A Pessoa e Obra do Espírito Santo (481)

3.4. Submissão humilde no temor de Cristo

 “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo” (Ef 5.21).

    O crente cheio do Espírito revela esta realidade não apenas no seu relacionamento com Deus, mas, também, com o seu próximo. Deste modo, sob a direção do Espírito devemos estar prontos para o serviço em humildade, sem pretensões de grandeza ou de honra, tendo como princípio orientador de nosso comportamento, o “temor de Cristo”, sabendo que tudo o que somos e temos provém de Deus (1Co 4.7; 15.10; 2Co 3.5; 2Pe 1.3).[1]

Isso significa que uma igreja cheia do Espírito não é regida pela disputa de cargos, honrarias, individualismo ou vanglória.  Pelo contrário, prevalece a consciência de que todos servem uns aos outros para a Glória de Deus e o aperfeiçoamento dos santos (Mt 18.1-4; 20.28; Rm 12.10; Ef 4.2,3,11-16; Fp 2.3; 1Pe 5.5).[2]

Um exemplo negativo daqueles que se julgavam “espirituais”, encontramos em Corinto, onde grassava arrogância espiritual, facções, e imoralidade (1Co 1.11,12; 3.1-9; 11.17-22; 14.26-33). A alegação espiritual dos coríntios não correspondia à sua prática de vida; contrariamente, revelava  de modo eloquente a fragilidade e imaturidade de sua fé.

 O princípio expresso por Paulo no texto de Efésios, é desenvolvido nos versículos seguintes. Ele mostra que esta submissão humilde no temor de Cristo deve se objetivar do seguinte modo:

3.4.1. Na vida familiar 

No Antigo Testamento vemos a educação sendo amplamente praticada dentro do lar, sendo os mestres os próprios pais os quais deveriam lembrar os mandamentos de Deus transmitindo aos seus filhos uma herança repleta de valores morais (Gn 18.19; Ex 10.2; 12.26; 13.8; Dt 4.9-10; 6.20-21; 11.19; 32.7).[3]

 A família sempre desempenhou um papel fundamental dentro da educação judaica, sendo extremamente preventiva e orientadora. Mesmo dentro de um processo evolutivo, a educação familiar jamais foi substituída ou preterida.

            A educação dos filhos era algo prioritário e constante, considerando em seu currículo os grandes feitos de Deus na história. Os filhos não foram testemunhas daqueles grandes eventos, contudo, aprenderiam por meio de seus pais aqueles fatos e o significado dos mesmos, realçando a aliança e o amor de Deus para com o Seu povo.

            Na instituição da Páscoa, Deus já os instrui a respeito do que aconteceria e como os pais deveriam ensinar seus filhos:

Guardai, pois, isto por estatuto para vós outros e para vossos filhos, para sempre. E, uma vez dentro na terra que o SENHOR vos dará, como tem dito, observai este rito. Quando vossos filhos vos perguntarem: Que rito é este? Respondereis: É o sacrifício da Páscoa ao SENHOR, que passou por cima das casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as nossas casas. Então, o povo se inclinou e adorou (Ex 12.24-27).

            Notemos que a educação judaica tinha como elemento de extrema relevância as perguntas, as quais certamente eram estimuladas, feitas pelos filhos aos pais ou aos sacerdotes:

            “Quando vossos filhos vos perguntarem: Que rito é este? Respondereis….” (Ex 12.26).

“Naquele mesmo dia, contarás a teu filho, dizendo….” (Ex 13.8).

            “Quando teu filho amanhã te perguntar: Que é isso? Responder-lhe-ás….” (Ex 13.14).

            “Quando teu filho, no futuro, te perguntar, dizendo: Que significam os testemunhos, e estatutos, e juízos que o SENHOR, nosso Deus, vos ordenou? Então, dirás a teu filho….” (Dt 6.20,21).

