos propomos a expor um texto, precisamos declarar exatamente o que o texto afirma”.[1]

            Sei que muitas vezes nos tornamos mais encantados com nossas teorias do que com as Escrituras. Isto é simples de explicar: somos pecadores e vaidosos! Contudo, Deus transforma vidas por meio do Evangelho; este sim é o seu poder (Rm 1.16). As nossas hipóteses, por mais “brilhantes” que sejam, devem ser submetidas às Escrituras, mais ainda: devem partir da Palavra.

            Chapell fala-nos de forma contundente:

Apenas pregadores comprometidos em proclamar o que Deus diz têm o imprimatur da Bíblia sobre sua pregação. Desse modo, a pregação expositiva se empenha em descobrir e propagar o significado preciso da Palavra. A Escritura exerce domínio sobre o que os expositores pregam, pois eles esclarecem o que ela diz. O significado da passagem é a mensagem do sermão. O texto governa o pregador. Pregadores expositivos não esperam que outros reverenciem suas opiniões. Tais ministros aderem às verdades da Escritura e esperam que seus ouvintes tenham o mesmo cuidado.[2]

            Num cristianismo brasileiro repleto de superstições, assim como foi o caso no período da Reforma Protestante, a teologia deve ter o sentido de resgatar a pureza dos ensinamentos bíblicos a fim de purificar a mensagem que tem sido transmitida ao longo dos séculos.[3] Notemos, portanto, que a teologia tem um compromisso com a edificação da Igreja (Ef 4.11-16): A Igreja é enriquecida espiritualmente com os ensinamentos da Palavra, os quais cabem à teologia organizar. “A teologia é o sustento da vida cristã”. Ela “alicerça a vivência cristã”.[4] Deste modo, vale a pena lembrar a observação de Barth (1886-1968): “O pregador (…) com toda modéstia e seriedade, deve trabalhar, lutar para apresentar corretamente a Palavra, sabendo perfeitamente que o recte docere só pode ser realizado pelo Espírito Santo”.[5] Lutero (1483-1546) já recomendara: “A pregação e a oração estão sempre juntas”.[6]

            Todavia, quando nos distanciamos da Palavra terminamos por substituí-la por elementos que julgamos poder entreter ou instruir intelectualmente o povo. A teologia contemporânea que, em determinados grupos, cada vez mais se confunde com uma ciência social, tende simplesmente a apresentar uma mensagem puramente intelectualizada.

Veith constata com acerto:

Para se tornar intelectualmente respeitável, e ser aceita como instrução acadêmica legítima, a teologia contemporânea com frequência rejeitou a sua substância tópica. A teologia contemporânea muitas vezes deixa de ser Teologia. Em vez disso, torna-se Psicologia, Sociologia, Filosofia ou Política. O sobrenatural é excluído em favor de explicações naturalistas a ponto que a Teologia ter de, por sua própria metodologia, excluir Deus.[7]

            Como temos insistido, a Igreja proclama a Palavra, não as suas opiniões a respeito da Palavra, consciente que Deus age por meio das Escrituras produzindo frutos de vida eterna (Rm 10.8-17; 1Co 1.21; 1Co 15.11; Cl 1.3-6; 1Ts 2.13-14). A Igreja por si só não produz vida, todavia ela recebeu a vida em Cristo (Jo 10.10), por intermédio da sua Palavra vivificadora. Deste modo, ela ensina a Palavra, para que pelo Espírito de Cristo, que atua mediante as Escrituras, os homens creiam e recebam vida abundante e eterna.

            É uma tentação por demais sutil, nem sempre perceptível, “amenizar”, torcer a Palavra de Deus, para – num desejo pretensioso –, tornarmo-nos mais “agradáveis” aos nossos ouvintes. Contudo, como mestres cristãos que somos, devemos ter como preocupação primordial ser instrumentos de Deus para que a sua Palavra fale por meio de nós; que o texto se torne mais expressivo por intermédio da explicação que apresentamos amparada na análise do contexto, numa boa exegese e em harmonia com a Bíblia em seu todo, tendo o Espírito como o nosso iluminador na compreensão e transmissão da verdade.

