A Pessoa e Obra do Espírito Santo (405)

6.4.10.2.4. Comunidade Litúrgica [1]

Quando verificamos a prática adoracional no Novo Testamento, encontramos os seguintes elementos, ainda que não necessariamente juntos:

  1. Leitura e Exposição das Escrituras (Antigo Testamento).
  2. Orações (gratidão, intercessão, súplica): (At 2.42; 1Co 14.16; 1Tm 2.1-2).
  3. Cânticos.
  4. Celebração da Santa Ceia.
  5. Ofertas.
  6. Batismo.

White relacionando o Culto do Antigo com o do Novo Testamento, conclui: “O culto (…) tem sequência e contém certos ingredientes essenciais. No mínimo deveria haver um sentido de três estágios: Aproximação de Deus; Leitura audível da Palavra de Deus e seu esclarecimento na pregação; Resposta a Deus e encerramento debaixo de sua bênção”.[2]

A Sinagoga e o culto cristão

            O culto cristão encontrou ricos elementos na liturgia da Sinagoga, os quais foram usados, adaptados e transformados, de acordo com uma visão nova, fruto da fé cristã, ensinada pelo próprio Jesus Cristo: “Deus é Espírito e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.24).

            A liturgia cristã foi sendo amadurecida de acordo com o registro dos Evangelhos (entre os anos 60 e 96 AD) e dos demais livros do Novo Testamento (49-96 AD), encontrando a sua efetivação e maturação históricas no desenvolver conceptual da Igreja, mediante a direção e iluminação do Espírito Santo, o qual não veio trazer novidades, mas sim ensinar o que Deus já revelara em Cristo Jesus (Jo 14.26; 16.13).

            No Novo Testamento não encontramos nenhum modo uniforme de culto a Deus. Temos sim, traços distintivos que caracterizavam a adoração cristã, sendo esta norteada pelo Espírito em consonância com as Escrituras, sendo efetuada de forma inteligente com ordem e decência.

            A unidade do culto era do Espírito não uniformidade externa.[3]  Comenta Kuiper: “O Espírito já operava na igreja da antiga dispensação, entretanto, na nova dispensação foi derramado como nunca. É por isso que, por um lado, o Novo Testamento contém muito menos detalhes acerca da adoração coletiva que o Velho Testamento”.[4]

            Como sinal evidente de uma transformação dos elementos judaicos feita pela Igreja cristã, constata-se que desde o início a Igreja passou a se reunir no templo de Jerusalém,  (At 2.46; 3.1; 5.12),[5] nas sinagogas – onde especialmente Paulo encontrou seu “púlpito e audiência” (At 13.13-16;[6]At 14.1,3;17.1-2; 18.4) –, nos lares (At 20.7-8; Rm 16.5;[7] 1Co 16.19;  Cl 4.15; Fm 2) e em auditórios  (At 19.9).[8] O lugar em si era menos importante do que o propósito da reunião e a comunhão entre os irmãos.[9]

São Paulo, 17 de fevereiro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa  


[1]Sobre a adoração cristã e a concepção de Culto em Calvino, Veja-se: Hermisten M.P. Costa, O Culto Cristão na Perspectiva de Calvino: Uma Análise Introdutória: In: Fides Reformata,VII/2, 2003, e Idem.,Princípios Bíblicos da Adoração Cristã,São Paulo: Cultura Cristão, 2004. 

[2]Peter White, O Pastor Mestre,São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 87.

[3] Vd. J.I. Packer, Entre os Gigantes de Deus: Uma visão puritana da vida cristã,São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 1996, p. 270ss; João Calvino, Exposição de 1 Coríntios,(1Co 14.40), p. 443-444.

[4] R. B. Kuiper. El Cuerpo Glorioso de Cristo, p. 334.

[5]“Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração” (At 2.46). “ Pedro e João subiam ao templo para a oração da hora nona” (At 3.1). “Muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos. E costumavam todos reunir-se, de comum acordo, no Pórtico de Salomão(At 5.12).

[6]“E, navegando de Pafos, Paulo e seus companheiros dirigiram-se a Perge da Panfília. João, porém, apartando-se deles, voltou para Jerusalém. Mas eles, atravessando de Perge para a Antioquia da Pisídia, indo num sábado à sinagoga, assentaram-se. Depois da leitura da lei e dos profetas, os chefes da sinagoga mandaram dizer-lhes: Irmãos, se tendes alguma palavra de exortação para o povo, dizei-a. Paulo, levantando-se e fazendo com a mão sinal de silêncio, disse: Varões israelitas e vós outros que também temeis a Deus, ouvi” (At 13.13-16).

[7]“No primeiro dia da semana, estando nós reunidos com o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir viagem no dia imediato, exortava-os e prolongou o discurso até à meia-noite. Havia muitas lâmpadas no cenáculo onde estávamos reunidos” (At 20.7-8). “Saudai Priscila e Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus (…), Saudai igualmente a igreja que se reúne na casa deles….” (Rm 16.3,5).

[8] “Visto que alguns deles se mostravam empedernidos e descrentes, falando mal do Caminho diante da multidão, Paulo, apartando-se deles, separou os discípulos, passando a discorrer diariamente na escola de Tirano” (At 19.9).

[9] Veja-se: Earle E. Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos,São Paulo: Vida Nova, 1984, p. 67.

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