Deus não está em silêncio

As Escrituras não são especulativas. A Bíblia é um livro descritivo, normativo e extremamente prático. Aliás, não há livro mais próximo e relevante às situações concretas da vida do que a Bíblia. Ela não discute, por exemplo, sobre a existência de Deus ou faz abstrações de sua natureza e essência, antes parte do pressuposto da existência de Deus. Mais do que uma teoria ou abstração, as Escrituras nos põem em contato com o Deus vivo e pessoal, que age e fala. É o Deus que se relaciona e cuida de seu povo. “A Escritura, em sua totalidade, é o próprio livro da providência de Deus”, resume Bavinck (1854-1921)¹.

“Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus”, escreveu Moisés (Sl 90.2). Moisés por revelação direta de Deus, registra de forma inspirada (2Pe 1.20-21), narrando os atos criadores de Deus, sem se preocupar em falar com mais detalhes a respeito daquele, que mediante a sua Palavra, faz com que do nada surja a vida, criando o universo, estabelecendo suas leis próprias e, avaliando a sua criação como boa. Moisés apenas apresenta o Deus Todo-Poderoso exercitando o seu poder de forma criadora, segundo o seu eterno propósito. Deus existe – este é o fato pressuposto em toda a narrativa da Criação. Deus cria segundo a sua Palavra e isto nos enche de admiração e reverente temor: a Palavra de Deus é o verbo criador que manifesta a determinação e o poder de Deus (Gn 1.1,26-27; Sl 33.6,9; Jo 1.1-3; Hb 11.3), o qual criou as coisas com sabedoria (Pv 3.19).

As Escrituras nunca tratam de Deus de forma impessoal ou abstrata, mas, como o Deus infinito-pessoal que se revela.

Obviamente o Deus das Escrituras não é um deus criado pela imaginação do homem projetando em sua criação seus desejos e vícios, o que facilmente conduz da idolatria ao ateísmo.

Deus não se deixa invadir pela razão humana, ou mesmo pela fé. Ele se dá a conhecer livre, fidedigna e explicitamente. Deus se revela a si mesmo como Senhor². E “Senhorio significa liberdade”³. Conhecer a Deus é um privilégio da graça que tem o seu início sempre no Deus Trino (Mt 11.27;1Co 12.3).

Conheçamos e prossigamos em conhecer a Deus, o nosso Senhor e Pastor (2Pe 3.18; Sl 23.1). Amém.

São Paulo, 08 de novembro de 2018.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 

 


¹Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 607.

²Ver: Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 181,186ss. 

³K. Barth, Church Dogmatics, Edinburgh: T. & T. Clark, 1960, I/1, p. 306.

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