A Oração e o Reino de Deus: Uma oração comprometida (4)

 

B. Que o Reino de Deus seja o reinado de Deus em nossos corações

 

Oramos para que o Deus que habita em nós seja intensamente o Senhor de nossa vida; para que a sua vontade seja feita completamente em nós. Colocarmo-nos como súditos do Reino equivale a reconhecer o senhorio de Cristo sobre nós. “Orar pelo Reino de Deus é orar pela submissão total de nossos desejos à vontade de Deus”.[1]

 

“Venha o teu Reino” implica no desejo intenso e ardente de total consagração e submissão a Deus e à sua autoritativa Palavra, tendo unicamente a vontade de Deus valor decisório para a nossa vida. A Igreja que ora deste modo deseja, cada vez mais, ser a antecipação histórica do Reino; um sinal eloquente do “já” no “ainda não”. Portanto, nesta petição está embutida a busca sincera e consciente por vivenciar, dia após dia, a mesma experiência de vida descrita por Paulo: “Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20).

 

C. Que o Reino de Deus se estabeleça completa e definitivamente

 

Esta oração tem um sentido escatológico. Ela envolve a petição da Igreja para que Deus cumpra a Sua promessa: a Igreja, quando suplica deste modo, está “esperando e apressando a vinda do dia de Deus” (2Pe 3.12).

 

A consumação do Reino se dará quando Cristo voltar; e nós que temos as primícias do Espírito, pelo Espírito, podemos dizer: “Vem, Senhor Jesus” (Ap 22.17,20).

 

Barclay (1907-1978) aqui pode ser usado com proveito:

 

Também pedimos que cada vez mais queira Ele revestir de glória a sua luz e a sua verdade, para que, assim, as trevas e as mentiras do Diabo e seus agentes se desvaneçam e sejam desarraigadas, confundidas e aniquiladas. Orando, pois, no sentido de que o reino de Deus venha, paralelamente estamos rogando que ele seja finalmente consumado e concretize o seu cumprimento, o que se dará no dia do juízo final, quando todas as coisas serão reveladas. Nesse dia, somente Ele será exaltado, e será ‘tudo em todos’ (1Co 15.28), após haver recebido os Seus na glória e haver reprimido, subjugado e arruinado todo o reino do Diabo.[2]

 

Na realidade, não podemos fazer esta oração sem o desejo sincero de Santificação: O Reino de Cristo intensamente em nós; Evangelização: O Reino de Cristo sobre todos os eleitos; Volta de Cristo: O estabelecimento definitivo do Reino de Deus sobre todas as coisas.

 

Antes de encerrarmos este ponto, gostaria de dizer algumas palavras sobre o Reino e a concretude de nossa esperança. Em alguns momentos de nossa vida podemos ser tentados a desanimar, ser impacientes, tendo a impressão de que o mal vence o bem, que a honestidade e a dignidade estão descaracterizadas, sendo premiados a esperteza, a falsidade, o logro. Todavia, a Palavra de Deus nos mostra que a vitória de Deus e de Seus ensinamentos é certa, por isso, somos mais do que vencedores em Cristo Jesus, ainda que esta vitória nem sempre seja perceptível aos nossos olhos.

 

A.A. Hoekema (1913-1988) comenta:

 

Quando o fermento (ou levedura) é colocado na farinha, nada parece acontecer por um momento, mas ao final toda a massa está fermentada. De maneira semelhante, o Reino de Deus está escondido agora, fazendo sua influência ser silenciosa, mas penetrante, até que um dia surgirá a céu aberto para ser visto por todos. Portanto, o Reino, em seu estado presente,       é objeto de fé, não de vista. Mas quando a fase final do Reino for instaurada pela segunda vinda de Jesus Cristo, “todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2.11).[3]

 

Mais à frente Hoekema continua:

 

Nós estamos no Reino e, mesmo assim, aguardamos sua manifestação completa; nós compartilhamos de suas bênçãos, mas ainda aguardamos sua vitória total; nós agradecemos a Deus por ter-nos trazido para o Reino do Filho que Ele ama, e ainda assim continuamos a orar: “Venha o teu reino”.[4]

 

O Reino é uma realidade presente vivenciada por todos aqueles que creem em Cristo; todavia, ele não é estabelecido por nós. O Reino pertence a Deus (Mt 6.13); e nele se origina e se desenvolve. “Sua vinda unicamente se compreende sobre a base de sua ação milagrosa e todo-poderosa”.[5] Todavia, nem por isso deixamos de orar: “Venha o Teu Reino”. “A vinda do Reino é totalmente independente de nosso poder (…). Porém a vinda do Reino é objeto de nossa oração”, instrui-nos Barth (1886-1968).[6]

 

O Reino de Deus envolve a redenção cósmica, a consumação definitiva do propósito de Deus na história. A vinda do Reino será o shalom da igreja.[7]

 

Considerando que o Reino já se evidencia na igreja, cabe a nós de forma comprometida com o Reino e totalmente dependente do Rei soberano, orarmos: “Venha o Teu Reino”. Amém.

 

 

Maringá, 10 de janeiro de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 


 

[1] William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires: La Aurora, 1973, (Mateo I), v. 1, p. 225.

[2]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 3, (III.9), p. 124.

[3] A.A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, p. 71.

[4]A.A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, p. 72.

[5] H. Ridderbos, El Pensamiento del Apóstol Pablo, Buenos Aires: La Aurora, 1987, v. 1, p. 43.

[6] K. Barth, La Oración, Buenos Aires: La Aurora, 1968, p. 52. “O reino é de todo obra de Deus, ainda quando opera em e através dos homens” (G.E. Ladd, Reino de Deus: In: E.F. Harrison, ed. Diccionario de Teologia, Michigan: TELL., 1985, p. 450b).

[7] Cf. Cornelius Plantinga Jr., O Crente no Mundo de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 107.

One thought on “A Oração e o Reino de Deus: Uma oração comprometida (4)

  • 31 de março de 2019 em 23:38
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    Em oração ter uma vida de oração

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