Teologia da Evangelização (107)

 3.4.2.1. O Poder do Trino Deus

Antes de ser assunto aos céus, o Senhor ressurreto – diante da curiosidade de seus discípulos que o inquiriam sobre o que não lhes era pertinente –, lhes diz: “….recebereis poder (du/namij), ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas (ma/rtuj) tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8).

          Na redação do Evangelho, Lucas registrou palavras semelhantes, oferecendo-nos, contudo, outros detalhes:

44A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.
45Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;
46e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia
47e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém.
48Vós sois testemunhas (ma/rtuj) destas coisas.
49Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder (e)ndu/shsqe e)c e(/youj du/namin)(Lc 24.44-49).

          Realcemos alguns pontos no texto:

          a) A Pessoa de Cristo e a sua obra redentora é a mensagem central das Escrituras. Todos os livros das Escrituras apontam para Ele (Lc 24.44). Todos os caminhos bíblicos conduzem a Cristo e, ao mesmo tempo, conferem sentido às Escrituras.  O Cristianismo é o próprio Cristo. “O tema central de toda a Bíblia é Jesus Cristo, o Redentor de todos os que o invocam. (…) Jesus Cristo crucificado é o tema que unifica toda a Escritura”, enfatiza Lawson.[1]       

          b) Os discípulos de Cristo, só entenderam as Escrituras, quando o próprio Jesus lhes abriu o entendimento (Lc 24.45).

          Bruce (1910-1990) está correto ao afirmar que:

Os crentes possuem um padrão permanente e um modelo no uso que nosso Senhor fez do Antigo Testamento, e uma parte do atual trabalho do Espírito Santo no tocante aos crentes é abrir-lhes as Escrituras, conforme o Cristo ressurreto as abriu para os dois discípulos no caminho para Emaús (Lc 24.25ss.).[2]

          c) Os discípulos como testemunhas deveriam pregar o Evangelho profetizado e vivenciado por eles na companhia de Jesus Cristo, o Verbo Encarnado (Lc 24.47-48).

          d) O alcance dessa missão primitiva teria início em Jerusalém e depois se estenderia a todo mundo: universalidade da pregação (Lc 24.47).

          e) Eles deveriam aguardar até que fossem revestidos (e)ndu/w)[3] de poder (Lc 24.49).

          f) O poder (du/namij) que receberiam seria do alto (u(/yo/w)[4] (Lc 24.49).

          A Palavra poder (du/namij) é empregada de várias maneiras no Novo Testamento; ela se refere, por exemplo: a) Milagres: Mt 7.22; 11.20,21,23; 13.58; Mc 6.5; Gl 3.5; b) Poderes miraculosos: Mt 13.54; 2Co 12.12; c) Forças miraculosas: Mt 14.2; Mc 6.14; d) Maravilhas: Mc 6.2.

Maringá, 03 de novembro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Steven J.  Lawson, O tipo de pregação que Deus abençoa,  São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2013, p. 27-28. “O cristianismo é singular  entre todas as religiões do mundo. A razão de sua singularidade é a figura histórica que se constitui no seu centro – Jesus Cristo” (Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo,  São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 23).

[2] F.F. Bruce, Interpretação Bíblica: In: J.D. Douglas, ed. org. O Novo Dicionário da Bíblia, São Paulo: São Paulo: Junta Editorial Cristã, 1966, v. 2, p. 753. Veja-se também: João Calvino, As Institutas,I.9.3; II.8.7. “Muito embora todo cristão seja participante do Espírito e, portanto, por ele guiado à verdade, parece que a revelação dos mistérios de Deus contidos nas Escrituras do Antigo Testamento era um dom apostólico, consignado aos autores do Novo Testamento como parte da inspiração divina para registrar infalivelmente a verdade de Deus” (Augustus Nicodemus Lopes, A Bíblia e Seus Intérpretes, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 120).

[3] e)ndu/w tem o sentido literal de “vestir-se” (Mt 6.25; 27.31; Mc 1.6; Lc 15.22; At 12.21) e, quase que exclusivamente em Paulo, a aplicação figurada de “revestir-se”: a) De poder (Lc 24.49); b) Das armas da luz (Rm 13.12); c) Do Senhor Jesus (Rm 13.14; Gl 3.27); d) Do novo homem (Ef 4.24; Cl 3.10); e) De toda armadura de Deus (Ef 6.11,14); f) De ternos afetos (Cl 3.12); g) Da couraça da fé e amor (1Ts 5.8). A palavra descreve também a nossa ressurreição como um revestimento de imortalidade e incorruptibilidade (1Co 15.53-54).

[4] u(/yoj literalmente tem o sentido de “altura”, como no texto de Lucas e, também, de “dignidade” (Tg 1.9) (*Lc 1.78; 24.49; Ef 3.18; 4.8; Tg 1.9; Ap 21.16). O verbo (u(yo/w) é traduzido em geral por “elevar” (Mt 11.23; Lc 10.15; Jo 3.14); “exaltar” (Mt 23.12; Lc 1.52; 14.11; 2Co 11.7; Tg 4.10; 1Pe 5.6) “levantar” (Jo 3.14; 8.28; 12.32).

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