A Pessoa e Obra do Espírito Santo (489)

4. Revestimento com a armadura de Deus

“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo” (Ef 6.11).[1]

            Ao longo da história, os homens têm tido a oportunidade de expor os seus ensinamentos e seus métodos, que tratam do homem, da natureza humana e o caminho para transformá-la, aperfeiçoá-la e preservá-la. Contudo, apesar de todo o avanço científico e tecnológico – o que devemos dar graças a Deus por isso –, os recursos dos homens continuam ineficazes, nada podendo fazer contra as ciladas do diabo; as suas “armaduras” são por demais frágeis para poder resistir às investidas do maligno. Além disso, o trágico para todos nós, é que um grande aliado do maligno encontra-se dentro de nós: o nosso coração corrompido.

            A defesa contra o maligno é fornecida pelo próprio Deus. ”Armas tais como a confiança em méritos humanos, ou na própria erudição e perspicácia mental, na reclusão do mundo, na invocação dos santos e anjos ou na teoria de que o pecado, a doença e Satanás não existem, etc., não terão nenhum valor no ‘dia do mal’”, comenta Hendriksen.[2]

            O crente usa de todos os meios fornecidos por Deus para enfrentar os ataques de Satanás, assumindo também, uma posição ativa contra ele por meio do bom manuseio da Espada do Espírito, que é a Palavra de Deus (Ef 6.17/2Tm 2.15/Hb 4.12,13). Assim podemos resistir firmemente e vencer o Diabo (1Pe 5.8-11/Tg 4.7).

Não devemos esmorecer ou transigir nesta luta. Portanto, devemos buscar toda as armas concedidas por Deus para que possamos ser bem sucedidos nesta batalha, para a qual somos perfeitamente habilitados pelo próprio Espírito Santo.

            Nunca é demais frisar que, é necessário que não nos iludamos; Satanás tem de fato muito poder. Ele é ousado na utilização deste poder, valendo-se de uma gama enorme de recursos, os quais ele sabe empregar como ninguém. A união que ele sagazmente faz entre armas e técnicas se torna avassalador.

            Calvino escreve:

Quando Satanás é chamado o deus e príncipe deste mundo, quando é designado como o valente armado, o espírito a quem pertence o poder do ar, leão a rugir (2Co 4.4; Jo 12.31; Mt 12.29; Ef 2.2; 1Pe 5.8), estas representações não contemplam outra cousa senão a que sejamos mais cautos e vigilantes, vale dizer, mais preparados para travar luta, o que, por vezes, até se expressa em termos explícitos.[3]

            Paulo chama a atenção dos efésios, para a luta para com a qual todos os cristãos terão que se deparar em sua caminhada de fidelidade a Deus:“A nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes”(Ef 6.12).

            Após descrever a armadura cristã – que curiosamente não tem proteção para as costas, o que é muito sugestivo –, Paulo fala da oração, como que sendo uma espécie de revestimento de toda a armadura.

            A recomendação é para que recorramos a toda armadura de Deus em constante oração no Espírito (Ef 6.18/Rm 8.26,27; Jd 20). Enquanto me preparo oro, enquanto oro me preparo; em outras palavras, a oração que por si só já é um precioso e indispensável recurso, não exclui a utilização dos “equipamentos” fornecidos pelo próprio Deus para o nosso fortalecimento e edificação.

            Calvino (1509-1564), comentando Romanos 8.27, diz: “O fato de Deus nos ouvir quando oramos através de seu Espírito é uma notável razão para confirmar nossa confiança, pois Ele pessoalmente está intimamente familiarizado com nossas orações, como se fossem os pensamentos de seu próprio Espírito”.[4]

            Deus nos orienta e nos dá todos os recursos para a vida cristã. A instrução de Deus não é simplesmente sobre a nossa vida, mas, para nos guiar por toda a vida.

Maringá, 29 de maio de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Para um panorama bastante instrutivo sobre o uso de armaduras e seus acessórios na antiguidade, vejam-se: Kittel Johannes Behm, Para/klhtoj: In: G. Friedrich; G. Kittel, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1981, v. 5, p. 800-814.

A. Oepke, o(/plon, etc.: In: G. Friedrich; G. Kittel, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1981 (Reprinted), v. 5, p. 292-315; W. Michaelis, Ma/xaira: In: G. Friedrich; G. Kittel, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983, (Reprinted),  v. 4, p. 524-527.

[2]W. Hendriksen, Efésios,São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, p. 339.

[3] J. Calvino, As Institutas, I.14.13.

[4] J. Calvino, Exposição de Romanos,(Rm 8.27), p. 292.

One thought on “A Pessoa e Obra do Espírito Santo (489)

  • 30 de maio de 2022 em 14:05
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    Uma excelente reflexão!!!
    Glória a Deus 🙏🙏

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