“Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (39)


 1) Liberdade “do”

 a) Pecado

A Escritura nos fala que todos pecaram (Rm 3.23). O pecado fez-nos seus escravos, mantendo-nos sobre o seu domínio (Rm 6.14),[1] nos fazendo cativos, como um prisioneiro de guerra (Lc 4.18; Jo 8.34; Rm 6.20[2]), habitando em nós (Rm 7.17,20).[3]

            Enfatizando este domínio do pecado sobre nós antes do novo nascimento, escreve o apóstolo: “Sou carnal, vendido à escravidão do pecado” (Rm 7.14). A expressão “vendido à escravidão”, é uma tradução interpretativa de “pipra/skw u(po\” (“pipráskõ hypó”), que significa ser vendido, estando por isso, sob o domínio do seu senhor.[4] Portanto, o homem entregue a si mesmo, não é mais livre do que um animal sob o jugo do seu senhor que pode prendê-lo, vendê-lo ou matá-lo.

            Em outro lugar, Paulo fala da prisão do homem natural: “Mas vejo nos meus membros outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente me faz prisioneiro[5] da lei do pecado que está nos meus membros” (Rm 7.23)(Compare com: Lc 4.18).

            Porém, Deus nos libertou definitivamente do poder do pecado (Mt 1.21; Jo 8.32-34; Rm 6.6,17,18, 20; 8.2; 2Pe 2.19; Ap 1.5); do domínio moral e espiritual deste mundo (Gl 1.4/Jo 17.14). Agora quem habita em nós é o Espírito do Pai e do Filho (Rm 8.9,11; 1Co 3.16).[6]

            Paulo, tendo experimentado essa libertação, escreve aos colossenses: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho Seu amor” (Cl 1.13). De fato, o evangelho é uma mensagem de libertação de um estado de total domínio, de escravidão do pecado. João referindo-se a Cristo, diz: “Aquele que nos ama, e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados” (Ap 1.5).

 b) Morte Espiritual e Eterna:

Deus nos deu vida (Ef 2.1,5), restaurando-nos à comunhão com Ele, livrando-nos da sua ira. A ira de Deus é uma manifestação da sua justiça.[7] Deus nos salvou da condenação eterna (morte eterna), que se tornará plenamente evidente quando Cristo retornar em Glória para julgar a todos os homens (Mt 16.27; At 10.42; 17.31; Rm 14.10; 1Co 4.5; 1Ts 1.10).

 c) Poder de Satanás

Deus libertou-nos definitivamente do poder de Satanás, o deus do secularismo. Cristo o derrotou e, agora, ele não mais tem domínio sobre nós, “por isso afirmamos que os fiéis nunca, jamais, poderão ser vencidos por ele (Satanás)”.[8] (Cl 1.13/2.15; Hb 2.14,15; 1Jo 3.7-8).

Maringá, 15 de março de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Kurieu/w, “dominar como senhor”.

[2]“Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34). “Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça” (Rm 6.20).

[3]“Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. (…) Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim”(Rm 7.17,20).

[4] É digno de nota que a palavra pipra/skw somente aqui é mencionada no sentido espiritual. Nas outras oito vezes em que ela ocorre no Novo Testamento (Mt 13.46; 18.25; 26.9; Mc 14.5; Jo 12.5; At 2.45; 4.34; 5.4), tem sempre o sentido de venda de algo material.

[5] ai)xmalwti/zw, capturado, feito prisioneiro de guerra.

[6]Oi)ke/w.

[7]“Intimamente relacionada com a santidade de Deus está a sua ira, a qual é, de fato, a sua reação santa ao mal” (John R.W. Stott, A Cruz de Cristo,Florida: Editora Vida, 1991, p. 93). “Deus não seria Deus se não odiasse o pecado e manifestasse Seu furor contra ele” (D.M. Lloyd-Jones, O Caminho de Deus não o nosso, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2003, p. 61).

[8]João Calvino, As Institutas,1.14.18.

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