“Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (15)

3.4. Crer (pisteu/w) (Jo 17.8)

 “Manifestei (fanero/w) o teu nome (o)/noma) aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado (thre/w) a tua palavra. (…) Porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam (lamba/nw), e verdadeiramente conheceram  (e)/gnwsan a)lhqw=j) que saí de ti, e creram (pisteu/w) que tu me enviaste (a)poste/llw)”(Jo 17.6,8).

            O sentido do verbo crer, é o de estar totalmente persuadido, convencido. Esta persuasão é resultado de um conhecimento experimental. Os discípulos receberam e conheceram a Palavra encarnada (Jesus Cristo) e a palavra por Ele transmitida. Por isso creem. Estão totalmente convencidos de que Jesus Cristo é o enviado de Deus.

            Sem dúvida, o testemunho de Cristo revela o seu conhecimento intenso e real do Pai. Em outro contexto dissera: “Eu o conheço(oi)=da) porque venho da parte dele e fui por ele enviado (a)poste/llw)”[1] (Jo 7.29).

Os discípulos creram na procedência do Filho partindo da Palavra que eles receberam do Senhor. Na realidade, eles foram convencidos pelo testemunho de Cristo. Não foi algo mágico, antes, foram persuadidos. Notemos que Jesus Cristo manifestou o nome do Pai transmitindo as palavras que Ele lhe dera e, a partir daí, seus discípulos receberam (Jo 17.8) o testemunho de Cristo, reconheceram/ conheceram (Jo 17.7-8) no Pai a fonte de tudo que recebem e a procedência de Jesus Cristo.  Creram (Jo 17.8) que Jesus Cristo foi enviado pelo Pai, e, por fim, guardaram (Jo 17.6) a Palavra.

 Portanto, podemos concluir que o caminho do discipulado começa pela Palavra que, sendo recebida, guardada e crida, conduz-nos a Deus.

João registra que depois de Jesus pregar à mulher samaritana e aos demais samaritanos trazidos por ela,“Muitos outros creram (pisteu/w) nele, por causa da sua palavra” (Jo 4.41). Em outro contexto vemos que quando Jesus testemunhava a respeito do Pai, muitos creram nele:

28 Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do Homem, então, sabereis que EU SOU e que nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou. 29 E aquele que me enviou está comigo, não me deixou só, porque eu faço sempre o que lhe agrada. 30 Ditas estas coisas, muitos creram (pisteu/w) nele. (Jo 8.28-30).

Não existe vida cristã sem a convicção de quem é Jesus Cristo e de sua procedência. O mundo, por não conhecer o Pai, também não reconheceu no Filho. o seu enviado. Os discípulos, por graça, tiveram uma percepção especial: “Pai justo, o mundo não te conheceu (mh/ ginw/skw); eu, porém, te conheci (ginw/skw), e também estes compreenderam (pisteu/w) que tu me enviaste (a)poste/llw) (Jo 17.25).

            Jesus Cristo enfatiza a importância de se manter a fé alicerçada na certeza de que o Pai enviou o Filho. A questão então é: por que é necessário crer que o Filho é enviado do Pai?

Jesus ressalta a importância desta convicção durante a sua oração, antes de ressuscitar a Lázaro:

Tiraram, então, a pedra. E Jesus, levantando os olhos para o céu, disse: Pai, graças te dou porque me ouviste. Aliás, eu sabia que sempre me ouves, mas assim falei por causa da multidão presente, para que creiam que tu me enviaste (a)poste/llw) (Jo 11.41-42).

Em uma única identificação direta, Jesus Cristo é chamado de forma definida de Apóstolo, o Enviado de forma única e singular, e, conforme o contexto, superior a Moisés e a Arão: “Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial, considerai atentamente o Apóstolo (to\n a)po/stoloj)[2] e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus” (Hb 3.1).

Maringá, 15 de fevereiro de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]O verbo a)poste/llw, significa “enviar’, “mandar” (Mt 2.16; 11.10; Jo 1.6; At 3.20). Primariamente, no grego secular, a palavra com emprego náutico, tinha o sentido de enviar um navio de carga ou uma frota em expedição militar. Somente mais tarde é que a palavra passou a indicar uma pessoa enviada, um emissário. (Vejam-se: K.H. Rengstorf, a)poste/llw: In: Gerhard Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: WM. B. Eerdmans Publishing Co., 1983 (Reprinted), v. 1, p. 398-447 (especialmente, a página 407); E. von Eucken, et. al. Apóstolo: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 1, p. 234-239 (especialmente, a página 234).

[2] Posteriormente, Justino Mártir (c. 100-c.165 AD), também usaria esta expressão para Jesus Cristo (Veja-se: Justino de Roma, I Apologia, São Paulo: Paulus, 1995, 12.9; 63.5, p. 28 e 79).

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