O falecimento de J.I. Packer; depoimento de um leitor saudoso

            Nessa semana faleceu o teólogo anglicano J.I. Packer (1926-2020). A primeira obra que li do autor foi O Conhecimento de Deus,[1]que teve uma origem bastante despretensiosa.[2]

            Li no ano seguinte, quando ainda começava a vida pastoral e docente. Depois disso, logo descobri que já havia lido com deleite vários artigos dele no clássico Novo Dicionário da Bíblia,[3] com as iniciais J.I.P. (Artigos: Eleição, Encarnação, Predestinação etc.). Logo comecei a recomendar aos meus alunos e ovelhas a leitura dessa obra clássica, que a partir da década de 1970 exerceu ampla influência nos Estados Unidos.[4] 

            Nesses quase quarenta anos que leciono Teologia Sistemática, sempre coloquei a sua obra como uma das primeiras do Curso, ao lado de A.W. Pink (1886-1952). A admiração dos alunos com os seus escritos têm sido uma constante em todos esses anos.

            Packer, de fato, é extremamente respeitado em todo o mundo. Em geral,[5] por suas posições firmes, colocadas com o passar dos anos de forma amena, não agressiva. Aliás, isso sempre me impressionou.

            Packer foi influenciado por Lloyd-Jones (1899-1981) – pregador que ouvia com frequência e admiração[6], e John R.W. Stott (1921-2011), ainda que em meados da década de 1960, em uma crise nas igrejas evangélicas na Inglaterra, tenha ficado com a posição mais moderada de Stott, divergindo de Lloyd-Jones.[7]

            No entanto, todos se respeitavam muitíssimo. LLoyd-Jones viu corretamente em Packer um talento promissor a quem procurou tratar pastoralmente, apreciando a sua produção.[8] Mais tarde, Packer diria que Lloyd-Jones foi “o maior homem que conheci”.[9] Stott, por sua vez, após a morte de Lloyd-Jones, escreveu: “A mais poderosa e persuasiva voz da Grã-Bretanha por uns trinta anos, agora está em silêncio”.[10]

            Há pouco mais de 10 anos, quando conversava com Ian Murray em Manaus, perguntei-lhe sobre Lloyd Jones, já que Murray além de biógrafo foi auxiliar dele. Na conversa, indaguei sobre Packer. Disse-me, então, que Lloyd-Jones ficou contente quando Packer foi convidado para trabalhar no Canadá, porque temia por Packer devido a liberais estarem se aproximando demasiadamente dele.

            Packer, Reformado, brilhante e piedoso, passou a infância e juventude com algumas restrições físicas, devido a um acidente na infância, se agravando na maturidade.[11] Deus, no entanto, o preservou para que O glorificasse por meio de sua vida e uma ampla produção que tantas bênçãos trouxe para o mundo evangélico em geral.

            Em um livreto escrito em 2013, escreveu:

….algum dia, todos teremos de fazê-lo [deixar esse mundo], e é maravilhoso saber que em algum momento, durante o processo de transição de deixar nosso corpo e adentar no próximo mundo, o próprio Cristo nos receberá, de maneira que podemos esperar que sua face será a primeira coisa de que teremos ciência naquela nova ordem de vida para a qual teremos sido então transportados. Aguardar ansiosamente por isso é a esperança que nos sustém….[12] 

            Packer não mais espera. As dores passaram. Agora está com o Senhor da Glória. Concluiu, por graça o bom combate da fé. Deus seja louvado pela sua vida.

Maringá, 18 de julho de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, São Paulo: Mundo Cristão, 1980.

[2] Veja-se: J.I. Packer,  O Conhecimento de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2014, p. 5.

[3]J.D. Douglas, ed. org., O Novo Dicionário da Bíblia, São Paulo: Junta Editorial Cristã, 1966, 3v.

[4]Veja-se: Iain H. Murray, John MacArthur: servo da Palavra e do rebanho, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2012, p. 236.

[5]Veja-se: Iain H. Murray, John MacArthur: servo da Palavra e do rebanho, p. 190-191. 

[6]Veja-se: Iain H. Murray, A Vida Martyn Lloyd-Jones 1899-1981 – uma biografia, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2014, p. 298-299,329,432.

[7]Veja-se: Iain H. Murray, A Vida Martyn Lloyd-Jones 1899-1981, p. 361-422.

[8]Veja-se: D.M. Lloyd-Jones, Cartas 1919-1981, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 168-169, 204, 210.

[9] Iain H. Murray, A vida Martyn Lloyd-Jones 1899-1981 – uma biografia, 4ªcapa.

[10]Iain H. Murray, A vida Martyn Lloyd-Jones 1899-1981 – uma biografia, 4ªcapa.

[11] Veja-se: J.I. Packer,  Força na fraqueza: vivendo no poder de Cristo, São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 21-22.

[12]J.I. Packer,  Força na fraqueza: vivendo no poder de Cristo, p. 105.

3 thoughts on “O falecimento de J.I. Packer; depoimento de um leitor saudoso

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *