Pessoa e Obra do Espírito Santo (190)

Introdução (Continuação)

É necessário que conheçamos o Senhor das Escrituras para que a nossa fé não se ampare em apenas uma invenção de nossa mente, num ser idealizado, uma projeção intelectual a respeito de Jesus, distante, portanto, da plenitude da revelação bíblica.

          Quando Paulo e Barnabé chegam à Igreja de Antioquia, apresentam um relato sumário de seu trabalho. Eles desejam compartilhar com todos. Registra Lucas: “Ali chegados, reunida a igreja, relataram quantas coisas fizera Deus com eles e como abrira aos gentios a porta da fé” (At 14.27).

          No seu testemunho, enfatizam o poder soberano e operante de Deus em seu ministério e, como Deus operou eficazmente chamando os seus pela fé. É por meio da Palavra que Deus nos gerou espiritualmente, tornando-nos seus filhos.

          Quando Paulo se despede dos presbíteros de Éfeso, relata aspectos de seu ministério dos quais foram testemunhas. Diz então que durante aqueles 3 anos de pastorado entre eles, passou “testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20.21). Os efésios sabiam dessa realidade.

          A fé cristã é centrada em Cristo Jesus (Ef 1.15). Por isso, antes de ser uma mensagem a nosso respeito, o Evangelho é a mensagem de Deus, procedente de Deus cujo conteúdo primeiro é a respeito do próprio Deus. Deste modo, Jesus Cristo é o próprio Evangelho. Ele é a encarnação da Boa Nova de salvação concedida por Deus ao Seu povo.

Pregação Cristocêntrica

          O Evangelho, antes de ser uma mensagem, é uma Pessoa: Jesus Cristo,[1] o Deus encarnado: verdadeiro Deus e verdadeiro homem. O Evangelho envolve a sua pessoa e o seu ensino.

          Não existe Evangelho sem Jesus Cristo. Portanto, não há mensagem a ser anunciada sem a sua encarnação, morte e ressurreição. “[Evangelho] é a solene publicação da graça revelada em Cristo”, assevera Calvino.[2]

Por isso, pregar o Evangelho significa pregar Jesus Cristo:[3] “Esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho (eu)aggeli/zw), não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio” (Rm 15.20).[4]

          A mensagem de Jesus era: “Arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.15). Antes de ser assunto aos céus, o Senhor ordenou aos seus discípulos:“Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado” (Mc 16.15-16).

          Sem a revelação de Deus jamais conheceríamos o Evangelho. Todavia, ele não termina em informação, antes exige arrependimento e fé. O Evangelho não apenas nos instrui, antes, é para ser crido e vivido. O arrependimento gera a tristeza para com o nosso pecado. A fé redireciona as nossas esperanças, redimensionando a nossa agenda de vida e prioridades à luz da Palavra. Portanto, a fé faz parte essencial da reivindicação graciosa do Evangelho. Por meio da graça mediante a fé somos capacitados a receber a graça da salvação.

Pregação reivindicatória

          A pregação, portanto, visa ser compreendida por todos. Falamos de forma mais clara possível a fim de que os homens entendam o que estamos dizendo e o significado desta mensagem que não é nossa, é de Deus. Contudo, a nossa tarefa não termina aqui: pregamos fiel, inteligente e submissamente, oramos, convidamos, testemunhamos e intercedemos.

          Toda proclamação cristã envolve em si mesma um desafio para que os nossos ouvintes respondam com fé ao nosso testemunho que nada mais é do que o anúncio do Evangelho. A aplicação desta mensagem produzindo fé em seus ouvintes, pertence a Deus. Ele assim o faz conforme o seu propósito santo e glorioso.  Podemos até pregar mal e, de certa forma, todos pregamos, contudo, o Evangelho continua sendo o poder de Deus.

          Portanto, a pregação de Paulo era centrada em Cristo intimando seus ouvintes a se arrependerem de seus pecados e voltarem-se confiantes para Cristo em quem somente há salvação.

          A mensagem de arrependimento e fé deve acompanhar durante toda a história a vida da igreja. Precisamos constantemente de nos arrepender e crer. A nossa fé nem sempre triunfa de modo existencial durante as nossas angústias. E mais, a nossa fé deve ser desenvolvida, aperfeiçoada na realidade contínua de Deus em nossa vida.[5]

 Maringá, 19 de maio de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Stott resumiu: “A boa nova é Jesus” (John R.W. Stott, A Missão Cristã no Mundo Moderno, Viçosa, MG.: Ultimato, 2010, p. 66). “O conteúdo do Evangelho é Jesus mesmo, não um credo ou uma doutrina ou teoria acerca Dele” (Alan Richardson, Así se hicieron los Credos: Una breve introducción a la historia de la Doctrina Cristiana, Barcelona: Editorial CLIE, 1999, p. 17).

[2]J. Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, p. 26.

[3] Veja-se: Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 41-43.

[4]Para um estudo mais detalhado do emprego da palavra Evangelho, Vejam-se: Gerhard Friedrich, Eu)aggeli/zomai: In: Gerhard Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, v. 2, p. 707-737; U. Becker, Evangelho: In: Colin Brown, ed. ger. ONovo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 2, p. 166-174; Rudolf Bultmann, Teologia del Nuevo Testamento, Salamanca: Ediciones Sigueme, 1980, p. 134-135; William F. Arndt; F. Wilbur Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature,2. ed. Chicago: University Press, 1979, in loc. p. 317-318; Euaggelion: W. Barclay, Palavras Chaves do Novo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1988, p. 73; Isidro Pereira, Dicionário Grego-Português e Português-Grego, 7. ed. Braga: Livraria Apostolado da Imprensa, (1990), in loc; W.G. Kümmel, Introdução ao Novo Testamento, São Paulo: Paulinas, 1982, p. 33-34; E.F. Harrison, Introducción al Nuevo Testamento, Grand Rapids, Michigan: Subcomision Literatura Cristiana, 1980, p. 131ss.; R.H. Mounce, Evangelho: In: J.D. Douglas, ed. org., O Novo Dicionário da Bíblia, São Paulo: Junta Editorial Cristã, 1966, v. 1, p. 566-567; R.H. Mounce, Evangelho: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, São Paulo: Vida Nova, v. 2, 1990, p. 109. H.J. Jager, Palabras Clave del Nuevo Testamento, 2. ed. Madrid: Fundacion Editorial de Literatura Reformada, 1982, v. 1, p. 7ss.; Evangelho: In: W.E. Vine; Merril F. Unger; William White Jr., Dicionário Vine: o significado exegético e expositivo das palavras do Antigo e do Novo Testamento, Rio de Janeiro: CPAD.,  2002, p. 629; John N. Oswalt, Bãsar: In: R. Laird Harris; Gleason L. Archer, Jr.; Bruce K. Waltke, orgs. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 227; G. Strecker, Eu)agge/lion: In: Horst Balz; Gerhard Schneider, eds. Exegetical Dictionary of New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1978-1980, v. 2, p. 70-74.

[5]Veja-se: João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 2.11), p. 95.

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