A Pessoa e Obra do Espírito Santo (472)

7. O Ministério eficaz do Espírito em nossa vida diária (Continuação)

7.7. Dá-nos esperança 

  “E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo” (Rm 5.13).

   “Porque nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provém da fé” (Gl 5.5).

            A fé é demonstrada na nossa atitude de esperança depositada em Deus e nas suas promessas. A esperança sem o conhecimento de Cristo e de suas promessas, é apenas uma utopia humana, criada pelo gênio inventivo do homem em busca de uma sociedade melhor. Todavia isto não é a esperança cristã. Jesus Cristo é o Senhor e o alvo da nossa esperança que procede da fé (Rm 4.18; 6.8; 1Co 15.19; 2Tm 1.12; 4.7; Hb 11.1).

            Fomos regenerados pelo Espírito para uma viva esperança que se fundamenta num fato histórico: a ressurreição de Jesus Cristo (1Pe 1.3/1Co 15.12-20).

            Provavelmente no início do 5º século da Era Cristã, Agostinho (354-430), num sermão, diria:

A fé dos cristãos não é louvável porque eles creem no Cristo que morreu, mas no Cristo que ressuscitou. Pois, também o pagão acredita que ele morreu e te acusa como de um crime teres acreditado num morto. Que tens, portanto, de louvável? teres acreditado que Cristo ressuscitou e esperar que hás de ressuscitar por Cristo. Nisto consiste uma fé louvável. ‘Se confessares com tua boca que Jesus é Senhor e creres em teu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo’ (Rm 10.9). (…) Esta é a fé dos cristãos.[1]

            A esperança cristã, produzida pelo poder do Espírito em nós, ampara-se em Cristo. Jesus Cristo é o Senhor e o alvo da nossa esperança que procede da fé. (Rm 4.18; 6.8; 1Co 15.19; 2Tm 1.12; 4.7; Hb 11.1).

            Nossa fé repousa na veracidade de Deus e de sua promessa. O limite de nossa fé está circunscrito pela promessa de Deus. Portanto, se Deus não prometeu não podemos nem devemos crer.[2] Uma fé assim, originada, orientada e dirigida pela Palavra, jamais será frustrada.[3]

            A esperança cristã não é mera utopia, antes se alimenta da Palavra. “A abordagem cristã para o futuro é sempre a da esperança nutrida pela Palavra. O futuro é nítido porque está cheio de promessas; promessas estas da Palavra de Deus”, comenta Venema.[4]

            A nossa fé se manifesta de forma concreta em nossa atitude de esperança unicamente depositada em Deus e em suas promessas.

            A esperança cristã, por ser produzida pelo Espírito, também não se confunde com um otimismo fundamentado na falsa ideia do “poder do pensamento positivo”. A esperança cristã está alicerçada na certeza de que os caminhos de Deus serão sempre vitoriosos, pois Deus é o Senhor da História.

            O realismo cristão é repleto de esperança, porque consegue ter uma perspectiva diferente da realidade; enxerga os problemas dentro de um quadro de referência teológico, sabendo que Deus consumará a sua vontade a despeito da maldade humana e dos ardis de satanás

            Assim compreendendo, Paulo, na prisão pôde escrever aos filipenses:

Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as cousas que me aconteceram têm antes contribuído para o progresso do evangelho; de maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais; e a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus. (Fp 1.12-14).

            Como é óbvio, a situação de Paulo não era cômoda nem tranquila, no entanto, pelo Espírito, ele tinha uma visão real dos fatos. Paulo não estava iludido, antes, sabia avaliar teologicamente todas as questões.

            Cerca de 5 anos antes, então em Corinto, Paulo escreveu a Epístola aos Romanos onde dizia: “Sabemos que todas as cousas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”(Rm 8.28).

Fazendo um retrospecto da pregação em Filipos, constatamos a “lógica” de Paulo: ele desejava ir para a Bitínia, porém o Espírito de Deus não o permitiu (At 16.7), depois, ele teve a visão “na qual um varão macedônio estava em pé e lhe rogava, dizendo: Passa a Macedônia, e ajuda-nos”(At 16.9).  Foi para Filipos. Assim, juntamente com Silas, pôde pregar naquela colônia romana, evangelizando Lídia, a vendedora de púrpura e a todos os seus familiares (At 16.14,15).

Depois Paulo expulsou o demônio de uma jovem adivinhadora, dando prejuízo aos seus senhores. Foi acusado, açoitado e preso. Na prisão, teve a oportunidade de pregar ao carcereiro que se converteu juntamente com os seus familiares e, também, testemunhou para os outros companheiros de cela. Portanto, Paulo sabia o que estava dizendo (Fp 1.12).

            Agora, havia em Filipos uma grande e viva Igreja que veio à existência através daqueles acontecimentos ocorridos há cerca de 10 anos. Além disso, a sua atual prisão em Roma estava estimulando a maioria dos irmãos a viver dignamente a sua fé e a proclamarem o Evangelho com ousadia.(Fp 1.12-17).

            Desse modo, aos irmãos perseguidos, pôde dizer: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo, e não somente de crerdes nele, pois tendes o mesmo combate que vistes em mim e ainda agora ouvis que é o meu”(Fp 1.29-30).

            Quando aprendemos a ter uma visão real dos fatos, tornamo-nos mais felizes, sem otimismo ou pessimismo humanos, somos apenas realistas em Deus, depositando toda a nossa esperança em Deus e na sua promessa, considerando a Deus em todos os nossos caminhos. (Vd. Sl 119.71; Is 38.17; Rm 8.28).

            Bavinck é-nos instrutivo:

A doutrina da providência não é um sistema filosófico, mas uma confissão de fé, a confissão de que, apesar das aparências, nem Satanás, nem o ser humano, nem qualquer outra criatura, mas somente Deus – mediante seu poder Todo-Poderoso e presente em toda parte – preserva e governa todas as coisas. Essa confissão pode nos salvar tanto de um otimismo superficial que nega os mistérios da vida quanto de um pessimismo arrogante que se desespera deste mundo e do destino humano.[5]

            Calvino, por sua vez, admitindo que muitos são cegos para perceber as obras de Deus, instrui-nos: “Aprendamos que somente os que se consideram possuidores da faculdade perceptiva, a quem foi dado o Espírito de discernimento, os quais não ocupam sua mente em pousar sobre os meros eventos que sucedem, mas têm a capacidade de discernir em si, pela fé, a mão secreta de Deus”.[6]

Maringá, 08 de maio de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa



[1] Agostinho, Comentário aos Salmos, (Sl 101), v. 3, p. 32-33.

[2]Veja-se: João Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 10.23), p. 270.

[3]Veja-se: João Calvino, O Livro de Salmos, v. 2, (Sl 48.8), p. 361.

[4]Cornelius P. Venema, A Promessa do futuro, São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 28.

[5]Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 631.

[6] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2,(Sl 40.3), p. 218. “Por mais diligentemente uma pessoa se põe a meditar sobre as obras de Deus, ela só pode alcançar as superfícies ou as bordas delas. Embora sendo assim de tão grande altitude, muito acima de nosso alcance, devemos, não obstante, diligenciar-nos, o quanto nos for possível, por aproximar-nos dela mais e mais em contínuo progresso; ao vermos também a mão divina estendida para descortinar-nos, o quanto nos é oportuno, aquelas maravilhas que por nós mesmos somos incapazes de descobrir” (João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 40.5), p. 223).

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