“Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (42)


 2) Liberdade “para”

A liberdade que temos é gloriosa. Ela é o padrão da libertação futura da corrupção de toda natureza (Rm 8.21/Tg 1.18).

a) Para Cristo

        “Foste chamado, sendo escravo? Não te preocupes com isso; mas, se ainda podes tornar-te livre, aproveita a oportunidade. 22 Porque o que foi chamado no Senhor, sendo escravo, é liberto do Senhor; semelhantemente, o que foi chamado, sendo livre, é escravo de Cristo. 23 Por preço fostes comprados; não vos torneis escravos de homens” (1Co 7.21-23).

            Cristo nos libertou da condenação eterna, do pecado e do domínio de satanás para si Mesmo. Ele nos libertou daquilo que nos era acidental para que sejamos aquilo que de fato somos, a imagem de Deus. Em Cristo temos o verdadeiro sentido da nossa existência. Vivemos agora pela vida de Cristo, sob a direção do Espírito Santo. (Jo 3.3; 10.10; At 10.18,19; 20.22-24; 2Co 5.15-17; Fp 3.7-8; Cl 3.1-3).

            Brunner (1889-1966), diz acertadamente o seguinte:

Quem se tornou somente livre, ficou sem dono e, com isso, mais escravo ainda. Não há pior escravatura do que aquela de não ter dono. Nesse caso o homem é escravo da sua própria paixão, do seu próprio ‘eu’. E o pior de todos os tiranos é o nosso ‘eu’, ou, como diz a Bíblia, o pecado. É que o ‘eu’ soberano e o pecado são idênticos. Homem pecador é aquele que se diz seu próprio Senhor.[1]

            Paulo falando da libertação do pecado, caracteriza a nossa nova condição sob a graça de Deus: “Porque o pecado não terá domínio[2] sobre vós” (Rm 6.14).

            Todavia, por intermédio da libertação integral levada a efeito por Cristo Jesus, tornamo-nos “escravos de Cristo”. Já não somos vendidos, mas, sim, comprados por bom preço, por um alto preço: o precioso sangue de Cristo.  E, como sinal de posse perpétua de Deus, somos habitados pelo seu Espírito: o Espírito Santo, procedente do Pai e do Filho.

            Paulo insiste neste ponto:

Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita (Oi)ke/w) em vós. E se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. (…) Se habita (Oi)ke/w) em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos, vivificará também os vossos corpos mortais, por meio do seu Espírito que em vós habita (Oi)ke/w).(Rm 8.9,11).

Não sabeis que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita (Oi)ke/w) em vós? (1Co 3.16). (Ver também: 1Co 6.19,20; 1Pe 1.18-21).

            À Igreja perseguida, Pedro intima a “remir o tempo” que lhe resta, vivendo para Deus, segundo a sua vontade:

Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento; pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado, para que, no tempo que vos resta na carne já não vivais de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus. (1Pe 4.1-2).

            A vontade de Deus que se concretizou em Cristo, é a nossa libertação das paixões deste mundo para pertencermos a Cristo, o nosso Senhor. Portanto, o homem que é liberto do Senhor, torna-se escravo de Cristo 1Co 7.21-23).

            A diferença fundamental desta nova condição é que o “escravo de Cristo” tem prazer na prática da “lei da liberdade” (Tg 1.22-25; 2.12), que é a lei de Cristo (Gl 6.2; 1Co 9.21); a lei do amor (Gl 5.13-14). Somente aqueles libertos por Cristo, e para Cristo podem dizer sinceramente: “Agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus; dentro em meu coração está a tua lei” (Sl 40.8). (Vejam-se: Sl 1.2; 119.14, 16, 47, 77, 92, 143 e 174).

Maringá, 15 de março de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Emil Brunner, Nossa Fé,2. ed. São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1970, p. 88.

[2]Kurieu/w, “dominar como senhor”.

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