Memórias de um discípulo em formação

    Há um homem que foi chamado e capacitado por Deus, cujo nome é Alceu Davi Cunha. Deus o vocacionou na eternidade. Mas, historicizou o seu nascimento no dia 20 de março. Hoje é o seu aniversário.

    Os grandes eventos da história, tanto da macro-história, quando da nossa história pessoal, não podem ser mensurados simplesmente pelas luzes que artificialmente os acompanham, mas pelos resultados desses eventos.

    No ano de 1976, ingressei no Seminário Presbiteriano de Sul. Para mim esse foi um grande momento. Como desejei isso! Como amei o SPS e apreciava a vida de seminarista. Sentia-me orgulhoso disso.

    No entanto, dois outros fatos ocorreriam nesse ano que mudariam a minha vida, ainda que não perceptíveis naquele momento. Conheci o Rev. Boanerges Ribeiro (1919-2003), então Presidente do Supremo Concílio da IPB quando foi pregar no Seminário. Troquei algumas palavras com ele a respeito de culto ecumênico, um assunto bastante controverso à época.

    Nesse mesmo ano, conheci o Rev. Alceu Davi Cunha. Ele tinha sido colega de estudos no Instituto 15 de Novembro e no Seminário Presbiteriano do Norte do nosso professor, Rev. Paulo Viana de Moura. Este o convidou para dar uma palavra em nossa turma.

    Na época, o Rev. Alceu era Secretário Geral de Mocidade da IPB. Então, pastoreava a Igreja Presbiteriana do Alecrim, Natal. Poucos anos depois mudou-se para Belo Horizonte, dedicando-se inicialmente em tempo integral à Secretaria (1980) e Pastor evangelista na Primeira Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte.

    Em 1979, conclui meus estudos no Seminário. Sendo liberado pelo meu Presbitério, pude aceitar o convite para fazer parte do Presbitério de Belo Horizonte, que acabara de desmembrar-se, formando também o Presbitério das Alterosas.

    Na Reunião Ordinária de janeiro de 1980, fui examinado com vistas à Licenciatura. O Rev. Alceu fazia parte da Comissão. Tudo corria bem até ele me fazer duas perguntas sobre a Constituição da IPB. Eu não soube responder. Fiquei um tanto constrangido, mas ele me olhou com simpatia e generosidade. Fui aprovado e Licenciado.

    Nesse ano, tornamo-nos bons amigos. Ambos éramos solteiros. Pudemos almoçar dezenas de vezes juntos. A minha vida jamais seria a mesma depois desses contatos, com instruções, admoestações, conselhos, encorajamento.

    O Rev. Alceu percorria o Brasil como pastor e Secretário de Mocidade, participando de Congressos, Conferências e visitando igrejas. Era incansável e sempre levava uma palavra firme de consolo, orientação, exortação e esperança.

    A sua inteligência, firmeza teológica, senso ético e oratória me impressionam muito. Creio que, se Deus não tivesse colocado o Rev. Alceu na minha vida, teria desistido do Ministério já no primeiro ano. Mas, Deus não o permitiu.

    O tempo se passou, continuamos cada vez mais amigos. Ele que se casara em 5 de novembro de 1980 com D. Mirian, realizou a cerimônia de meu casamento com a Eliana no dia 9 de janeiro de 1981 (conforme fotos publicadas).  Mais tarde, batizaria nosso primeiro filho. Tornou-se uma espécie de pastor da família e meu contínuo mestre.

    No mesmo presbitério mantínhamos debates com certa constância. Em geral, quando discordava de sua posição, era porque não conseguia alcançar em seu brilho, profundidade, maturidade cristã e pastoral o seu pensamento. Para o bem do presbitério, creio que perdi todos os debates.

    Anos depois (1985), fui pastorear em São Paulo e, no ano seguinte, o Rev. Alceu foi pastorear a Igreja Presbiteriana de Viçosa (1986). Creio que por volta de 1988, aceitou o convite para pastorear a Igreja Presbiteriana em Santo Amaro. A minha alegria foi enorme. Pode também aceitar lecionar no Seminário Rev. José Manoel da Conceição, o que fez por vários anos (1988-2001). 

    Nesse período, nos encontrávamos com regularidade e sempre, com a sabedoria que Deus lhe deu, continuou pastoreando a mim e a minha família.

    Anos depois, tendo concluído seu ministério em Santo Amaro, aceitou o convite para pastorear a Primeira Igreja Presbiteriana em São Bernardo (1995), tornando-se depois de um longo e abençoado ministério, pastor Emérito da Igreja (2012), continuando, no entanto, muito ativo, usufruindo, não gratuitamente, do respeito, admiração e gratidão de todos.

    Em 2007 fui convidado para ser um de seus pastores auxiliares. Isso me trouxe de volta a algumas oportunidades semelhantes ao início de Ministério. Sair, conversar, me aconselhar com ele, enfim, continuar sendo pastoreado de forma mais próxima.

    Considero-me um privilegiado por manter esse convívio. Algumas vezes brinquei com ele dizendo que Deus o está preservando por aqui não por amor a ele, mas por amor a nós, seus amigos, para que o tenhamos por mais tempo entre nós, como um exemplo vivo de ministério e vida cristã.

    Termino essas memórias com o que escrevi na dedicatória de um livro que publiquei em 2004. Ali elenquei alguns de meus influentes mestres: Rev. Paulo Viana de Moura, Rev. Oadi Salum, Rev. Alceu D. Cunha e Rev. Boanerges Ribeiro.

    “Rev. Alceu Davi Cunha, mesmo não sendo meu professor formal, foi e continua sendo aquele que tem me ensinado a responsabilidade ética de um Ministério comprometido com a Palavra”.

    Neste ano comemoramos os 50 anos de seu abençoadíssimo Ministério. Posso repetir as mesmas palavras, ainda com mais motivos e profunda gratidão a Deus. Obrigado Rev. Alceu.

Maringá, 20 de março de 2021.

Rev. Hermisten M.P. Costa

2 thoughts on “Memórias de um discípulo em formação

  • 20 de março de 2021 em 22:16
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    Maravilhoso Rev. Hermisten!
    Memórias extraordinárias deste grande servo do Senhor, que influenciou e continua influenciando nossas vidas!
    Glórias a Deus pela vida do Rev. Alceu!!

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  • 21 de março de 2021 em 00:43
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    Que linda homenagem! Fiquei muito feliz em ler e principalmente por saber o quanto este homem através de Deus foi importante em sua vida. A velha máxima pra mim prevalece: “Homenagens se prestam em vida”.

    Parabéns ao Rev. Alceu e ao Rev. Hermisten pela grandeza do ato.

    Emocionante!

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