Teologia da Evangelização (109)

3.4.2.1. O Poder do Trino Deus (Continuação)

7) Vejamos algumas das manifestações do poder de Deus na vida de seus servos:

a) Na Parábola dos Talentos, vemos que talentos são distribuídos conforme a “capacidade” de cada um: “Porque isto é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens, e a um deu cinco talentos, e a outro, dois, e a outro, um, a cada um segundo a sua capacidade (du/namij), e ausentou-se logo para longe” (Mt 25.14-15).

b) Os apóstolos nos sinais miraculosos operados demonstravam reconhecer o poder vindo de Jesus Cristo. Após a cura de um coxo de nascença, Pedro se dirige ao povo atônito: “…. Israelitas, por que vos maravilhais disto ou por que fitais os olhos em nós como se pelo nosso próprio poder (du/namij) ou piedade o tivéssemos feito andar? (…) Pela fé em o nome de Jesus, é que esse mesmo nome fortaleceu a este homem que agora vedes e reconheceis; sim, a fé que vem por meio de Jesus deu a este saúde perfeita na presença de todos vós” (At 3.12,16).

Diante do Sinédrio, Pedro e João ouvem a pergunta das principais autoridades judaicas: “Com que poder (du/namij) ou em nome de quem fizestes isto?” (At 4.7). Segue então o seu testemunho a respeito da salvação em Cristo Jesus. Este poder era uma das credenciais do apostolado: “Pois as credenciais do apostolado foram apresentadas no meio de vós, com toda a persistência, por sinais, prodígios e poderes miraculosos (du/namij) (2Co 12.2).

c) Os apóstolos testemunhavam a respeito da ressurreição de Cristo: “Com grande poder (du/namij), os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça” (At 4.33).

d) Estevão cheio de graça e poder, operava grandes sinais: “Estêvão, cheio de graça e poder (du/namij), fazia prodígios (te/raj)[1] e grandes sinais (shmei=on)[2] entre o povo” (At 6.8).

e) Por intermédio de Paulo Deus operava milagres extraordinários: “E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres (du/namij) extraordinários”[3](At 19.11).

O objetivo de todos os sinais e prodígios era, pelo Espírito, divulgar o Evangelho a fim de que os homens se convertessem a Cristo:

Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas que Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência, por palavra e por obras, por força de sinais e prodígios, pelo poder (du/namij) do Espírito Santo; de maneira que, desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo. (Rm 15.18-19).

Notemos a relação estreita entre graça e poder (At 4.33; 6.8; Ef 3.7). O mago Simão era chamado pelo povo de poder de Deus (At 8.10). Ele supostamente convertido, admirou-se dos sinais feitos por Filipe e pelos apóstolos. Querendo adquirir poder semelhante para si, propôs aos apóstolos uma compra, no que foi duramente repreendido por Pedro (At 8.13-24).

f) Primeiramente, o chamado para o Ministério da Palavra não é uma questão de querer ou não querer; depende exclusivamente do Poder de Deus; posteriormente, como algo natural, o homem deseja cumprir o ministério recebido, atendendo à vocação de Deus. Deus atua em nossa vontade mediante o seu poder: “…. os gentios são coerdeiros, membros do mesmo corpo e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho; do qual fui constituído ministro conforme o dom da graça de Deus a mim concedida segundo a força operante do seu poder (du/namij)(Ef 3.7)(Ver: Jr 1.5; Gl 1.15; Fp 2.13).[4]

Paulo trabalha arduamente conforme o poder que opera eficientemente nele: “Para isso é que eu também me afadigo (kopia/w),[5]esforçando-me o mais possível (a)gwni/zomai),[6]segundo a sua eficácia (e)ne/rgeia)[7] que opera (e)nerge/w) eficientemente (du/namij) em mim” (Cl 1.29). A nossa pregação deve ser no poder do Espírito: “….o nosso evangelho não chegou até vós tão somente em palavra, mas, sobretudo, em poder (du/namij), no Espírito Santo e em plena convicção, assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor de vós” (1Ts 1.5).

Os milagres visavam confirmar a mensagem do Evangelho: “Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres (du/namij) e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade” (Hb 2.3-4).

