Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (63)

5.7. A Santificação e a responsabilidade do crente (Continuação)

Calvino: O Espírito e a Palavra

Calvino como teólogo do Espírito e da Palavra, enfatizou com singularidade a relação entre o Espírito e a Palavra em nossa santificação. Escreve em lugares diferentes:

“A função peculiar do Espírito Santo consiste  em gravar a Lei de Deus em nossos corações”.[1] É o Espírito Quem nos ensina por meio das Escrituras;[2] esta é “a escola do Espírito Santo”,[3] que é a “escola de Cristo”,[4]  “escola do Senhor”,[5] “escola de Deus”,[6] “escola do Filho de Deus”,[7] “escola de nosso Senhor Jesus Cristo”.[8]

A Igreja é a “escola de Deus”.[9] O Espírito é o “Mestre”;[10] “o melhor mestre”;[11] “ótimo Mestre”;[12] “bendito Mestre”;[13] é o “Mestre interior”,[14] “Mestre no íntimo”,[15] “Mestre ou  Catedrático (Doutor) da verdade”.[16] Continua: “Daí se segue que, enquanto não formos intimamente instruídos por ele, o entendimento de todos nós é assenhoreado pela vaidade e falsidade”.[17]

Calvino fala também da “escola do céu”.[18] “O Espírito de Deus, de quem emana o ensino do evangelho, é o único genuíno intérprete para no-lo tornar acessível”.[19] A “docência de Deus” consiste em nos levar à Cristo.[20]

Por isso, o roteiro e o conteúdo de nosso ensino devem ser conforme às Escrituras:

Portanto, seja este um sólido axioma: Não se deve ter outra Palavra de Deus, a que se dê lugar na Igreja, senão aquela que se contém, primeiro na Lei e nos Profetas, então nos Escritos Apostólicos; nem outro modo de ensinar a Igreja corretamente, senão aquele prescrito e normativo dessa Palavra.[21]


[1] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 40.8), p. 228.“O ensino interno e eficaz do Espírito é um tesouro que lhes pertence de forma peculiar. (…) A voz de Deus, aliás, ressoa através do mundo inteiro; mas ela só penetra o coração dos santos, em favor de quem a salvação está ordenada” (João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 40.8), p. 229).

[2] Veja-se: J. Calvino, AsInstitutas, I.9.3.

[3] J. Calvino, AsInstitutas, III.21.3; AsInstitutas, (1541), IV.12. Ainda que haja alusão aqui e ali a respeito deste ensinamento em autores antigos, Calvino foi de fato quem sistematizou e ampliou esta doutrina (Vejam-se: .B. Warfield, Calvin and Augustine, Michigan: Baker Book House (The Work’s of Benjamin B. Warfield), 2000 (Reprinted), v. 5,  p.  116ss.; Bernard Ramm, The Witness of the Spirit, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1959, p. 22-27). (Sobre o testemunho do Espírito, Veja-se: AsInstitutas, I.7.4-5; I.9.3). Calvino pode com razão ser chamado de o Teólogo da Palavra e do Espírito Santo. Schaff diz que a “teologia de Calvino está baseada sobre um perfeito conhecimento das Escrituras” (Philip Schaff,History of the Christian Church,Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1996, v. 3, p. 261). Murray, não isoladamente declara: “Calvino tem sido corretamente chamado de o teólogo do Espírito Santo” (John Murray, John Murray, Calvin as Theologian and Expositor, Carlisle, Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, (Collected Writings of John Murray, v. 1), 1976, p. 311). O primeiro a assim designá-lo foi o teólogo presbiteriano B.B. Warfield (1851-1921). (B.B. Warfield, Calvin and Augustine, Michigan: Baker Book House (The Work’s of Benjamin B. Warfield), 2000 (Reprinted), v. 5, p. 21-24,107 (Cf. Hendriksus Berkhof, La Doctrina del Espiritu Santo, Buenos Aires: Junta de Publicaciones de las Iglesias Reformadas; Editorial La Aurora, (1969), p. 23; D.M. Lloyd-Jones, Deus o Espírito Santo,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1998, p. 13; I. John Hesselink, O Movimento Carismático e a Tradição Reformada. In: Donald K. McKim, ed. Grandes Temas da Teologia Reformada, São Paulo: Pendão Real, 1999,p. 339; Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo,São Paulo: Os Puritanos, 2000, p. 10).

[4]João Calvino, Efésios, (Ef 4.17), p. 133; João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, v. 1, p. 27. Ainda que não se referindo às Escrituras sempre às Escrituras, Calvino usa a figura em outros lugares: Vejam-se: João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 1.40), p. 76; (Jo 3.1), p. 112; (Jo 3.3), p. 115; (Jo 4.16), p. 164; (Jo 4.19), p. 165; (Jo 4.25), p. 177.

[5]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios,(1Co 1.17), p. 55; (1Co 3.3), p. 100; João Calvino, Beatitudes: Sermões sobre as Bem-Aventuranças, São Paulo: Fonte Editorial, 2008, p. 35; João Calvino, As Institutas, III.2.34; III.10.5.

[6] João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 6.45), p. 280; (Jo 7.16), p. 313; v. 2, (Jo 14.25), p. 109.

[7]John Calvin, To the Marchioness of Rothelin, “Letters,” John Calvin Collection,[CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), 5 de fevereiro de 1558, nº 489.

[8] João Calvino, Beatitudes: Sermões sobre as Bem-Aventuranças, São Paulo: Fonte Editorial, 2008, p. 36.

[9]João Calvino, As Pastorais,(1Tm 5.7), p. 136; João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6,São Paulo: Parakletos, 2000, v. 1, (Dn 3.2-7), p. 190; João Calvino, Sermões em Efésios, Brasília, DF.: Monergismo, 2009, p. 23, 157.

[10]João Calvino, Exposição de Romanos,(Rm 1.16), p. 58.

[11]João Calvino, AsInstitutas, IV.17.36. Calvino diz que quem rejeita o “magistério do Espírito”, é desvairado. (João Calvino, AsInstitutas, I.9.1).

[12]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, v. 4 (IV.12), p. 24.

[13]João Calvino, Efésios, São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 1.16), p. 41.

[14]João Calvino, AsInstitutas, II.2.20; III.1.4; III.2.34; IV.14.9.

[15] João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 2, (Jo 14.25), p. 108; (Jo 16.13), p. 156.

[16] João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 2, (Jo 14.17), p. 101. Veja-se também: João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, v. 2, (II.4), p. 89.  

[17]João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 2, (Jo 14.17), p. 101; João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 2, (II.4), p. 89.

[18]John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), v. 3, (Ex 31.18), p. 328.

[19]João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 2.14), p. 93. Lutero também escrevera: “O Espírito Santo é o escritor mais simples nos céus e na terra; portanto, suas palavras não podem ter mais do que um sentido simples, ao qual chamamos de sentido das escrituras ou sentido literal” (Apud F.W. Farrar, History of Interpretation, London: Macmillan and Co., 1886, p. 329).

[20] “A Igreja não pode ser restaurada de qualquer outra forma senão por Deus empreendendo o ofício de Mestre e conduzindo os crentes a si. O método de ensino, de que fala o profeta, não consiste meramente na voz externa, mas igualmente na operação secreta do Espírito Santo. Em suma, esta docência de Deus consiste na iluminação interior do coração” (João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 6.45), p. 278).

[21] João Calvino, As Institutas (2006), IV.8.8.

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