A Pessoa e Obra do Espírito Santo (408)

6.4.10.2.4. Comunidade Litúrgica (Continuação)

O culto a Deus deve ser a atitude natural do povo de Deus em reconhecimento prazeroso de Seu senhorio sobre a nossa existência e de ser Ele o originador e provedor de todas as bênçãos celestiais que temos recebido em Cristo Jesus: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 1.3).[1]

A adoração correta ao verdadeiro Deus, é uma atitude de fé, gratidão e obediência na qual, o adorador se prostra diante do Deus que o atraiu com a Sua graça irresistível.[2] Neste ato de culto, o homem confessa sua dependência de Deus, professando a sua fé em resposta à Palavra criadora de Deus (Jo 1.1-3; Rm 1.16; 10.17; Tg 1.18,21; 1Pe 1.23).[3]

A Palavra de Deus é criadora porque gera a fé e, todas as vezes que Deus fala ao homem, algo de novo acontece, o homem não pode ser mais o mesmo, ele não pode mais ignorar este acontecimento (At 4.20). E isto, se expressa em culto. Deus fala e o homem adora. Deus se mostra, o homem contempla. Deus abençoa, o homem louva. “De longe se me deixou ver o Senhor, dizendo: Com amor eterno eu te amei, por isso com benignidade te atraí” (Jr 31.3).

Quando nos reunimos para cultuar a Deus, exercitamos o Sacerdócio Universal dos Crentes, que só se torna possível por meio do sacrifício expiatório de Jesus Cristo (Vejam-se: Hb 7.22-28; 9.11-14; 10.19-25[4]/Hb 6.19-20). Ele foi o nosso precursor à presença de Deus (Jo 14.2-3/Hb 6.17-20;[5] Rm 5.2; Hb 4.16).

No culto público nós exercitamos o Sacerdócio Universal dos Crentes da seguinte forma:

 1) Falamos com Deus expressando a nossa fé por intermédio dos cânticos, das orações e dos Credos.

2) Ouvimos e somos alimentados pela Palavra de Deus a qual é lida e exposta.

 3) Compartilhamos a nossa fé por meio do testemunho uníssono daquilo que cremos e que Deus tem feito.

Por isso, já no Novo Testamento, a aqueles que eram tentados a se ausentarem do culto por motivos irrelevantes, o escritor da Epístola aos Hebreus recomendava: “Não deixemos de congregar-nos como é costume de alguns; antes, façamos admoestações, e tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima” (Hb 10.25).

A nossa frequência aos cultos deve pressupor um desejo de adorar, aprender e servir a Deus. O culto nunca é uma atitude passiva, antes envolve o desejo de participação. Temos um bom resumo do sentimento que deve nortear a nossa participação no culto em Hb 10.22-25.

Por outro lado, como bem observou Warfield (1851-1921): “Nenhum homem pode excluir-se dos cultos regulares da comunidade à qual pertence, sem sérios prejuízos para sua vida espiritual pessoal”.[6] E: “…. nem o indivíduo mais santo pode se dar ao luxo de dispensar as formas regulares de devoção, e que o culto público regular da igreja, apesar de todas as suas imperfeições e problemas localizados, é a provisão divina para o sustento da alma”.[7]

São Paulo, 17 de fevereiro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa  

 


[1]Deus nos tem abençoado continuamente em Cristo. O particípio aoristo, “Bendito” (eu)logh/saj), indica dentro deste contexto, um fato consumado e a ação continuada de Deus. Podemos interpretar que Deus na eternidade já nos abençoou definitivamente; a sua bênção é completa; todavia, ela é-nos comunicada constantemente através da história. Essas bênçãos são multifacetadas: “toda sorte” (pa/sh), na realidade, “todas” e “cada” bênção que temos, sem exceção, provém do Senhor. As “regiões celestiais” (e)n toi=j e)pourani/oij = lit. “dos céus”, “celestiais”) indicam a procedência das bênçãos. As bênçãos são espirituais porque originam-se e provêm de Deus – o Pai que habita os céus (Mt 6.9) e, para onde Ele mesmo nos levará (2Tm 4.18) -, sendo-nos comunicadas pelo Espírito. Essas bênçãos relacionam-se diretamente ao ministério de Cristo, que é celestial (2Tm 4.18), tendo um alcance cósmico (Ef 3.10). Isso também denota a nossa nova condição: Deus “nos fez assentar nos lugares celestiais (e)pourani/oij) (Ef 2.6) juntamente com Cristo (Ef 1.20).

 Considerando essas bênçãos, que ultrapassam em muito a nossa capacidade de pensar, sentir ou imaginar (Ef 3.20), devemos buscar continua e habitualmente o reino de Deus (Mt 6.33); as “coisas lá do alto” onde Cristo está à direita de Deus (Cl 3.1).

[2]Veja-se: Confissão de Fé de Westminster, X.1,2.

[3] “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez” (Jo 1.1-3). “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1.16). “…. a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10.17). “Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas” (Tg 1.18). “Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma” (Tg 1.21). “Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (1Pe 1.23).

[4]“Por isso mesmo, Jesus se tem tornado fiador de superior aliança. Ora, aqueles são feitos sacerdotes em maior número, porque são impedidos pela morte de continuar; este, no entanto, porque continua para sempre, tem o seu sacerdócio imutável. Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus, que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro, por seus próprios pecados, depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu. Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens sujeitos à fraqueza, mas a palavra do juramento, que foi posterior à lei, constitui o Filho, perfeito para sempre” (Hb 7.22-28). “Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção. Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam, quanto à purificação da carne, muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!” (Hb 9.11-14). “Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura. Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel. Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima” (Hb 10.19-25).

[5]“Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também”  (Jo 14.2-3). “Por isso, Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propósito, se interpôs com juramento, para que, mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, forte alento tenhamos nós que já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta; a qual temos por âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu, onde Jesus, como precursor, entrou por nós, tendo-se tornado sumo sacerdote para sempre….” (Hb 6.17-20).

[6] B.B. Warfield, A Vida Religiosa dos Estudantes de Teologia, São Paulo: Editora os Puritanos, 1999, p. 19.

[7]William Robertson Nicoll. Apud B.B. Warfield, A Vida Religiosa dos Estudantes de Teologia, p. 25.

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