A Pessoa e Obra do Espírito Santo (225)

O testificar do Espírito

Conforme temos estudado, o Espírito que em nós habita e nos leva à oração testemunha em nós que somos filhos de Deus. “O próprio Espírito testifica (summarture/w)com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.16). O Pai Nosso é a “Oração dos Filhos”.[1] Ou, em outros termos, “a oração do redimido”.[2] É a oração comunitária dos filhos de Deus em adoração.

          Valendo-me de expressões de Bonhoeffer (1906-1945), podemos dizer que o Pai Nosso é um “resumo” de todas as orações das Escrituras,[3] tornando-se um “gabarito”, por meio do qual devemos analisar a integridade bíblica de nossa oração.[4]

          O problema, dentro do contexto vivido por Jesus, é que muitos dos judeus, na realidade, ofereciam as suas orações aos homens, mesmo usando o nome de Deus. Usar o nome de Deus não é garantia de estarmos nos dirigindo a Ele.

Do mesmo modo, podemos estar tão preocupados com a forma de nossas orações que nos esquecemos do Pai. É a Ele que a nossa oração é destinada. Portanto, cabe a Ele, que vê em secreto, julgá-la. A nossa oração não necessita de publicidade para que Deus a ouça. Ele vê em secreto e nos recompensa conforme o que vê (Mt 6.6).

          No Antigo Testamento, por intermédio de Isaías, Deus recrimina os judeus dizendo que eles sacrificavam simplesmente porque gostavam de fazê-lo, não porque quisessem agradá-Lo. O ritual é que era prazeroso, não a satisfação de Deus:

Como estes escolheram os seus próprios caminhos, e a sua alma se deleita nas suas abominações, assim eu lhes escolherei o infortúnio e farei vir sobre eles o que eles temem; porque clamei e ninguém respondeu, falei, e não escutaram; mas fizeram o que era mau perante mim, e escolheram aquilo em que eu não tinha prazer. (Is 66.3-4).

          Orar é exercitar a nossa confiança no Deus da Providência, sabendo que nada nos faltará, porque Ele é o nosso Pai. A oração tem sempre uma conotação de submissão confiante. Portanto, orar ao Pai, como temos enfatizado, significa sintonizar a nossa vontade com a dele; sabendo que Ele é santo e a sua vontade também o é (Mt 6.9,10). [5]

          Bonhoeffer (1906-1945) comenta:

Uma criança aprende a falar, porque seu pai fala com ela. Ela aprende a falar a língua paterna. Assim também nós aprendemos a falar com Deus, porque Deus falou e fala conosco. Pela palavra do Pai no céu seus filhos aprendem a comunicar-se com Ele. Ao repetir as próprias palavras de Deus, começamos a orar a Ele. Não oramos com a linguagem errada e confusa de nosso coração, mas pela palavra clara e pura que Deus falou a nós por meio de Jesus Cristo, devemos falar com Deus, e Ele nos ouvirá.[6]

          A presença e direção do Espírito na vida do povo de Deus é uma realidade. Desconsiderar este fato significa desprezar o registro bíblico e o testemunho do Espírito em nós (Rm 8.16).[7] “A vida cristã é companheirismo com o Pai e com o Filho, Jesus Cristo, por meio do Espírito Santo”, comenta Lloyd-Jones.[8]

          O Espírito em nós é uma fonte de consolo e estímulo à perseverança e obediência devida a Deus. Consideremos este fato – à luz da Palavra e da nossa experiência – em todos os nossos caminhos, e o Espírito mesmo nos iluminará.

Maringá, 29 de junho de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Conforme expressão de Lloyd-Jones (1899-1981) (D.M. Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte,São Paulo: FIEL., 1984, p. 358).Veja-se a relação feita por Calvino entre a oração e a convicção de nossa filiação divina (João Calvino, Exposição de Romanos,(Rm 8.16), p. 279-280).

[2] Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 630.

[3]“Todas as orações da Bíblia estão resumidas no Pai Nosso. A sua amplitude infinita abrange-as todas. No entanto, o Pai Nosso não torna as orações da Bíblia supérfluas, mas elas são a riqueza inesgotável do Pai Nosso e o Pai Nosso é sua coroa e síntese” (Dietrich Bonhoeffer, Orando com os salmos, Curitiba, PR.: Editora Encontrão, 1995, p. 15).

[4]“O Pai Nosso se torna o gabarito pelo qual conferimos se estamos orando em nome de Jesus ou em nosso próprio nome” (Dietrich Bonhoeffer, Orando com os salmos, Curitiba, PR.: Editora Encontrão, 1995, p. 15).

[5]“Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.9-10).

[6]Dietrich Bonhoeffer, Orando com os Salmos, Curitiba, PR.: Encontrão Editora, 1995, p. 12-13.

[7] “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.16).

[8]D.M. Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 1), p. 98.

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