A Pessoa e Obra do Espírito Santo (480)

3.3. Gratidão a Deus (Continuação)

Motivos para ação de graças

Analisemos agora algumas das razões que temos para agradecer a Deus. Sem dúvida, todos nós temos motivos para assim fazer; basta que consideremos a nossa saúde, o alimento que nos dá, a nossa casa, família, emprego, etc. Todavia, queremos observar outras razões que a Palavra de Deus nos indica, que devem nos conduzir à gratidão sincera:

a) Por Deus ser quem é

Deus deve ser louvado por aquilo que Ele é. Deus é o Senhor de to-das as coisas; a sua vontade é que lhe rendamos graças como reconhecimento re-verente de sua majestade e misericórdia manifestas em seus atos salvadores. O salmista declara: “O Senhor é Deus, Ele é a nossa luz (…). Tu és o meu Deus, ren-der-te-ei graças; tu és o meu Deus, quero exaltar-te. Rendei graças ao Senhor, por-que Ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre” (Sl 118.27-29).

b) A bondade e misericórdia

O salmista conclama: “Rendei graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre” (Sl 118.1= Sl 106.1; 107.1, etc.). Aqui há a compreensão de que toda a nossa relação com Deus baseia-se em sua misericórdia.

Após a destruição de Jerusalém, Jeremias escreve: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos porque as suas misericórdias não têm fim” (Lm 3.22). Tudo que somos e temos pode ser resumido na “misericórdia eterna de Deus”, que se compadece de nós e propicia a nossa salvação.

As Escrituras declaram que Deus é benigno e misericordioso para com todos; até para com os ingratos e maus, aos quais Deus manifesta a Sua bondade por inter-médio da concessão de bênçãos temporais (Veja-se: Lc 6.35,36).

c) O seu socorro

O socorro de Deus independe de nossa percepção. Deus nos tem guardado, na maioria das vezes, de uma forma misteriosa para nós. Não podemos limitar a nossa gratidão a Deus apenas à nossa percepção dos fatos. O cuidado preventivo de Deus para conosco ultrapassa em muito a nossa consciência. A vontade de Deus é que lhe sejamos agradecidos pela sua proteção benfazeja.

O salmista, considerando o seu passado, exulta: “O Senhor é a minha força e o meu escudo; nele o meu coração confia, nele fui socorrido; por isso o meu coração exulta, e com o meu cântico o louvarei”(Sl 28.7). “Render-te-ei graças porque me acudiste, e foste a minha salvação”(Sl 118.21).

d) A firmeza de nossos irmãos

 A vontade de Deus é que nos alegremos com os nossos irmãos na firmeza de sua fé, dando graças a Deus por isso. Devemos orar uns pelos outros, regozijando-nos ao perceber o fortalecimento espiritual de nossos irmãos.

O apóstolo Paulo, em muitas de suas cartas, agradecia a Deus o testemunho fiel da Igreja:

Primeiramente dou graças a meu Deus mediante Jesus Cristo, no tocante a todos vós, porque em todo o mundo é proclamada a vossa fé. (Rm 1.8).
Não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações. (Ef 1.16).
Dou graças a meu Deus por tudo que recordo de vós (…), pela vossa cooperação no Evangelho, desde o primeiro dia até agora. (Fp 1.3,5).[1]

***

            A nossa gratidão a Deus deve se revelar num ato de proclamação da sua grandeza e de seus poderosos feitos. A vontade de Deus é que proclamemos com gratidão os seus atos redentores. Os salmistas assim procedem: “Graças te rendemos, ó Deus; graças te rendemos, e invocamos o teu nome, e declaramos as tuas maravilhas” (Sl 75.1). “Rendei graças ao Senhor, invocai o seu nome, fazei conhecidos, entre os povos, os seus feitos”(Sl 105.1).

            Em nosso nobre desejo de servir, estamos com frequência dispostos a indicar para os nossos amigos, profissionais e lojas que nos atenderam bem. Deste modo,  falamos de determinada promoção ou de um remédio que foi “valioso” para nós ou para algum parente… No entanto, amiúde nos esquecemos de proclamar as “maravilhas” de Deus aos pecadores, e mesmo aos nossos irmãos, para a edificação recíproca de nossa fé.

            A nossa palavra e a nossa vida devem ser expressões de agradecimento a Deus. Todas as nossas atitudes devem refletir este espírito. É justamente isto que Paulo recomenda aos colossenses: “E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” (Cl 3.17).

            Deus nos convida a uma dignificação de nossas tarefas, por meio de um coração agradecido que metamorfoseia tudo o que fazemos. Um coração agradecido a Deus se manifesta em nosso comportamento, em nosso trabalho, em todas as nossas relações. Contudo, nós somos agradecidos, não por isso, mas porque o Senhor é o nosso Deus; o Deus cuja bondade e misericórdia permanecem de geração em geração; e nós a temos experimentado.

            Um outro aspecto que deve ser analisado é que as nossas orações também devem ser agradecidas. Paulo, preso, escreve a uma Igreja que também passava por tribulações (Fp 1.29): “Não andeis ansiosos de cousa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça”(Fp 4.6. Veja-se: Cl 4.2). Paulo, aqui, não combate a ansiedade puramente com argumentos; ele nos desafia a canalizar as nossas energias não para um sentimento inoperante e destrutivo, mas para oração com ações de graça. A oração oferece-nos um abrigo onde podemos nos ocultar das preocupações mundanas, um lugar onde ficamos a sós com Deus, um refúgio onde renovamos a esperança, onde nossos cuidados, expostos a Deus, ficam amortecidos e renovamos a nossa confiança em Deus. A oração é o antídoto contra o veneno da ansiedade!

            A prática da oração, acompanhada de ação de graças deve ser exercitada a fim de nos aperfeiçoarmos nela como resultado de nossa maturidade espiritual. “Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados e edificados e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graça”(Cl 2.7,8).

            “Assim também, escreve Calvino,  não deixemos passar nenhum tipo de prosperidade que nos beneficie, ou que beneficie a outros, sem declarar a Deus, com louvor e ação de graças, que reconhecemos que tal bênção provém do Seu poder e da Sua bondade”.[2]


Maringá, 16 de maio de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Veja-se: também: 1Co 1.4; Cl 1.3,4,12; 1Ts 1.2,3; 2.13; 3.9; 2Ts 1.3; 2.13; Fm 4.

[2]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 3, (III.9), p. 136.  

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