“Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (13)


3.3. Conhecer (ginw/skw)(Jo 17.8)  

 Foi por meio da Palavra que os discípulos reconheceram a procedência de Jesus Cristo: Ele procede da parte do Pai.

          O verbo conhecer (ginw/skw) e o substantivo conhecimento (gnw=sij) denotam um conhecimento experimental que faz com que possamos discernir os fenômenos, compreendendo a realidade das coisas.

          Têm também, o sentido de conhecimento pessoal. Este conhecimento é mais do que “saber”, é compreender a razão das coisas. A Pedro, admirado de o Senhor lavar-lhes os pés, Jesus diz: “O que eu faço não o sabes (oi)=da) agora; compreendê-lo-ás (ginw/skw) depois” (Jo 13.7).

          Curiosamente, o verbo conhecer (ginw/skw) aparece sete vezes na Oração Sacerdotal (Jo 17.3,7,8,23, 25 [3 vezes]):

E a vida eterna é esta: que te conheçam (ginw/skw) a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. (Jo 17.3).

Agora, eles reconhecem (ginw/skw)que todas as coisas que me tens dado provêm de ti; porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram (ginw/skw)que saí de ti, e creram que tu me enviaste. (Jo 17.7-8).

Eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça (ginw/skw)que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim. (Jo 17.23).

Pai justo, o mundo não te conheceu (ginw/skw); eu, porém, te conheci (ginw/skw), e também estes compreenderam (ginw/skw)que tu me enviaste. (Jo 17.25).

          Destaquemos alguns pontos:

1) A vida eterna está em conhecer o Pai e o Filho (3).

2) Por meio da Palavra os discípulos conhecem a Cristo e a sua procedência (7-8,25).

3) O mundo – os que não creem – não conhece a Deus (25).

4) O Filho conhece perfeitamente o Pai (25).[1]

Analisemos alguns aspectos do conhecimento conforme descritos nas Escrituras.

1) Negativamente Considerando

a) O Mundo não conhece o seu Criador: Paulo diz que Deus não ficou sem dar testemunho de si mesmo: “Não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria” (At 14.17). A revelação de Deus foi progressiva, culminando em Jesus Cristo, a Palavra final de Deus:

Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, 2 nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. 3 Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, 4 tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles. (Hb 1.1-4).

          No entanto, os homens não o reconheceram: “O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu (ginw/skw) (Jo 1.10).

b) Usar o nome de Deus não significa relacionar-se com ele: Em geral existem pessoas que gostam de alegar privar da intimidade de homens e mulheres bem conceituados a fim de se promoverem, demonstrar poder ou influência. Israel, por exemplo, gostava de declarar que conhecia a Deus, no entanto, as suas obras negavam esta declaração. Por meio de Oséias, Deus revela esta incoerência: “Transgrediram a minha aliança e se rebelaram contra a minha lei. A mim, me invocam: Nosso Deus! Nós, Israel, te conhecemos ([dy)(yâda‛) (LXX: ginw/skw) (Os 8.1-2).

          Jesus em uma passagem escatológica, nos adverte:

21 Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. 22 Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? 23 Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci (ginw/skw). Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade. (Mt 7.21-23).

          Jesus Cristo declara que nunca os reconheceu como seus discípulos, em momento algum manteve com eles uma relação afetiva (Vejam-se: Êx 7.22; 8.7,18).

 c) Ignorância Espiritual de Israel: Exortando a um povo empedernido, Deus recorre à figura de dois animais para falar da ignorância culposa de Israel. Por intermédio de Isaías, referindo-se a Israel, diz:

Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque o Senhor é quem fala: Criei filhos, e os engrandeci, mas eles estão revoltados contra mim. O boi conhece ([dy) (yâda‛) (LXX: ginw/skw) o seu possuidor, e o jumento (rAmx]) (châmôr) o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento ([dy) (yâda‛)[2] (LXX: ginw/skw), o meu povo não entende (!yBi) (bîyn).[3] (Is 1.2,3).

          Deus toma dois animais difíceis de trato: o boi e o jumento. Mostra que a obtusidade, a teimosia e a dificuldade de condução destes animais dão-se pela sua própria natureza, no entanto, assim mesmo, eles sabem reconhecer os seus donos, aqueles que lhes alimentam. O homem, por sua vez, como coroa da criação, cedendo ao pecado perdeu totalmente o seu discernimento espiritual. Já não reconhecemos nem mesmo o nosso Criador, antes, lhe voltamos as costas e prosseguimos em outra direção.[4]

No Salmo 32.9, Deus usa figuras fortes para falar da obtusidade daqueles que não atentam para a sua instrução: “Não sejais como o cavalo[5] ou a mula (dr,P,) (pered),[6] sem entendimento (!yBi) (bîyn), os quais com freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem” (Sl 32.9).

          A destruição de Israel estava relacionada à falta de discernimento da Palavra de Deus. Pouco antes do Cativeiro Assírio, Deus fala por meio de Oséias: “Não castigarei vossas filhas, que se prostituem, nem vossas noras, quando adulteram, porque os homens mesmos se retiram com as meretrizes e com as prostitutas cultuais sacrificam, pois o povo que não tem entendimento (!yBi) (bîyn) corre para a sua perdição” (Os 4.14).

          Os fariseus e os saduceus, apesar de todo o seu conhecimento religioso, tinham os olhos obscurecidos para entenderem o que Jesus fazia e ensinava. Eles sabiam interpretar as condições climáticas e atmosféricas (Mt 16.2,3), mas não conseguiam interpretar corretamente os sinais de Jesus Cristo.

Aproximando-se os fariseus e os saduceus, tentando-o, pediram-lhe que lhes mostrasse um sinal vindo do céu. 2 Ele, porém, lhes respondeu: Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; 3 e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis (ginw/skw), na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? 4 Uma geração má e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas. E, deixando-os, retirou-se. (Mt 16.1-4).

Maringá, 13 de fevereiro de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]“Entretanto, vós não o tendes conhecido (ginw/skw); eu, porém, o conheço (oi)=da). Se eu disser que não o conheço (oi)=da), serei como vós: mentiroso; mas eu o conheço (oi)=da) e guardo (thre/w) a sua palavra” (Jo 8.55).

[2] Um dos sentidos da palavra hebraica é o de “levar em consideração”, “considerar” (Ver: Os 13.4-5).

[3]O verbo (!yBi) (bîyn) e o substantivo (hn”yBi) (bîynâh) apresentam a ideia de um entendimento, fruto de uma observação demorada, que nos permite discernir para interpretar com sabedoria e conduzir os nossos atos. “O verbo se refere ao conhecimento superior à mera reunião de dados. (…) Bîn é uma capacidade de captação julgadora e perceptiva e é demonstrada no uso do conhecimento” (Louis Goldberg, Bîn: In: Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 172).

[4] Jones explora com vivacidade a analogia do texto. Veja-se: D. M. Lloyd-Jones, O Caminho de Deus, não o nosso, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2003, p. 43-46.

[5] As Escrituras chamam atenção apenas para a força do cavalo, não para a sua suposta inteligência (Sl 33.17; 147.10).

[6]A mula ou o mulo é gerado do cruzamento do cavalo com a jumenta ou do jumento com a égua; entretanto, ele é estéril, não podendo reproduzir-se. “As mulas são valiosas pelo fato que combinam a força do cavalo com a resistência e o passo firme do jumento, além de ter o vigor extra característico dos híbridos” (G.S. Cansdale, Mula: In: J.D. Douglas, ed. org.O Novo Dicionário da Bíblia, São Paulo: Junta Editorial Cristã, 1966, v. 2, p.1075).

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