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O Pensamento Grego e a Igreja Cristã: Encontros e Confrontos – Alguns apontamentos (28) - Hermisten Maia

O Pensamento Grego e a Igreja Cristã: Encontros e Confrontos – Alguns apontamentos (28)

5.1.4. Deus nos concede sabedoria por meio da Palavra

A filosofia cristã genuína entende que somente a Palavra de Deus pode tornar uma pessoa sábia (Sl 19.7). –  W. Gary Crampton; Richard E. Bacon.[1]

É tão somente da Palavra de Deus devemos aprender a sabedoria, e por isso a ninguém mais se deve ouvir para salvação senão aqueles por cuja boca Deus fala. – João Calvino.[2]

Pensar de forma cristã é pensar em termos de revelação. Para o homem secular, Deus e a teologia são os brinquedos da mente. Para o cristão, Deus é real, e a teologia cristã descreve sua verdade revelada a nós. Para a mente  secular, religião é essencialmente uma questão teórica; para a mente cristã, o cristianismo é uma questão de atos e fatos. Os atos e fatos que são a base de nossa fé estão registrados na Bíblia. – Harry Blamires (1916-2017).[3]

Deus é o nosso Mestre por excelência. Como Senhor e Pai amoroso, se comunica pessoal e prazerosamente conosco a fim de também nos instruir.

Portanto, devemos nos valer, com sabedoria, dos recursos que Deus nos deu para avaliar aquilo que chega ao nosso conhecimento: “O ouvido que ouve e o olho que vê, o SENHOR os fez, tanto um como o outro” (Pv 20.12).

Como em todas as coisas, o Senhor Jesus Cristo é o nosso exemplo perfeito. Por meio do profeta Isaías, 750 anos antes, o caráter de Jesus, o Messias, foi descrito com propriedade:

O SENHOR Deus me deu língua de eruditos (dMul) (limmud) (= discípulo, aprendedor), para que eu saiba dizer boa palavra ao cansado. Ele me desperta todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que eu ouça como os eruditos (dMul) (limmud) (= discípulo, aprendedor). (Is 50.4).

Esta erudição é teórica e prática. Significa aprender com avidez e discernimento, vivendo com a sabedoria resultante do relacionamento com Deus, e ensinando com sensibilidade para saber dizer “boa palavra ao cansado”.

O hebraico se vale da mesma raiz gramatical para falar do ensino (piel) e da aprendizagem (qal) porque em suma, só há ensino quando de fato houver aprendizagem. O princípio que deve reger ambos os processos, é o temor do Senhor.

Aprender a lei de Deus de fato, é mais do que simplesmente ser informado sobre, é o mesmo que obedecer a sua vontade (Dt 4.10; 14.23; 17.19; 31.12,13).[4] A obediência não era algo simplesmente intuitivo, antes, amparava-se explicitamente na Lei do Senhor, a qual deve ser lida, ouvida, conhecida e praticada.[5] O povo demonstraria o aprendizado por meio de uma mudança de perspectiva e de comportamento.[6]

Portanto, a súplica do profeta em relação aos discípulos:“Resguarda o testemunho, sela a lei no coração dos meus discípulos (dMul) (limmud)(Is 8.16). À frente, vemos que o povo da antiga dispensação aguardava o Messias, porque, como diz o profeta:“Todos os teus filhos serão ensinados (dMul) (limmud) do SENHOR; e será grande a paz de teus filhos” (Is 54.13).[7]

No Novo Testamento, Jesus Cristo convida a todos:28 Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. 29Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei (manqa/nw) de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. 30 Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve. (Mt 11-28-30).

O aprendizado aqui não é apenas teórico, antes, tem a ver com a aceitação da pessoa de Cristo e, consequentemente de seus ensinamentos, se manifestando em um relacionamento pessoal e obediência sincera (Mt 12.46-50).

Portanto, em tudo devemos buscar discernimento, refletindo e retendo a Palavra:

O coração do sábio (!yBi) (bîyn) adquire o conhecimento (t[;D;) (daath), e o ouvido dos sábios (~k’x’) (chakam)[8] procura o saber (t[;D;) (daath). (Pv 18.15).

Não é bom proceder sem refletir (t[;D;) (daath), e peca quem é precipitado. (Pv 19.2).

Quem retém as palavras possui o conhecimento (t[;D;) (daath),[9] e o sereno de espírito é homem de inteligência. (Pv 17.27).