Maringá, 03 de novembro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]A palavra indica algo que é maravilhoso, prodigioso, causa assombro, é estarrecedor; é aquilo que desperta a atenção, é novo e incomum, sendo guardado na memória. Satanás também usa deste recurso para enganar, se possível os eleitos (Mt 24.24 (= Mc 13.22); 2Ts 2.9); Jesus, além de sinais, operou prodígios (At 2.22); do mesmo modo os apóstolos (At 2.43; 5.12), os quais reconheciam ser isto obra de Deus (At 4.30; 14.3). Estevão, Paulo e Barnabé também realizaram prodígios (At 6.8; 14.3; 15.12). Assim como os “sinais”, os “prodígios” se constituíam num dos elementos que credenciavam o apóstolo (2Co 12.12). Eles tinham uma função de confirmar o anúncio da salvação (Hb 2.3,4). (Quanto a maiores detalhes sobre esta palavra, veja-se: O. Hofius, Milagre: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 3, p. 175; K.R. Rengstorf, te/raj: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament,Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), v. 8, p. 113-126; Richard C. Trench, Synonyms of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1985 (Reprinted), p. 339-344; Richard C. Trench, Notes on The Miracles of Our Lord, London: Kegan Paul, Trench, Truubner, & Co. Ltd., 1911, p. 2ss.).

[2] A palavra indica uma marca ou sinal indicativo pelo qual alguma coisa é identificada; aponta para outra coisa cujo significado parece obscuro. Esta palavra é usada para referir-se aos milagres divinos: (Mt 12.38,39; 16.1,4; Mc 8.11,12; 16.17,20; Lc 11.16; Jo 2.11) e de Satanás e seus mensageiros: (Mt 24.24; Mc 13.22; 2Ts 2.9; Ap 13.13,14;16.14;19.20). Os discípulos querem um sinal da vinda de Cristo (Mt 24.3/24.30; Mc 13.4); o beijo traidor de Judas serviu como sinal (Mt 26.48); a criança nascida em Belém era um sinal do nascimento do Messias (Lc 2.12); Simeão diz que Jesus será “alvo” (shmei=on) de contradição. (Lc 2.34). Jonas foi um sinal para os ninivitas e Jesus era para a sua geração (Lc 11.29,30). Herodes queria ver Jesus realizar algum sinal (Lc 23.8); os judeus queriam um sinal de Jesus que atestasse a Sua autoridade (Jo 2.13-18/3.2/6.14; 6.30); muitos creram por meio de Seus sinais (Jo 2.23/4.48; 6.2; 7.31). Todavia, outros estavam mais preocupados com o pão (Jo 6.26), e outros, ainda que vendo os sinais, não creram (Jo 12.37); contudo gostavam de ver sinais (Mt 16.1/1Co 1.22). Os sinais de Jesus deixavam confusos os judeus e amedrontadas as autoridades (Jo 9.16; 11.47,48). João diz que Jesus fez “muitos outros sinais”, contudo estes foram registrados para que os homens cressem (Jo 20.30,31/Hb 2.3,4). Os sinais incitam “a mente humana a atentar para algo mais elevado que a mera aparência” (João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 2.4), p. 55). João Batista não fez sinal, contudo, tudo que disse era verdade (Jo 10.41). Os apóstolos também realizaram sinais (At 2.43; 4.16; 5.12) reconhecendo que estes eram obra de Deus (At 4.30; 14.3; 15.12). Estevão, Filipe, Paulo e Barnabé, do mesmo modo, operaram sinais (At 6.8; 8.13; 14.3; 15.12; Rm 15.19). Os sinais se constituíam num dos elementos que credenciavam o apóstolo (2Co 12.12). Resumindo: os sinais de Cristo nunca eram praticados com fins egoístas ou, com o propósito de se mostrar aos Seus ouvintes. Na realidade vimos sempre o propósito de glorificar a Deus, relacionar de forma fundamental a base sobrenatural da revelação e, também, satisfazer e aliviar as necessidades humanas. (Quanto a maiores detalhes sobre esta palavra, Vejam-se: K.R. Rengstorf, shmei=on, etc.: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament,v. 7, p. 200-269; O. Hofius, Milagre: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 3, p. 169-174; Richard C. Trench, Synonyms of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1985 (Reprinted), p. 339-344; Richard C. Trench, Notes on The Miracles of Our Lord, London: Kegan Paul, Trench, Truubner, & Co. Ltd., 1911, p. 2ss.).