Chapell define exegese como “o processo mediante o qual os pregadores descobrem as definições e as distinções gramaticais das palavras num texto”.[8] MacArthur enfatiza: “Ninguém tem o direito de ser um teólogo se não for um exegeta”.[9] Notemos que esta é uma grande responsabilidade; por isso – devido à necessidade que temos de ensinar com precisão a Palavra de Deus –, o mestre deve ter cuidado com o que ensina.[10]

            Deus chama os presbíteros para pastorear (poimai/nein) a Igreja (At 20.28); atribuição que envolve o alimento, conforto, proteção, cuidado e disciplina.

Calvino corretamente comenta: “A tarefa dos mestres consiste em preservar, e propagar as sãs doutrinas para que a pureza da religião permaneça na Igreja”.[11]

 Maringá, 26 de fevereiro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Kenneth A. Macrae, A Pregação e o Perigo do Comprometimento: In: Fé para Hoje, São José dos Campos, SP.: Fiel, nº 7, 2000, p. 4.

[2]Bryan Chapell, Pregação Cristocêntrica, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p. 24. “Nosso comprometimento com a eficiência única da Escritura significa que desejamos estar seguros de estar dizendo o que a Bíblia diz” (Bryan Chapell, Pregação Cristocêntrica, p. 40).

[3] Cf. Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 24.

[4]Stanley J. Grenz; Roger E. Olson, Quem Precisa de Teologia? Um convite ao estudo sobre Deus e sua relação com o ser humano, São Paulo: Editora Vida, 2002, p. 46 e 47.

[5] Karl Barth, La Proclamacion del Evangelio, Salamanca: Ediciones Sigueme, 1969, p. 46.

[6]M. Luther, Luther’s Works, Saint Louis: Concordia Publishing House, 1960, v. 2, (Gn 13.4), p. 333.

[7] Gene Edward Veith, Jr., De Todo o teu entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 54.

[8] Bryan Chapell, Pregação Cristocêntrica,São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002, p. 113.

[9]John F. MacArthur Jr., Princípios para uma Cosmovisão bíblica: Uma mensagem exclusivista para um mundo pluralista,São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003, p. 50. “Se não nos propusermos a ser estudantes de língua e literatura além de teologia, sempre seremos limitados na capacidade de ‘manejar bem a palavra da verdade’.” (Andreas J. Köstenberger; Richard D. Patterson, Convite à interpretação bíblica: A tríade hermenêutica, São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 580). “Não haverá um pregador verdadeiro, se tudo o que ele disser não estiver fundamentado em exatidão exegética. Pecamos quando pregamos aquilo que achamos que as Escrituras afirmam, e não pregamos o seu verdadeiro significado. Também pecamos quando pregamos os pensamentos que a Palavra desperta em nosso intelecto e não aquilo que a Palavra realmente declara. Um arauto é um traidor, se não transmite exatamente o que o Rei diz” (Stuart Olyott, Pregação pura e simples, São José dos Campos, SP.: Fiel, © 2010, 2012 (Reimpressão), p. 29).

[10]“Pastores precisam lembrar-se desde o início de que quando eles vão para o púlpito, estão lá para explicar a Palavra do Deus vivo com clareza e precisão, não para impressionar as pessoas com sua inteligência ou para entretê-las com opiniões humanas” (John MacArthur, Por que ainda prego a Bíblia após quarenta anos de ministério: In: Mark Dever, ed., A Pregação da Cruz, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 140).

[11]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 12.28), p. 390. Do mesmo modo, acentua MacArthur: “Toda a tarefa do ministro fiel gira em torno da Palavra de Deus – guardá-la, estudá-la e proclamá-la” (John F. MacArthur, Com Vergonha do Evangelho, São José dos Campos, SP.: Fiel, 1997, p. 29).

One thought on “A Pessoa e Obra do Espírito Santo (429)

  • 18 de março de 2022 em 19:30
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    Sempre, Deus te usando, que bênção. Que voce não se desanime de espalhar este mel que Deus nos manda do céu, através de sua Palavra!

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