Eu lhes tenho dado a tua Palavra (Jo 17.1-26) (104)

6.4. Universalidade da graça (Continuação)

Conhecemos bem a história: Jonas prega, e o povo se arrepende, gerando uma grande transformação na cidade (Jn 3.4-10/Mt 12.41).[1] O profeta fica indignado, a dizer: eu sabia que isto iria acontecer; ao invés de destruir logo este povo maligno, o Senhor – por ser clemente, benigno, longânimo e, misericordioso –, manda que eu pregue… Ora, eu preguei para condenação não para conversão. Ele queria que prevalecesse o seu senso de justiça: eles são maus; portanto, devem ser condenados. No entanto, Deus os quer dar uma oportunidade e Jonas, ainda que involuntariamente, era o mensageiro. Ele anuncia o desígnio de Deus (Jn 3.4)[2]e depois, se senta fora da cidade, num lugar estratégico, e aguarda para ver o que aconteceria (Jn 4.5).[3]

Jonas, que se mostra depressivo neste livro, entristecendo-se de contínuo, ficando irado e pedindo a morte (Jn 1.12; 4.1,3,4,8,9),só se alegrou quando teve uma sombra por meio de uma planta (Jn 4.6).A conversão dos ninivitas não o alegrou; o seu interesse era puramente egoísta; ele nada mais via do que a sua comodidade e a preservação de seus valores equivocados.

É possível que pensemos também assim: Por que Deus não destrói logo o ímpio? Por que temos que ter tanto trabalho para evangelizar, para trazer alguém à Igreja? Por que distribuir folhetos, trabalhar na Igreja? Deus tem o seu próprio modo de fazer as coisas, o qual, ainda que não entendamos completamente, devemos buscar em oração, meditação e obediência a compreensão. É preciso ter cuidado para que não tenhamos a pretensão de ser mais justos do que Deus; querermos que os nossos critérios ultrapassem os de Deus. A clemência e misericórdia de Deus nunca anulam a sua justiça. A nossa justiça pode ser motivada por questões muitas vezes nobres, no entanto, circunscritas à nossa própria situação limitada de conhecimento da realidade. Portanto, devemos aprender a subordinar o nosso ardor de justiça à justiça de Deus, a qual é sempre santa e perfeita.

Deus é soberano na manifestação de Sua misericórdia:

Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum. Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão (…). Logo, tem ele misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz. (Rm 9.14,15,18).

O livro de Jonas nos desafia ao trabalho missionário, tentando olhar o outro pela misericórdia de Deus. É fundamental que não permitamos que o nosso exclusivismo racial ou mesmo social nos impeça de obedecer à Palavra de Deus.

Temos também aqui uma advertência e conforto: Deus leva o seu Evangelho aos homens por meio de homens que, sendo falhos, muitas vezes, titubeiam e se omitem no cumprimento de seu dever. A vocação de Deus não é um atestado de infalibilidade humana e da sacralização de seus vocacionados. A Escritura e a história têm demonstrando isto de forma abundante.

O Evangelho deve ser anunciado a todas as pessoas, independentemente de sexo, raça, cultura, cor e condição socioeconômica; quer seja a grandes grupos (At 8.5-6),[4] quer seja a um indivíduo em particular (At 8.34-35).[5]

Maringá, 20 de julho de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]4 Começou Jonas a percorrer a cidade caminho de um dia, e pregava, e dizia: Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida. 5 Os ninivitas creram em Deus, e proclamaram um jejum, e vestiram-se de panos de saco, desde o maior até o menor. 6 Chegou esta notícia ao rei de Nínive; ele levantou-se do seu trono, tirou de si as vestes reais, cobriu-se de pano de saco e assentou-se sobre cinza. 7 E fez-se proclamar e divulgar em Nínive: Por mandado do rei e seus grandes, nem homens, nem animais, nem bois, nem ovelhas provem coisa alguma, nem os levem ao pasto, nem bebam água; 8 mas sejam cobertos de pano de saco, tanto os homens como os animais, e clamarão fortemente a Deus; e se converterão, cada um do seu mau caminho e da violência que há nas suas mãos. 9 Quem sabe se voltará Deus, e se arrependerá, e se apartará do furor da sua ira, de sorte que não pereçamos? 10 Viu Deus o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez(Jn 3.4-10). No Novo Testamento Jesus Cristo chamou a atenção dos judeus para a conversão dos ninivitas: “Ninivitas se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas” (Mt 12.41).

[2]“Começou Jonas a percorrer a cidade caminho de um dia, e pregava, e dizia: Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida” (Jn 3.4).

[3]“Então, Jonas saiu da cidade, e assentou-se ao oriente da mesma, e ali fez uma enramada, e repousou debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria à cidade” (Jn 4.5).

[4]Filipe, descendo à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo. As multidões atendiam, unânimes, às coisas que Filipe dizia, ouvindo-as e vendo os sinais que ele operava(At 8.5-6).

[5]“Então, o eunuco disse a Filipe: Peço-te que me expliques a quem se refere o profeta. Fala de si mesmo ou de algum outro? Então, Filipe explicou; e, começando por esta passagem da Escritura, anunciou-lhe a Jesus” (At 8.34-35).

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