[3] Tugxa/nw indica algo que é incomum ou extraordinário.

[4]“Entre tantos dotes preclaros com os quais Deus há exornado o gênero humano, esta prerrogativa é singular: que digna a Si consagrar as bocas e línguas dos homens, para que neles faça ressoar Sua própria voz” (João Calvino, As Institutas, IV.1.5). “A Deus pertence com exclusividade o governo de sua Igreja. Portanto, a vocação não pode ser legítima a menos que proceda dele” (João Calvino, Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 1.1), p. 22).

[5] O verbo kopia/w e o substantivo ko/poj descrevem um trabalho estafante, difícil, árduo, trabalhar até à exaustão. Curiosamente, Paulo é quem mais utiliza esta palavra para se referir ao seu ministério: “….em tudo recomendando-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos (ko/poj)….” (2Co 6.4-5).(Ver: 2Co 11.23,27). Paulo trouxe à memória dos tessalonicenses, a lembrança do seu labor, de como ele se esforçou por pregar o Evangelho sem depender financeiramente daqueles irmãos: “Porque, vos recordais, irmãos, do nosso labor (ko/poj) e fadiga; e de como, noite e dia labutando para não vivermos à custa de nenhum de vós, vos proclamamos o evangelho de Deus” (1Ts 2.9/2Ts 3.8; At 20.35; 1Co 4.12; 15.10). Paulo também relembra aos irmãos que quando teve de partir de Tessalônica devido a perseguição que se moveu contra ele, manteve-se preocupado com a Igreja. Assim, tendo enviado a Silas e Timóteo para verificar o estado da Igreja, aguardou-os num primeiro momento em Atenas: “Foi por isso que, já não me sendo possível continuar esperando, mandei indagar o estado da vossa fé, temendo que o Tentador vos provasse, e se tornasse inútil o nosso labor (ko/poj) (1Ts 3.5).

            Escrevendo aos Romanos, Paulo destaca algumas irmãs que se exauriam no trabalho de Deus:  “Saudai a Maria que muito trabalhou (kopia/w) por vós” (Rm 16.6). “Saudai a Trifena e a Trifosa, as quais trabalhavam (kopia/w) no Senhor. Saudai a estimada Pérside que também muito trabalhou (kopia/w) no Senhor” (Rm 16.12).

            Ao Anjo da Igreja de Éfeso, o Senhor diz: “Conheço as tuas obras, tanto o teu labor (ko/poj) como a tua perseverança….” (Ap 2.2). Na visão do Apocalipse, João registra a palavra vinda do céu: “Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas (ko/poj), pois as suas obras (e)/rgon) os acompanham” (Ap 14.13).

[6]A)gwni/zomai, a)gw/n e a)gw=noj descrevem um esforço atlético (1Co 9.25, “atleta”), um combate (1Tm 6.12;Tm 4.7 (duas vezes em ambos os textos)), uma luta (1Ts 2.2) por conseguir o seu objetivo. (Ver: Cl 4.12; 1Tm 4.10). A nossa palavra “agonia” é a transliteração de a)gwni/a, conforme traduzida em Lc 22.44 referindo-se ao tormentoso sofrimento de Cristo: “E, estando em agonia (a)gwni/a), orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra”

[7]E))ne/rgeia“trabalho efetivo” –, de onde vem a nossa palavra “energia”, passando pelo latim, energîa. Esse substantivo é empregado tanto para Deus (Ef 3.7; 4.16; Fp 3.21; Cl 1.29; 2.12) como para Satanás (2Ts 2.9). Estando este subordinado à e)ne/rgeia de Deus (2Ts 2.11). E)ne/rgeia e seus derivados, no NT, descreve sempre um poder eficaz em atividade sobre-humana, através da qual a natureza de quem a exerce se revela (Veja-se: William Barclay, Palavras Chaves do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1988, p. 51-57).

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