Eu lhes tenho dado a tua Palavra (Jo 17.1-26) (116)

7.4. A Igreja é constituída e preservada por Deus (Continuação)

A Igreja de Deus está sendo formada e aperfeiçoada. Por isso, ela não é perfeita, mas, está sendo lapidada pelo próprio Deus: 21no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, 22no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito” (Ef 2.21-22).

A despeito de sua fragilidade ainda bastante evidente, a Igreja é o monumento que evidencia a riqueza da graça de Deus. A Igreja é a prova material da estupenda graça divina. A Igreja é o resultado concreto da rica sabedoria e graça de Deus. Somos o testemunho para todo o sempre desta graça. A igreja em sua própria constituição reflete a glória de Deus e de sua graça. A igreja em sua vida e testemunho deve apontar e vivenciar a glória de Deus.[1]

Lutero (1483-1546) trata dessa questão de modo sensibilizante, descrevendo a sua luta e a fragilidade aparente da igreja:

Nós, pela graça de Deus, esforçamo-nos para conseguir, aqui, em Wittenberg, um tipo ideal de Igreja cristã. A Palavra é ensinada entre nós com pureza, os sacramentos estão sendo usados de forma correta, fazem-se exortações e orações para todas as situações, em suma, todas as coisas ocorrem favoravelmente. Mas algum fanático poderia impedir rapidamente este curso feliz do Evangelho. Num momento, ele poderia destruir aquilo que nós edificamos com grande labor durante muitos anos. (…) A fraqueza e a miséria dessa vida é tão grande, caminhamos a tal ponto em meio aos ardis de satanás que, em pouco tempo, algum fanático, muitas vezes, destrói e arruína, completamente, aquilo que os verdadeiros ministros edificaram, trabalhando, dia e noite, durante vários anos. Por experiência própria, aprendemos isso, hoje, com grande dor na alma, todavia, não podemos curar esse mal.

Visto que a Igreja é tão frágil e delicada e é tão facilmente subvertida, devemos estar vigilantes contra aqueles espíritos fanáticos que, quando ouviram alguns sermões ou leram algumas páginas nas Sagradas Letras, sem demora, julgam-se mestres de todos os alunos e professores, contra toda a autoridade.[2]

A igreja de Deus nessa dimensão terrena, ainda luta contra os inimigos de fora e, a sua própria fragilidade interna resultante de seu pecado e acomodação nele.

Por isso, “as imperfeições e as marcas na igreja visível ainda estão sendo refinadas pelo Mestre de obras”, alegoriza MacArthur.[3] Explorando a figura, podemos dizer que a igreja está em construção: um canteiro de obras com frequência não faz jus à obra que está sendo feita; as coisas se parecem um tanto desarrumadas, com pilhas de tijolos, areia, pedra, ferro, madeira, ferramentas jogadas, escombros, valetas, etc.

Assim é a igreja no tempo presente, com suas manchas e imperfeições, constituída por pessoas como nós, precisando ser instruídas, corrigidas, consoladas, estimuladas, enfim, precisando ser acabadas. No entanto, o nosso Arquiteto e Mestre de obras tem todo o controle da construção. Ele consumará a sua obra. Ele reunirá as suas ovelhas: “Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor” (Jo 10.16).

Deus arregimenta o seu povo, concluindo assim, a sua obra iniciada na eternidade:

29 Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. 30 E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. (Rm 8.29-30).

 Packer (1926-2020), bem ao seu estilo, escreve de forma consoladora:

Essa esperança é uma certeza, pois a sentença justificadora é uma decisão judiciária do último dia, trazida ao presente: é um veredito final, que jamais será revertido. “E aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.30). Observemos que Paulo usa o verbo “glorificar” no passado. Aquilo que Deus decidiu fazer é como se já o tivesse feito!. De acordo com isso, a pessoa justificada pode ter a certeza de que coisa alguma jamais a separará do amor de seu Salvador e de seu Deus (Rm 8.35ss.).[4]

Maringá, 30 de julho de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] “Ainda que Deus seja suficiente a si mesmo e se satisfaça exclusivamente consigo mesmo, não obstante quer que sua glória se manifeste na Igreja” (João Calvino, O evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 2.17), p. 100).

[2] Martinho Lutero,  Comentário à Epístola aos Gálatas: In: Martinho Lutero: Obras Selecionadas, São Leopoldo, RS.; Porto Alegre, RS.; Canoas, RS.: Sinodal; Concórdia; Ulbra, 2008, v. 10,  (Gl 1.4), p. 65. Veja também: Ibidem., (Gl 1.2), p. 45).

[3]John MacArthur, Eu amo a Tua Igreja, ó Deus!: In: John MacArthur, et. al. Avante, Soldados de Cristo: uma reafirmação bíblica da Igreja, São Paulo: Cultura Cristã, 2010. p. 14). (Alude ao texto de Ef 2.21-22).

[4]J.I. Packer, Vocábulos de Deus,São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 128.

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