A Pessoa e Obra do Espírito Santo (218)

4. A Santificação é imperativa

A santidade de Deus deve ser nosso motivo básico para cultivar um viver santo. – Joel R. Beeke; Mark Jones.[1]

Deus nos escolheu para que fôssemos santos. Na carta aso colossenses, Paulo relaciona a nossa responsabilidade de santidade com o privilégio de nossa eleição: Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade” (Cl 3.12).

Aos tessalonicenses, conforme já citamos, Paulo estabelece a conexão de forma clara e direta: “Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação,          pela santificação do Espírito e fé na verdade” (2Ts 2.13).

          Não sabemos quem ou quantos serão salvos – isso faz parte da secreta providência de Deus –, no entanto, podemos indicar biblicamente, o comportamento que deve caracterizar o eleito de Deus.

Spurgeon (1834-1892), colocou esta questão da seguinte forma:

O grande livro dos decretos de Deus está firmemente fechado para a curiosidade humana (…). O livro não pode ser aberto, mas Deus publicou muitas de suas páginas. Não divulgou a página na qual os nomes dos redimidos estão escritos; porém a página do decreto sagrado onde é descrito o caráter dos eleitos está inserida em Sua Palavra.[2]

          A eleição não é conhecida simplesmente pela nossa posição doutrinária ou por nossos discursos teológicos, mas, pelo nosso testemunho. Calvinistas e Arminianos, sem dúvida, poderão ser salvos, se arrependidos de seus pecados, confiarem unicamente em Cristo para sua salvação. Estar certo doutrinariamente, ainda que seja de extrema relevância, não significa ser salvo. Necessitamos urgentemente de nos arrepender e crer perseverantemente em Jesus Cristo.

          Conforme já demonstramos quando estudamos o assunto fé salvadora, ninguém será salvo por um conhecimento meramente intelectual, por mais amplo e profundo que este seja.

          Muito mais do que uma simples premissa teológica, a eleição de Deus é uma força dinâmica na vida dos crentes envolvendo toda a nossa existência. A humilde convicção da eleição eterna de Deus deve redundar em louvor a Deus e, pela graça, modelar o nosso caráter à imagem do eleito de Deus, Jesus Cristo (Rm 8.29-30/Tt 1.11-12).

          Portanto, ainda que o nosso conhecimento não seja absoluto, nem inspirado, temos as evidências. Paulo e Silas, por exemplo, puderam “ver” – um conhecimento fundamentado na experiência –, perceber nos crentes de Tessalônica, evidências de sua eleição, daí dizer: Reconhecendo (oi)=da), irmãos, amados de Deus, a nossa eleição” (1Ts 1.4).[3]

Ainda que a fé como fruto da eleição “tenha residência secreta nos recessos do coração, ela se comunica com os homens através das boas obras”, afirma Calvino.[4]

Calvino comentando 1Pe 1.1, interpreta que a nossa santificação é uma evidência de nossa eleição:

No tocante à nossa eleição, ele designa o primeiro lugar ao favor gratuito de Deus, e assim uma vez mais ele quer que a conheçamos pelos efeitos, pois nada há mais perigoso ou mais oposto do que ignorar nossa vocação e buscar a certeza de nossa eleição na presciência secreta de Deus, a qual é um labirinto insondável. Portanto, para eliminar este perigo, Pedro fornece a melhor correção; pois ainda que, antes de tudo, ele queira que consideremos bem o conselho de Deus, cuja causa está exclusivamente nele, contudo ele nos convida a notar bem o efeito, mediante o qual ele apresenta e dá testemunho de nossa eleição. Esse efeito é a santificação do Espírito, inclusive a vocação eficaz, quando se adiciona fé na pregação externa do evangelho, fé que é gerada pela operação interior do Espírito.[5]

          Conforme temos demonstrado, a santificação não é algo periférico ou acidental na vida do crente, antes, é um propósito para o qual devemos nos concentrar com todas as nossas forças espirituais a fim de cumprir o plano de Deus para nós.

