“Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (23)

  Como estamos estudando, na sua oração Jesus declara a certeza da veracidade da Palavra de Deus: “A Tua Palavra é a verdade (a)lh/qeia)(17). Continua: “E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade (a)lh/qeia) (19). Jesus Cristo nos diz não que a Palavra de Deus se harmoniza com algum outro padrão distinto decorrendo daí a sua veracidade, antes, o que Ele afirma é que a sua Palavra é a própria verdade, o padrão de verdade ao qual qualquer alegação pretensamente verdadeira deverá se adequar.[1]

          Nos Salmos lemos:

Os juízos (jP’v.mi) (mishpat) do SENHOR são verdadeiros (tm,a/) (‘emeth).(Sl 19.9).

As tuas palavras são em tudo verdade (tm,a/) (‘emeth) desde o princípio, e cada um dos teus justos juízos dura para sempre. (Sl 119.160).

Após aliança de Deus com Davi, o salmista canta louvores ao Senhor, reconhecendo a fidelidade de Deus expressa em sua Palavra: “Agora, pois, ó SENHOR Deus, tu mesmo és Deus, e as tuas palavras são verdade (tm,a/) (‘emeth), e tens prometido a teu servo este bem” (2Sm 7.28).

Façamos uma digressão analisando como nós percebemos a realidade. Tendemos a pensar que o conhecimento que temos é natural, no sentido de que todos percebem como percebemos, daí a impressão equivocada, quase um senso comum,  de que a nossa forma de ver, perceber e interpretar a realidade é mais óbvia e, portanto, comum.

Descobrimos a ilusão dessa percepção quando começamos a conversar com pessoas a respeito de temas que nos parecem óbvios. Não precisamos ir muito longe. Basta fazê-lo com nossos filhos. Já de início, para surpresa nossa, descobrimos que a nossa percepção estava equivocada.

Como conhecemos a realidade?

           A nossa forma de conhecer é sempre mediata. Conhecemos através de intermediações. Ilustremos:

          A nossa miopia proporciona uma imagem embaçada das coisas; a surdez, que é naturalmente progressiva com o passar dos anos, não nos permite identificar determinados sons, por isso podemos fazer uma audiometria para verificar isso.

O nosso paladar apresenta gostos diferentes conforme o que ingerimos antes.

O aroma dos pratos amplamente apreciados pode nos causar enjoo se estivermos com problema de fígado.

          Se estivermos com dormência em nossas mãos, certamente teremos dificuldade de identificar a aspereza ou textura do que tocamos.

 Por isso é que a conjugação de nossos órgãos dos sentidos nos proporciona uma capacidade maior de compreensão, ainda que limitada.

Por exemplo: É mais compreensível conversar com a pessoa diante de si do que simplesmente por telefone ou Zap.

Conjunção dos órgãos dos sentidos

A nossa visão pode ser confirmada ou não conforme a possibilidade de tocar no objeto. A aparência pode ser contraposta ao aroma. Por isso podemos dizer: “Meu filho come com os olhos”; “a comida está feia, mas, está gostosa”; “o aroma não é agradável, porém, o sabor sim”.

          Devemos perceber também que, quando dirigimos, além de nossas mãos e pés para dar direcionamento ao veículo, lemos a realidade com os nossos olhos e nossos ouvidos. A visão é o principal meio nesse processo, porém, a audição nos auxilia em muito, especialmente no que concerne ao que está fora de nosso alcance visual. Alguns carros trazem um sensor que procura nos ajudar a dirigir acendendo uma luz quando há algum objeto estranho no “ponto cego”. Outros trazem ainda, sensores auditivos para reforçar a nossa visão do objeto; por isso, temos sensores dianteiros e traseiros em diversos carros.

          Desse modo, a nossa compreensão passa por diversas variáveis entre as quais apenas destaquei as sensoriais. E as mediações das visões que temos ou que nos são dadas pelo meio em que vivemos? Não posso seguir aqui essa linha de argumentação, porém, é oportuna a observação de Sowell

Seria bom poder dizer que poderíamos prescindir completamente de visões e lidar somente com a realidade. Porém essa pode ser a visão mais utópica entre todas. A realidade é muito complexa para ser compreendida por qualquer mente. Visões são como mapas que nos guiam através de um emaranhado de complexidades desconcertantes.[2]

São Paulo, 21 de fevereiro de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Veja-se: Wayne A. Grudem,  Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 53-54.

[2]Thomas Sowell, Conflito de visões: origens ideológicas das lutas políticas, São Paulo, É Realizações, 2012, p. 17.

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