Uma oração intercessória pela Igreja (35)

8) É o Senhor que  Julga retamente[1]

                Jesus Cristo é o Senhor que julga os anjos, os povos e, também a Sua igreja. Nada escapa ao seu escrutínio (Hb 12.23).[2] Paulo, no final da vida se confortava nesta certeza que o acompanhou em sua existência e pontuou seus ensinamentos:

8 Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor (ku/rioj), reto (di/kaioj) juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda. (….) 14 Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor (ku/rioj) lhe dará a paga segundo as suas obras (2Tm 4.8,14/Jo 5.26-27).

            As nossas causas não são indiferentes a Deus. Os nossos juízos e os juízos dos outros a nosso respeito não são coisas de somenos importância aos olhos do Senhor que percebe as coisas como de fato são, visto que tudo Ele tem diante de si, já que tudo que existe, existe por sua preservação.

            Comentado o Salmo 62, Calvino (1509-1564) escreve:

O Deus que governa o mundo por sua providência o julgará com justiça. A expectativa disto, devidamente apreciada, terá um feliz efeito na disposição de nossa mente, acalmando a impaciência e restringindo qualquer disposição ao ressentimento e retaliação em face de nossas injúrias.[3]

            Em outro lugar:

As coisas neste mundo não são governadas de uma maneira uniforme. (…) Deus reserva uma grande parte dos juízos que se propõe executar para o dia final, para que nós estejamos sempre em suspenso, esperando a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.[4]

            Paulo escreve aos coríntios:

4 Porque de nada me argui a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor (ku/rioj). 5Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor (ku/rioj), o qual não somente trará à plena luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e, então, cada um receberá o seu louvor da parte de Deus (1Co 4.4-5).

            O juízo de Cristo será íntegro devido à sua própria natureza e, também, devido à sua onisciência: nada ficará oculto diante do seu escrutínio (Mt 10.26; Lc 8.17; Rm 2.16; 1Co 4.5).

            Todavia, como acentua Bavinck (1854-1921):

Quando Cristo começar a julgar, nós sabemos que tipo de julgamento será esse: misericórdia e Graça e ao mesmo tempo perfeita justiça. Ele conhece a natureza do homem e tudo o que há nela; Ele conhece os lugares secretos do coração e pode detectar nele todo mal e corrupção, mas Ele vê também o menor começo de fé e de amor que estiver presente ali. Ele não julga de acordo com a aparência, nem de acordo com pessoas, mas de acordo com a verdade e com a justiça.[5]

         9) É o Senhor da Glória

             A maioria das pessoas que conviveu com Jesus Cristo durante o seu ministério terreno não conseguia perceber que aquele homem tão doce e acessível, amado e odiado, reverenciado e temido, era o próprio Deus encarnado. O Deus, o Senhor da glória.[6]

            Paulo escreve aos coríntios mostrando a nulidade do conhecimento humano diante da sublimidade de Cristo, o Senhor: “Sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor (ku/rioj) da glória” (1Co 2.8/Tg 2.1/Jo 17.1-5)

             Ele fez-se pobre por amor do Seu povo: “Pois conheceis a graça de nosso Senhor (ku/rioj) Jesus Cristo, que, sendo rico (plou/sioj), se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos (ploute\w) (2Co 8.9).

Os nossos cânones intelectuais, sociais e culturais não conseguem por si só enxergar a majestade do Filho visto que não temos como mensurar o incomensurável.

Como essa é também uma questão essencialmente espiritual, Satanás está comprometido com o velamento de nosso entendimento para que a Glória do Filho revelada no Evangelho não resplandeça a nós:  “O deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2Co 4.4).   

***

            O Senhorio de Cristo sobre o seu povo, é um Senhorio Pastoral. Ele não apenas nos governa, mas também nos protege, ensina, disciplina, sustenta, etc. Por isso, o escritor da Carta aos Hebreus orou em favor dos crentes aos quais se destinava: “Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus nosso Senhor (ku/rioj), o grande Pastor das ovelhas….”(Hb 13.20. Vejam-se também, Jo 10.11; 1Pe 5.4).

Maringá, 01 de maio de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Para uma abordagem mais completa sobre esse ponto, vejam-se:

[2]“E igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12.23).

[3] João Calvino,O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 2, (Sl 62.12), p. 584. “Não obstante a confusão reinante no mundo, é certo que Ele jamais cessa de exercer a função de Juiz. Todos quanto se derem ao trabalho de abrir seus olhos para contemplarem o governo do mundo, verão distintamente que a paciência de Deus é muito diferente de aprovação ou conivência. Seguramente, pois, seu próprio povo, confiadamente, a Ele recorrerá a cada dia” (João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 7.11), p. 149).

[4] Juan Calvino, El Uso Adecuado de la Afliccion: In: Sermones Sobre Job, Jenison, Michigan: T.E.L.L., 1988, (Sermon nº 19), p. 226.

[5]Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, 4. ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1984, p. 564.

[6] Veja-se: R.C. Sproul, A Glória de Cristo, São Paulo: Cultura Cristã, 1997.

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