Teologia da Evangelização (195)

5.5. Devemos estar preparados para defender e confirmar o Evangelho (Continuação)

A Igreja como sinal da presença de Deus

            Assim como no Antigo Testamento, o templo era o símbolo da presença de Deus no meio de Israel, a Igreja, constituída de todos os eleitos de Deus, deve refletir, na atualidade, a realidade da presença dele entre os homens.

            A Igreja é o testemunho da presença e da atuação de Deus entre os homens. A Igreja é o reflexo da presença de Deus.

            A Igreja diz ao mundo mediante a sua própria realidade histórica e testemunho, que ainda há esperança de salvação. A Igreja como luz do mundo e sal da terra, constitui-se numa bênção inestimável para toda a humanidade.[1]

A Igreja, portanto, é a presença de Jesus Cristo por meio de seu povo, em prol do mundo. Embora provisória, essa presença é real, humana e histórica. Cristo age por meio da Igreja realizando sua obra e confirmando sua vitória. Nesse sentido, não há salvação fora da Igreja, desde que esta se disponha a servir e glorificar Jesus Cristo.[2]

            Portanto, a igreja não foi constituída para barganhar com o mundo, antes para apresentar em sua vida e testemunho o Evangelho de Jesus Cristo e o seu poder transformador.

A igreja basicamente preserva a verdade por meio do seu conhecimento, prática e ensino: Devemos conhecer a Palavra a fim de poder usá-la corretamente.

A Timóteo, Paulo recomenda: Procura (spouda/zw = “esforçar-se com zelo”, “apressar-se”)[3] apresentar-te a Deus aprovado (do/kimoj = “aprovado após exame”),[4] como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem (o)rqotome/w)[5]a palavra da verdade (a)lh/qeia) (2Tm 2.15).

Calvino traduz a metáfora usada por Paulo, “maneja bem” (2Tm 2.15) por “dividindo bem”, fazendo a seguinte aplicação:

Paulo (…) designa aos mestres o dever de gravar ou ministrar a Palavra, como um pai divide um pão em pequenos pedaços para alimentar seus filhos. Ele aconselha Timóteo a ‘dividir bem’, para não suceder que, como fazem os homens inexperientes que, cortando a superfície, deixam o miolo e a medula intactos. Tomo, porém, o que está expresso aqui como uma aplicação geral e como uma referência à judiciosa ministração da Palavra, a qual é adaptada para o proveito daqueles que a ouvem.[6] Há quem a mutile, há quem a desmembre, há quem a distorce, há quem a quebre em mil pedaços, e há quem, como observei, se mantém na superfície, jamais penetrando o âmago da doutrina. Ele contrasta todos esses erros com a boa ministração, ou seja, um método de exposição adequado à edificação. Aqui está uma regra que devemos julgar cada interpretação da Escritura.[7]

O sábio manejo da Escritura significa estudá-la, vivenciá-la e proclamá-la conforme o seu propósito. O manejo sábio da Escritura envolve, necessariamente, fidelidade ao Senhor da Escritura. 

            Hoje mais do que nunca somos desafiados a apresentar as razões de nossa fé.  A nossa batalha repousa no campo das ideias. As ideias movem, conduzem o mundo.

            Recordando as palavras de Edgar, de que “Conhecer a Deus pela fé, portanto, é o alvo da apologética”.[8]

Maringá, 19 de março de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Veja-se: R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, Grand Rapids, Michigan: Subcomision Literatura Cristiana de la Iglesia Christiana Reformada, 1985, p. 242-247.

[2]Jacques de Senarclens, Herdeiros da Reforma, São Paulo: ASTE, 1970, p. 357.

[3]A ideia da palavra é de fazer todo o possível – de modo intensivo, urgente, diligente e zeloso –, para cumprir a sua tarefa. Denota uma diligência que se esforça por fazer todo o possível para alcançar o seu objetivo.

[4]O verbo dokima/zw ressalta o aspecto positivo de “provar” para “aprovar”, indicando a genuinidade do que foi testado (2Co 8.8; 1Ts 2.4; 1Tm 3.10). Este verbo se refere à ação de Deus, nunca é empregado para a “tentação” de satanás, “visto que ele nunca prova aquele que ele pode aprovar, nem testa aquele que ele pode aceitar” (Richard C. Trench, Synonyms of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1985 (Reprinted), p. 281). (Vejam-se mais detalhes sobre a “tentação”, em Hermisten M.P. Costa, O Pai Nosso, São Paulo: Cultura Cristã, 2001).