“Passai adiante da arca do SENHOR, vosso Deus, ao meio do Jordão; e cada um levante sobre o ombro uma pedra, segundo o número das tribos dos filhos de Israel, para que isto seja por sinal entre vós; e, quando vossos filhos, no futuro, perguntarem, dizendo: Que vos significam estas pedras?, então, lhes direis….” (Js 4.5-6).

            “As doze pedras que tiraram do Jordão, levantou-as Josué em coluna em Gilgal. E disse aos filhos de Israel: Quando, no futuro, vossos filhos perguntarem a seus pais, dizendo: Que significam estas pedras?, fareis saber a vossos filhos, dizendo….” (Js 4.20-21).

            Antes de entrar na Terra Prometida, o povo é exortado por Deus por intermédio de Moisés a considerar os ensinamentos de Deus transmitindo-os, também, aos seus filhos:

Tão-somente guarda-te a ti mesmo e guarda bem a tua alma, que te não esqueças daquelas coisas que os teus olhos têm visto, e se não apartem do teu coração (לבב) (lebab)  todos os dias da tua vida, e as farás saber a teus filhos e aos filhos de teus filhos. Não te esqueças do dia em que estiveste perante o SENHOR, teu Deus, em Horebe, quando o SENHOR me disse: Reúne este povo, e os farei ouvir as minhas palavras, a fim de que aprenda  (למד) (lâmad) a temer-me todos os dias que na terra viver e as ensinará  (למד) (lâmad)  a seus filhos. (Dt 4.9-10).

A cada sete anos durante a festa dos tabernáculos a Lei deveria ser lida diante de todo povo para que aprendesse a temer ao Senhor:

Ajuntai o povo, os homens, as mulheres, os meninos e o estrangeiro que está dentro da vossa cidade, para que ouçam, e aprendam (למד) (lâmad), e temam o SENHOR, vosso Deus, e cuidem de cumprir todas as palavras desta lei; para que seus filhos que não a souberem ouçam e aprendam (למד) (lâmad) a temer o SENHOR, vosso Deus, todos os dias que viverdes sobre a terra à qual ides, passando o Jordão, para a possuir. (Dt 31.12-13).

            Deus orienta aos pais a usarem de vários meios – audível e visual –, de circunstâncias diferentes, de modo formal e informal – sentado, andando, à noite, pela manhã – para ensinar seus filhos a Lei a fim de que não se esqueçam de Deus, nem de Seus atos soberanos na história.  

            Notemos, contudo, que a Lei deveria estar primeiramente no coração dos pais; somente assim os pais poderiam cumprir com naturalidade a sua missão educativa; o ensino, as lições, as admoestações e aplicações seriam naturais decorrentes de um coração dominado pela Lei do Senhor. Os que amam a Deus guardam no coração a Sua Palavra (Sl 119.11):

Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração (לבב) (lebab), de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração (לבב) (lebab); tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas. Havendo-te, pois, o SENHOR, teu Deus, introduzido na terra que, sob juramento, prometeu a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó, te daria, grandes e boas cidades, que tu não edificaste; e casas cheias de tudo o que é bom, casas que não encheste; e poços abertos, que não abriste; vinhais e olivais, que não plantaste; e, quando comeres e te fartares, guarda-te, para que não esqueças o SENHOR, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão. (Dt 6.4-12).

Ensinai-as  (למד) (lâmad) a vossos filhos, falando delas assentados em vossa casa, e andando pelo caminho, e deitando-vos, e levantando-vos. (Dt 11.19). 

            Primitivamente os pais eram os professores responsáveis pela educação completa de seus filhos (Pv 22.6). Posteriormente encontramos exemplos de amas e guardiãs que cuidavam da educação de crianças.

            Moisés achando por demais pesada a carga de conduzir o povo de Israel, usa de uma analogia que revela a existência de amas: “Concebi eu, porventura, todo este povo? Dei-o eu à luz, para que me digas: Leva-o ao teu colo, como a ama leva a criança que mama, à terra que, sob juramento, prometeste a seus pais?” (Nm 11.12).

