Eu lhes tenho dado a tua Palavra (Jo 17.1-26) (92)

4) A Santificação tem um sentido escatológico

A graça de Deus que é derramada sobre nós intensamente, nos acompanhará sempre até à consumação de sua obra em nós, nos tornando à imagem de Cristo.[1]

Já vimos que a justificação e a regeneração são meios conducentes à santificação e, por fim, à glorificação. Vimos também que santificação é um processo que não encontra a sua perfeição nesta vida. A sua conclusão se dará em nossa glorificação futura, quando Deus completar a sua obra iniciada em nós (Rm 8.29-30; Fp 1.6).

Nesse sentido, a consumação da santificação tem dois aspectos: um espiritual e outro físico: espiritual, em nossa alma quando morrermos; físico, quando Cristo voltar em glória, ressuscitarmos e tivermos os nossos corpos glorificados. Assim, a santificação será total.[2]

A perspectiva do encontro com Cristo, quando Ele regressar em glória, deve nos motivar hoje, solicitamente, à santificação, a fim de vivermos em santidade na sua presença, puros como Ele é puro.

É necessário enfatizar que a santidade perfeita no céu encontra os seus primórdios na vida dos eleitos aqui na Terra. Isto indica a nossa responsabilidade presente, como instrui João:

Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque havemos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro.
(1Jo 3.2-3).

Considerando que nessa vida a santificação jamais será completa, torna-se necessário que ao longo da vida não esmoreçamos, antes continuemos progredindo até o fim.[3]

Cristo morreu por nós para que Ele nos apresentasse “a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem cousa semelhante, porém santa e sem defeito” (Ef 5.27). Dentro desta perspectiva, a Igreja procura viver de forma santa, para se encontrar com Cristo, conforme o seu propósito sacrificial. “Teremos de ser santos antes de morrer, se quisermos ser santos quando estivermos na glória”, admoesta-nos Ryle.[4]

O desejo da igreja deve ser de se encontrar com Cristo de forma íntegra e irrepreensível. Por isso, somos chamados hoje a viver na presença de Deus, estando sempre preparados para o nosso encontro final e jubiloso com o Senhor Jesus. Este era o alvo da intercessão de Paulo (1Ts 5.23).

Jesus Cristo, que se santificou pela Igreja e que se entregou por ela, exerce o seu poder para apresentá-la com alegria a si mesmo, uma Igreja irrepreensível, diante do escrutínio da sua glória. O apóstolo Judas encerra a sua epístola com uma doxologia, cuja primeira parte nos diz: “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória”(Jd 24. Veja-se: Ef 5.25-27).

O nosso padrão de santidade não é um simples “melhoramento” diante dos padrões humanos, mas, sim, sermos conforme Cristo: Fomos eleitos para Cristo, a fim de sermos moldados à sua imagem. Portanto devemos ser seus imitadores, seguindo as suas pegadas (Vejam-se: Rm 8.28-30/Jo 13.15; 2Co 3.18; Ef 4.32; 5.1-2; Fp 2.5-8; 2Ts 2.13; 1Pe 1.13-16; 2.21).

A santificação ainda que envolva um processo que engloba o abandono de um modo de vida característico da nossa antiga condição, é, essencialmente uma progressão tendo a santidade absoluta de Deus como o nosso padrão. [5]

Em essência, ser santo é ter a Cristo como Senhor de nossa vida. Daí a exortação de Pedro: “…. santificai (a(gia/zw) a Cristo, como Senhor, em vosso coração” (1Pe 3.15).

Maringá, 07 de julho de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1,  (Jo 4.13), p. 163

[2] Veja-se: Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática,São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 625.

[3] Veja-se: João Calvino, Efésios, (Ef 4.15), p. 130.

[4] J.C. Ryle, Santificação, São José dos Campos, SP.: FIEL, 1987,p. 46.

[5] “A santidade não é negativa, é positiva; é ser como Deus (…). A santidade não significa simplesmente obter vitória sobre pecados particulares. É ser como Deus, que é santo” (D. Martyn Lloyd-Jones, O Combate Cristão, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 127). Veja-se também: David M. Lloyd-Jones, A Unidade Cristã, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1994, p. 59-60.

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