Teologia da Evangelização (115)

 3.5. A Igreja como proclamadora do Evangelho 

O Fundador do Cristianismo foi, pessoalmente, o primeiro dos seus pregadores; mas foi antecedido pelo seu precursor e seguido pelos  Seus apóstolos, e na pregação destes a proclamação e ensino da Palavra de Deus por meio de discursos públicos ficaram sendo características essenciais e permanentes da religião cristã. ‒ Edwin C. Dargan (1873-1922).[1]

       A existência da Igreja determina a sua missão. Por sua vez, a sua missão, como não é algo acidental e periférico, indica a sua própria essência. A igreja foi constituída por Deus para glorificar-lhe em sua existência. E, de fato, o Senhor é glorificado quando a Igreja lhe obedece.

          A Igreja tem como razão de sua constituição o culto a Deus. Ela se manifesta como povo de Deus em ato de culto: o povo redimido que narra a obra vitoriosa de Cristo, sendo esta obra o testemunho concreto do poder amoroso e misericordioso de Deus.

          O ato de culto, portanto, é um ato também de proclamação. A evangelização, corretamente entendida, é uma atitude de culto por meio da qual testemunhamos quem é Deus e o que Ele tem feito e pode fazer conforme as suas promessas. Por isso que toda proclamação cristã envolve em si mesma um desafio para que os nossos ouvintes, por graça, respondam com fé ao nosso testemunho que nada mais é do que o anúncio do Evangelho. A Igreja não inventa a mensagem. O seu conteúdo é a Palavra de Deus

          No culto a igreja compartilha a graça da qual ela é beneficiária. Isto é algo maravilhoso: o culto a Deus é prestado pelos redimidos  que reconciliados com Deus, anunciam a misericórdia manifestada em sua redenção, convocando a todos a que se rendam a Deus e passem a também tributar-lhe glória.

A Igreja de Deus é identificada e caracterizada pela genuína pregação da Palavra.[2] A Igreja na sua proclamação revela quem é: nós somos identificados não simplesmente pelo que dizemos a nosso respeito, mas, principal e fundamentalmente pelo que revelamos em nossos atos. A Igreja revela-se como povo de Deus no seu testemunho a respeito de Deus e da sua Glória manifestada em Cristo, bem como na declaração do pecado humano e da necessidade de reconciliação com Deus.

“Somente quando a Palavra de Deus é pregada, de acordo com         as Escrituras, ali é ouvida a voz do Bom Pastor, chamando Suas ovelhas pelo nome. (…) Quando a Palavra não é pregada, ali Cristo não fala Sua Palavra de salvação, e ali não está reunida a Igreja”, resume Hoeksema (1886-1965).[3]

Como destacamos, o Espírito capacita a Igreja a cumprir o que Jesus lhe ordenou. Isto ele faz concedendo-lhe poder (At 1.8/4.8-13, 31). Somente o Espírito pode capacitar a Igreja a desempenhar de forma eficaz o seu ministério.

O texto de At 1.8, resume bem o conteúdo do livro de Atos:[4] A Igreja testemunha no poder do Espírito de Jesus (At 16.7). “O poder do Espírito Santo é sua capacidade de ligar os homens ao Cristo ressurreto de tal maneira que sejam capacitados a representá-Lo. Não há nenhuma bênção mais sublime”, comenta Bruner.[5]

Do mesmo modo que o Espírito veio sobre Jesus equipando-o para o seu Ministério público, o Espírito deveria vir sobre o seu povo capacitando-o para o seu serviço.[6] Sem a ação poderosa do Espírito é impossível uma evangelização eficaz.[7]

No Pentecoste, se concretiza historicamente a capacitação da Igreja para a sua missão no mundo. O Pentecoste revela o caráter missionário da Igreja, tornando cada crente uma testemunha de Cristo. “Pentecoste significa evangelismo”.[8] E isto, no poder do Espírito, derramado de forma sobrenatural.

“O dia de Pentecostes foi sem dúvida um momento extraordinário de transição em toda a história da redenção registrada nas Escrituras. Foi um dia singular na história do mundo, porque naquele dia o Espírito Santo começou a atuar entre o povo de Deus com o poder da nova aliança”, resume Grudem.[9]

Maringá, 14 de novembro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Edwin C. Dargan, A History of Preaching, Grand Rapids, MI.: Baker Book House, 1954, v. 2, p. 7. “A pregação é parte essencial e uma característica distintiva do Cristianismo” (Edwin C. Dargan,  A History of Preaching, v. 1, p. 15). “Pregação é distintamente uma instituição Cristã” (Edwin C. Dargan,  A History of Preaching, v. 1, p. 552).

[2]Como vimos, Lutero afirmou com propriedade: “Onde, porém, não se anuncia a Palavra, ali a espiritualidade será deteriorada” (Martinho Lutero, Uma Prédica Para que se Mandem os Filhos à Escola (1530): In:Martinho Lutero: Obras Selecionadas,São Leopoldo; Porto Alegre, RS.: Sinodal; Concórdia, 1995, p. 334).

[3]Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics,3. ed.Grand Rapids, Michigan, Reformed Publishing Association, 1976, p. 621. “Onde há a Palavra de Deus e o Espírito, há fé, ali está  a igreja” (Michael Horton, Doutrinas da fé cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 789).

[4]Outros chamam At 1.8 de “índice” do Livro. (Cf. John R.W. Stott, A Mensagem de Atos: até os confins da terra,São Paulo: ABU., 1994, p. 42). “O restante do livro de Atos é um desdobramento lógico desse começo (Pentecoste)” (John Stott, Ouça o Espírito, Ouça o Mundo,p. 369).

[5]Frederick D. Bruner, Teologia do Espírito Santo, São Paulo: Vida Nova, 1983, p. 129.

[6] Veja-se: John R.W. Stott, A Mensagem de Atos: até os confins da terra,p. 38.

[7]Cf. John R.W. Stott, Crer é também Pensar,São Paulo: ABU., 1984 (2. impressão), p. 49.

[8]R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, Grand Rapids, Michigan: SLC., 1985, p. 221. Do mesmo modo, Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática,São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 910.

[9] Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática,p. 641.

One thought on “Teologia da Evangelização (115)

  • 17 de novembro de 2022 em 12:53
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    Obrigado Pastor!
    Muito bom!

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