            O avô de Davi, Obede, filho de Boaz e Rute, foi educado por Noemi que, ao que parece o adotou: “Noemi tomou o menino, e o pôs no regaço, e entrou a cuidar dele. As vizinhas lhe deram nome, dizendo: A Noemi nasceu um filho. E lhe chamaram Obede. Este é o pai de Jessé, pai de Davi” (Rt 4.16-17).

            Há evidências de que entre os nobres era comum a adoção de amas e tutores. O filho de Jônatas, Mefibosete, tinha uma ama: “Jônatas, filho de Saul, tinha um filho aleijado dos pés. Era da idade de cinco anos quando de Jezreel chegaram as notícias da morte de Saul e de Jônatas; então, sua ama o tomou e fugiu; sucedeu que, apressando-se ela a fugir, ele caiu e ficou manco. Seu nome era Mefibosete” (2Sm 4.4). “Jônatas, tio de Davi, era do conselho, homem sábio e escriba; Jeiel, filho de Hacmoni, atendia os filhos do rei” (1Cr 27.32). (Ver também: 2Rs 10.5; Is 49.23).

O salmista Davi depois de grande prova e livramento, escreve: “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei (למד) (lâmad)o temor do SENHOR” (Sl 34.11). Restaurado por Deus após ter pecado, confessado e se arrependido, Davi propõe-se a ensinar o caminho de Deus: “Então, ensinarei (למד) (lâmad) aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores se converterão a ti” (Sl 51.13).

Maringá, 16 de maio de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]“Os crentes devem ter sempre em mente o fato de que tudo que compreende e rodeia nossa vida, depende única e exclusivamente da bênção de Deus” (João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã,p. 40).

[2]Veja-se: João Calvino,Exposição de 1 Coríntios, (1Co 4.7), p. 134.

[3]Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito” (Gn 18.19). “E para que contes a teus filhos e aos filhos de teus filhos como zombei dos egípcios e quantos prodígios fiz no meio deles, e para que saibais que eu sou o SENHOR (Ex 10.2). E, uma vez dentro na terra que o SENHOR vos dará, como tem dito, observai este rito. Quando vossos filhos vos perguntarem: Que rito é este? Respondereis: É o sacrifício da Páscoa ao SENHOR, que passou por cima das casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as nossas casas. Então, o povo se inclinou e adorou(Ex 12.25-27). Naquele mesmo dia, contarás a teu filho, dizendo: É isto pelo que o SENHOR me fez, quando saí do Egito(Ex 13.8). 9 Tão-somente guarda-te a ti mesmo e guarda bem a tua alma, que te não esqueças daquelas coisas que os teus olhos têm visto, e se não apartem do teu coração todos os dias da tua vida, e as farás saber a teus filhos e aos filhos de teus filhos. 10 Não te esqueças do dia em que estiveste perante o SENHOR, teu Deus, em Horebe, quando o SENHOR me disse: Reúne este povo, e os farei ouvir as minhas palavras, a fim de que aprenda a temer-me todos os dias que na terra viver e as ensinará a seus filhos(Dt 4.9-10). 20 Quando teu filho, no futuro, te perguntar, dizendo: Que significam os testemunhos, e estatutos, e juízos que o SENHOR, nosso Deus, vos ordenou? 21 Então, dirás a teu filho: Éramos servos de Faraó, no Egito; porém o SENHOR de lá nos tirou com poderosa mão(Dt 6.20-21). Ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentados em vossa casa, e andando pelo caminho, e deitando-vos, e levantando-vos” (Dt 11.19).Lembra-te dos dias da antiguidade, atenta para os anos de gerações e gerações; pergunta a teu pai, e ele te informará, aos teus anciãos, e eles to dirão(Dt 32.7).

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