Maringá, 29 de novembro de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 


[1] W. Gary Crampton; Richard E. Bacon,  Em Direção a uma Cosmovisão Cristã, Brasília, DF.: Monergismo, 2010, p. 19.

[2]João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 3.2),  p. 113-114.

[3] Harry Blamires, A Mente Cristã: como um cristão deve pensar? São Paulo: Shedd Publicações, 2006, p. 111.

[4]“Não te esqueças do dia em que estiveste perante o SENHOR, teu Deus, em Horebe, quando o SENHOR me disse: Reúne este povo, e os farei ouvir as minhas palavras, a fim de que aprenda a temer-me todos os dias que na terra viver e as ensinará a seus filhos” (Dt 4.10).E, perante o SENHOR, teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu cereal, do teu vinho, do teu azeite e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer o SENHOR, teu Deus, todos os dias”(Dt 14.23).Também, quando se assentar no trono do seu reino, escreverá para si um traslado desta lei num livro, do que está diante dos levitas sacerdotes. 19 E o terá consigo e nele lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer o SENHOR, seu Deus, a fim de guardar todas as palavras desta lei e estes estatutos, para os cumprir” (Dt 17.18-19).Esta lei, escreveu-a Moisés e a deu aos sacerdotes, filhos de Levi, que levavam a arca da Aliança do SENHOR, e a todos os anciãos de Israel. Ordenou-lhes Moisés, dizendo: Ao fim de cada sete anos, precisamente no ano da remissão, na Festa dos Tabernáculos, quando todo o Israel vier a comparecer perante o SENHOR, teu Deus, no lugar que este escolher, lerás esta lei diante de todo o Israel. Ajuntai o povo, os homens, as mulheres, os meninos e o estrangeiro que está dentro da vossa cidade, para que ouçam, e aprendam, e temam o SENHOR, vosso Deus, e cuidem de cumprir todas as palavras desta lei; para que seus filhos que não a souberem ouçam e aprendam a temer o SENHOR, vosso Deus, todos os dias que viverdes sobre a terra à qual ides, passando o Jordão, para a possuir” (Dt 31.9-13).

[5]Descrevendo a função dos mestres do Antigo Testamento, Downs comenta: “O professor ensinava o povo a obedecer aos mandamentos de Deus, não simplesmente a conhecê-los. De fato, o conhecimento era tão ligado com a ação na mente hebraica que as pessoas não podiam afirmar saber o que elas não praticavam” (Perry G. Downs, Introdução à Educação Cristã: Ensino e Crescimento, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 26).

[6]Veja-se: Hermisten M.P. Costa, Introdução à Educação Cristã, Brasília, DF.: Monergismo, 2013.

[7] Sobre os usos da palavra hebraica, vejam-se: E.H. Merrill, dml: In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 2, p. 800-802; Walter C. Kaiser, Lâmad:In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento,p. 790-791; K.H. Rengstorf, Manqa/nw, etc.: In: G. Friedrich; G. Kittel, ed. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), v. 4, p. 400-405 (especialmente); p. 426-441 (especialmente); A.S. Kapelrud, damfl, etc., In: G. Johannes Botterweck; Helmer Ringgren; Heinz-Josef Fabry, eds., Theological Dictionary of the Old Testament, Grand Rapids, MI.: Eerdmans, 2001, v. 8, p. 4-10. Para uma visão mais ampla, que foge aos objetivos desta nota, vejam-se: A.W. Morton, Educação nos Tempos Bíblicos: In: Merrill C. Tenney, org. ger., Enciclopédia da Bíblia, São Paulo: Cultura Cristã, 2008, v. 2, p. 261-280; Hermisten M.P. Costa, Introdução à Educação Cristã, Brasília, DF.: Monergismo, 2013.

[8]“A ideia essencial (…) representa um modo de pensar e uma atitude para com as experiências da vida, incluindo questões de interesse geral e moralidade básica. Tais assuntos se relacionam à prudência em negócios seculares, habilidades nas artes, sensibilidade moral e experiência nos caminhos do Senhor” (Louis Goldberg, Hãkam: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 459). Em síntese, envolve a capacidade de discernir entre o bem e o mal. Veja-se: Robert B. Girdlestone, Synonyms of the Old Testament, Grand Rapids, MI.: Eerdmans, 1981 (Reprinted), p. 74.

[9] Vejam-se também: Pv 10.14; 11.9; 12.1; 13.16; 14.6; 19.25; 21.11; 23.12.

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