A Pessoa e Obra do Espírito Santo (440)

6.4.12.1.2. A nulidade e loucura da sabedoria humana nas questões espirituais

Milosz (1911-2004), escritor Russo, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura (1980), escreveu de forma provocante:

Religião, ópio do povo! Para aqueles que sofrem de dor, humilhação, doença e servidão, prometeu uma recompensa na vida após a morte. E agora estamos passando por uma transformação. Um verdadeiro ópio para as pessoas é a crença em nada após a morte – o grande consolo em pensar que não somos julgados por nossa traição, ganância, covardia e homicídio.[1]

            Paulo, com toda a sua genialidade iluminada pelo Senhor, inclusive por causa disso, percebe as limitações próprias de nosso intelecto. O apóstolo, por isso mesmo, suplica pela sabedoria de Deus porque, nós, por nossa própria sabedoria jamais poderemos compreender salvadoramente o que Deus nos tem revelado. E mais: se pudéssemos por nós mesmos fazê-lo, não haveria graça, mas, mérito humano.[2] Assim, não haveria porque louvar o Deus da graça que a derramou abundantemente sobre nós (Ef 1.5-8). A grandeza estaria no homem e em sua capacidade de bem conduzir a sua razão.

            Porém, como sabemos, a razão humana, por si só, não assistida pela graça, não pode chegar às verdades espirituais.[3] O fato, portanto, é que o Evangelho permaneceria oculto a todos nós se Deus não O manifestasse e não nos concedesse o Espírito de sabedoria para entendê-lo.[4]

            É por isso que a pregação de Paulo a judeus e gentios não poderia ser outra do que “a Cristo, poder de Deus e sabedoria (sofi/a) de Deus” (1Co 1.24). (Do mesmo modo: 1Co 1.30).

            A sabedoria do homem sem Deus, em seus devaneios autônomos, o tornou louco, afetando todos os domínios do seu coração, pretendendo passar por sábio autônomo,[5] rejeitou a Deus e a Sua revelação, tornando-se enlouquecidamente escravo de toda sorte de paixões idólatras. Paulo escreve sobre isso aos Romanos:

18 A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; 19 porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. 20 Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; 21 porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. 22 Inculcando-se por sábios (sofo/j), tornaram-se loucos (mwrai/nw) 23 e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis (Rm 1.18-23).

            A idolatria torna os homens cativos de uma forma viciada de pensar. O produto de nossos raciocínios torna-se nulo em sua própria elaboração. As evidências da revelação são sempre ocultadas em seus corações dominados por uma forma rotineira de pensar e determinantemente horizontal, tendo como fim os seus interesses (Rm 1.19-21).

            Schaeffer (1912-1984) comenta:

Quando a Escritura fala do homem sendo deste jeito tolo, não significa que ele é apenas religiosamente tolo. Antes, significa que ele aceitou uma posição que é intelectualmente tola, não somente com respeito ao que a Bíblia diz, mas também em relação àquilo que existe – o universo e sua forma, e a humanidade do homem. Ao se afastar de Deus e da verdade que ele deu, o homem ficou tolamente tolo em relação ao que o homem é e ao que o universo é. Ele é deixado em uma posição com a qual ele não consegue viver, e ele é pego numa multidão de tensões intelectuais e pessoais.[6]

            Ao que parece a idolatria, já como resultado da obscuridade espiritual, elimina boa parte de nossa sensibilidade espiritual, brutalizando-nos, amortecendo certas faculdades nossas. Por isso, é que a idolatria nunca vem sozinha, ela sempre está acompanhada de outras práticas irracionais e pecaminosas.

Maringá, 25 de março de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Czeslaw Milosz, Diskreter Charme des Nihilismus.  In:  New York Times Revies of Books,  19 de novembro de 1998 (https://www.nybooks.com/articles/1998/11/19/discreet-charm-of-nihilism/) (Consulta feita em 25.03.2022). 

[2]“Se todo homem fosse capaz de crer e ter fé de moto próprio, ou a pudesse obter por algum poder de si mesmo, o louvor disso não teria que ser dado a Deus” (João Calvino, Sermões em Efésios, Brasília, DF.: Monergismo, 2009, p. 132).

[3]Veja-se: John MacArthur, Deus: Face a face com sua majestade, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2013, p. 67.

[4] “O Evangelho só pode ser entendido por meio da fé – não pela razão, nem pela perspicácia do entendimento humano, porque de outro modo ele seria algo oculto de nós” (João Calvino, Colossenses: In: Gálatas – Efésios – Filipenses – Colossenses, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2010, (Cl 2.1-5), p. 531).

[5]“A forma extrema da idolatria é o humanismo, que vê o homem como a medida de todas as coisas” (R.C. Sproul, O que é a teologia reformada: seus fundamentos e pontos principais de sua soteriologia, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 33).

[6]Francis A. Schaeffer, Morte na Cidade,São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 12.

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