Os eleitos de Deus e o seu caminhar no tempo e no teatro de Deus (23)

8.2. Propósito ético

1) Uma vida de santidade e santificação:[1] Ef 1.4; Cl 3.12; 2Ts 2.13/ 2Pe 1.10.

 

Notemos que aqui está a ideia evidente de que somos pecadores: Deus nos escolheu para sermos aquilo que não éramos. Assim, a escolha divina não foi baseada em mérito algum; o Seu propósito é tornar-nos santos.

 

Conforme o emprego comum das Escrituras, “santificar” significa separar algo do uso comum para um uso exclusivo, peculiar; os termos bíblicos são utilizados exclusivamente no sentido religioso:

a) O sábado é um dia santo: (Ex 16.23; 20.8,11; 35.2);

b) Israel é o povo santo de Deus: (Ex 19.6);

c) A Igreja da nova dispensação é santa: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus” (1Pe 2.9). Este texto resume bem a ideia de santidade: Exclusividade ao Senhor!

 

Arão, o sacerdote, carregava inscrito em sua mitra: “Santidade ao Senhor” (Ver: Ex 28.36-38/Nm 16.5), indicando a sua consagração total ao serviço de Deus, tendo sido separado para dirigir o culto público e oferecer os sacrifícios a Deus.

 

Bavinck comenta: “O propósito da eleição é a criação de um organismo, isto é, a renovação, redenção, renovação e glorificação de uma humanidade regenerada que proclame as excelências de Deus e leve Seu nome sobre sua testa”.[2]

 

Deus é absolutamente santo, majestoso em Sua santidade (Ex 15.11; Sl 99.9; Is 6.3) e deseja do Seu povo uma vida de santidade.

 

Nós fomos separados dos valores deste mundo a fim de progredirmos em nossa fé. Somos santos em santificação![3] Cabe aqui uma definição operacional: A santificação é um processo que tem início no ato de Deus. Em outras palavras, estamos dizendo que fomos separados do mundo (sendo santificados), para crescermos, progredirmos em nossa fé (santificação). O Espírito opera em nós a salvação a qual se evidencia em santificação. A santidade posicional requer necessariamente a santidade existencial!

 

Santificação, portanto, é o ato sobrenatural que se inicia com a regeneração, consistindo no progressivo abandono do pecado em direção a Deus. Como a santificação é progressiva e perdura por toda esta nossa existência, – envolvendo um combate constante contra o pecado –, podemos dizer como Bruce (1910-1990), que “A santificação é o começo da glória e a glória é a santificação completada”.[4] Portanto, a vida cristã não significa apenas ser salvo; a salvação é apenas o seu início, consistindo numa busca efetiva por conhecer a Deus por intermédio da Sua Palavra, e vivenciá-la diariamente.[5] Assim, a santidade deve ser “a naturalidade do homem espiritualmente ressurreto”, conforme escreve Packer.[6]

 

O fato é que, ou buscamos a santidade ou na verdade nunca fomos eleitos por Deus. Esta é a verdade bíblica pura e simples: Não há eleição e consequentemente vida cristã, sem santificação (Ef 1.4).

 

Maringá, 18 de abril de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 

*Leia esta série completa aqui.

 


[1] Veja-se: Hermisten M.P. Costa, O Pai Nosso, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 206ss.

[2]Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara D’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 564.

[3] “O Novo Testamento não diz que os crentes devem ter vidas santas a fim de se tornarem santos; ao invés disso, ensina que os crentes, por serem santos, devem viver vidas santas! Esse, pois, é o primeiro e fundamental aspecto do dom divino da santificação” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 162-163).

[4]F.F. Bruce, La Epistola a Los Hebreos, Michigan: Nueva Creacion, 1987, (Hb 2.11), p. 45. Da mesma forma compreende Packer, quando diz: “A santidade será perfeita lá no céu. Estarmos incapacitados de pecar será tanto a nossa liberdade como o nosso gozo” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus, p. 164). (Veja-se também: C.H. Spurgeon, Sermões Sobre a Salvação, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992, p. 68; João Calvino, Efésios, (Ef 1.4), p. 26).

[5] “Cristianismo não é você parar na conversão e no conhecimento de que os seus pecados estão perdoados, e então contentar-se com isso pelo resto da vida; cristianismo é ingressar e desenvolver-se rumo à medida da estatura da plenitude de Cristo. Precisamos desenvolver nossas mentes e nossas faculdades, se é que desejamos tomar posse disso. Se nos contentamos com menos que isso, não passamos de crianças em Cristo, e somos indignos deste glorioso evangelho” (D.M. Lloyd-Jones, As Insondáveis Riquezas de Cristo, p. 254).

[6]J.I. Packer, Na Dinâmica do Espírito, São Paulo: Vida Nova, 1991, p. 104.

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