            No entanto, ambos os verbos podem ser usados indistintamente, mesmo não sendo “perfeitamente sinônimos” (Veja-se: H. Seesemann, peira/w: In: Gerhard Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, 8. ed. (reprinted) Grand Rapids, Michigan: WM. B. Eerdmans Publishing Co., 1982, v. 6, p. 23; H. Haarbeck, Tentar: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1983, v. 4, p. 599; Richard C. Trench, Synonyms of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1985 (Reprinted), p. 278ss.).

[5]O verbo o)rqotome/w – “cortar em linha reta”, “endireitar” –, que só ocorre neste texto, é formado por o)rqo/j (“direito”, “reto”, “certo”, “correto”) (*At 14.10; Hb 12.13) e te/mnw (“cortar”), verbo que não aparece no Novo Testamento. Na LXX o)rqotome/w é empregado em Pv 3.6 e 11.5 com o sentido de endireitar o caminho. Analogias e aplicações variadas são possíveis, tais como: a ideia de lavrar a terra fazendo os sulcos em linha reta; construir uma estrada em linha reta a fim de que o viajante alcance com facilidade o seu objetivo sem se desviar por atalhos; o alfaiate que corta o tecido de forma correta a fim de fazer a roupa (Paulo como fabricante de tendas estava acostumado a este serviço no que se refere ao corte dos tecidos de pelo de cabra); o pedreiro que corta a pedra de forma correta para o seu perfeito encaixe, etc. A partir de 2Tm 2.15 várias analogias são feitas, tais como: a ideia de conduzir a Palavra pelo caminho correto para atingir de modo eficaz seu objetivo, manuseá-la bem, ministrá-la conforme o seu propósito, expô-la de maneira correta, ensinar correta e diretamente a Palavra etc. (Vejam-se, entre outros: Helmut Köster, o)rqotome/w: In: G. Friedrich; Gerhard Kittel, eds. Theological Dictionary of the New Testament,8. ed. Grand Rapids, Michigan: WM. B. Eerdmans Publishing Co., (reprinted) 1982, v. 8, p. 111-112; Joseph H. Thayer, “Thayer’s Greek-English Lexicon of the NT,” The Master Christian Library,Verson 8.0 (CD-ROM), (Albany, OR: Ages Software, 2000, v. 2, p. 270; A. Barnes, “Notes on the Bible,”The Master Christian Library, Verson 8.0 (CD-ROM), (Albany, OR: Ages Sofware, 2000, v. 15, p. 795; Adam Clark, “Commentary the New Testament,” Master Christian Library, Verson 8.0 (CD-ROM), (Albany, OR: Ages Sofware, 2000, v. 8, p. 222-223; R. Klöber, Retidão: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1983, v. 4, 215-217; William F. Arndt; F.W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature,Chicago: University of Chicago Press, 1957, p. 584; Russel N. Champlin, O Novo Testamento Interpretado,Guaratinguetá, SP.: A Voz Bíblica, [s.d.], v. 5, p. 379; John R.W. Stott, Tu, Porém, A mensagem de 2 Timóteo, São Paulo: ABU Editora, 1982,p. 59-60; J.N.D. Kelly, I e II Timóteo e Tito: introdução e comentário, São Paulo: Vida Nova; Mundo Cristão, 1983, p. 170; William Hendriksen, 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 323-324; Newport J.D. White, Second Epistle to Timothy: In: W. Robertson Nicoll, ed. The Expositor’s Greek Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), v. 4, p. 165; p. 798-799; R.C.H. Lenski, Commentary on the New Testament, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1998, v. 10, p. 425; W.C. Taylor, Dicionário do Novo Testamento Grego, 5. ed. Rio de Janeiro: JUERP., 1978, p. 152-153; A.T. Robertson, “Word Pictures in the New Testament,” The Master Christian Library, Verson 8.0 (CD-ROM), (Albany, OR: Ages Software, 2000, v. 4, p. 703; William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires: La Aurora, 1974, v. 12, (2Tm 2.15-18), p. 183; John F. MacArthur, Jr., Princípios para uma Cosmovisão Bíblica: uma mensagem exclusivista para um mundo pluralista, São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 49-50).

[6]Este era o seu princípio pedagógico: “Um sábio mestre tem a responsabilidade de acomodar-se ao poder de compreensão daqueles a quem ele administra o ensino, de modo a iniciar-se com os princípios rudimentares quando instrui os débeis e ignorantes, não lhes dando algo que porventura seja mais forte do que podem suportar” (João Calvino, Exposição de 1 Coríntios,São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 3.1), p. 98-99).

[7]João Calvino, As Pastorais, (2Tm 2.15), p. 235.

[8]William Edgar, Razões do Coração: reconquistando a persuasão cristã, Brasília, DF.: Refúgio, 2000, p. 131.

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