Em síntese: A santificação é um imperativo expresso por Deus em sua Palavra para todos os seus filhos. A vida cristã é um desafio à santidade conforme o santo e gracioso propósito de Deus (Ef 1.4). De fato, não pode existir vida cristã estagnada, acomodada. Somos chamados ao crescimento, a um maior conhecimento de Deus.

          Por isso, na vida dos eleitos de Deus não há lugar para a aculturação passiva ao pecado. Deus nos chama à santidade, conforme a sua vocação sábia, soberana, santa e eterna. Sendo assim, a santificação faz parte essencial da vida da Igreja.

          Quando Jesus ora ao Pai para que nos santifique por meio da verdade, Ele pede ao Pai que, conforme a aliança trinitária eterna, cumpra o desígnio de nossa eleição em santificação! A obra de Cristo não ficou inacabada, antes, é completa. Tudo o que Ele faz é perfeito. Ele cumprirá em nós, com inteira satisfação, o seu propósito de santificação, conduzindo-nos à plena alegria da salvação.

          A santificação é uma vocação incondicional de todo o povo de Deus. Deus nos elegeu na eternidade em Cristo com este propósito: “para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele”(Ef 1.4). De fato, não há salvação sem santificação. A nossa eleição e salvação se evidenciam em nossa santificação; em nosso desejo de fazer a vontade de Deus.

          Quando por exemplo, na Oração do Senhor, suplicamos: “seja feita a Tua vontade”, estamos, na realidade, pedindo que Deus cumpra o seu propósito eterno em nós, que realize de forma plena o alvo de nossa eleição. E, concomitantemente, estamos conscientes de nossa responsabilidade, pedindo humildemente a Deus que nos capacite a fazer a sua vontade, conforme o seu desígnio eterno. (À frente falaremos mais especificamente de nossa responsabilidade).

Maringá, 21 de junho de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Joel R. Beeke; Mark Jones orgs. Teologia Puritana: Doutrina para a vida, São Paulo: Vida Nova, 2016, p. 758.

[2]C.H. Spurgeon, Sermões do ano de Avivamento,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1994, p. 83,84. (Pregado em 6 de março de 1859).

[3]Ver: W. Hendriksen, 1 e 2 Tessalonicenses,São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1998, (1Ts 1.4), p. 71-72 e R.C.H. Lenski, Commentary on the New Testament, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1998, v. 9, (1Ts 1.4), p. 223.

[4] João Calvino, As Pastorais, (Fm 6), p. 368. Em outro lugar:

“Aos eleitos. [1Pe 1.1] Pode-se indagar como isso poderia ser descoberto, se a eleição divina é oculta, e não pode ser conhecida sem a revelação especial do Espírito; e como cada um de nós se certifica de sua eleição pessoal mediante o testemunho do Espírito, assim nada pode saber com certeza acerca dos demais. Eis minha resposta: não devemos inquirir curiosamente acerca da eleição de nossos irmãos; mas, ao contrário disso, devemos levar em conta sua vocação, de modo que todos quantos são, mediante a fé, admitidos na igreja, devem ser considerados eleitos; pois desse modo Deus os separa do mundo, o que é um sinal de sua eleição. Não constitui objeção afirmar que apostatam, nada possuindo senão aparência; pois é o juízo da caridade e não da fé quando julgamos como sendo eleitos todos quantos exibem a marca da adoção divina. E que ele não extrai sua eleição do conselho secreto de Deus, e sim a deduz do efeito, é evidente do contexto; pois em seguida ele a conecta com a santificação do Espírito. Portanto, até onde provam que foram regenerados pelo Espírito Santo de Deus, até aí podem julgar que são eleitos de Deus, pois este não santifica a ninguém mais senão aqueles a quem ele previamente elegeu” (John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1996 (reprinted), v. 22/2, (1Pe 1.1), p. 24).

[5]John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1996 (reprinted), v. 22/2, (1Pe 1.1), p. 25.

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