A Pessoa e Obra do Espírito Santo (379)

3) Fidelidade, perseguição, crescimento e consolo (Continuação)

A glorificação de Cristo em Atos

O livro de Atos se constitui no maior relato da glorificação de Cristo pelo Espírito: A expansão missionária e a edificação dos crentes em santidade. Quando cristãos sinceros pregavam o Evangelho e, homens e mulheres eram transformados pelo seu poder, sendo conduzidos a uma vida santa, Cristo estava sendo glorificado. Este continua sendo o modo efetivo de glorificar a Deus: Obedecer aos seus mandamentos em fé e amor.

          Nas páginas do Novo Testamento vemos que quando a liderança da Igreja de Jerusalém foi convencida por Pedro ― como este também o fora pelo Senhor ―, de que a mensagem do Evangelho era para todos, sem exceção; com alegria glorificaram a Deus: “E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram (doca/zw) a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida” (At 11.18).

          Posteriormente, quando os gentios entenderam a mensagem do Evangelho após a pregação de Paulo inspirada no profeta Isaías, relata Lucas: “Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam (doca/zw) a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna” (At 13.48).

          Quando Paulo relata aos presbíteros de Jerusalém como Deus operara entre os gentios por intermédio do seu ministério, “Ouvindo-o, deram eles glória (doca/zw) a Deus e lhe disseram: Bem vês, irmão, quantas dezenas de milhares há entre os judeus que creram, e todos são zelosos da lei” (At 21.20). Notemos que em todas estas manifestações, Deus e a sua mensagem é que eram engrandecidos: a glória pertence unicamente a Deus!

          Paulo no final da segunda carta aos tessalonicenses, roga àqueles irmãos que conheciam o poder e glória do Evangelho: “Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada (doca/zw), como também está acontecendo entre vós” (2Ts 3.1). A Igreja prega o Evangelho e ora para que Deus, somente Deus seja glorificado por meio de sua missão. De fato, Deus o será todas as vezes que a Igreja for fiel ao seu Senhor.

          Kuiper (1886-1966) é contundente e certeiro em sua afirmação:

A fé calvinista propõe o mais elevado objetivo da evangelização. E não é a salvação de almas. Nem o crescimento da Igreja de Cristo. Tampouco é a vinda do reino de Cristo. Todos estes objetivos da evangelização são importantes, inestimavelmente importantes. Mas são apenas meios para a consecução do fim para o qual todas as coisas foram trazidas à existência e continuam existindo, para o qual Deus faz tudo o que faz, no qual a história toda culminará um dia, e no qual estão focalizadas todas as eras da eternidade sem fim – a glória de Deus. Em resumo, de todos os cristãos, o calvinista tem de ser o mais zeloso pela evangelização. É o que ele será, se for verdadeiramente calvinista – e não só de nome.[1] 

          O objetivo final da evangelização, bem como da salvação do seu povo, é que Deus seja glorificado. A Igreja, como bela expressão da sabedoria e glória de Deus, é por natureza agente dessa glória. Por isso, a Igreja não pode ter outro objetivo além de glorificar a Deus. Nisso, as demais coisas necessárias, serão acrescentadas. Glorifiquemos ao Senhor em nossa unidade obediente.

6.4.9.1.3 Constitui os oficiais 

Como vimos, é o Espírito quem constitui os oficiais de sua Igreja. Por isso mesmo, a sua autoridade é derivada de Deus. Já tratei o suficiente sobre esse tema quando estudei sobre presbíteros e diáconos. Remeto o leitor para lá.

6.4.9.1.4. Dirige a igreja nas suas decisões

Muitas vezes somos tentados a nos esquecer de que a Igreja é também uma organização, que tem os seus oficiais e Concílios. Trabalhamos mais este assunto quando estudamos a igreja como organismo e organização.

          Geralmente quando isso ocorre, somos levados a menosprezar as decisões conciliares, como sendo “obras de homens”, portanto, concluímos: nada valem.

          Na realidade, os Concílios devem trabalhar sob a orientação do Espírito Santo, o que não significa que eles sejam infalíveis, todavia, “os seus decretos e decisões, sendo consoantes com a Palavra de Deus, devem ser recebidos com reverência e submissão, não só pela sintonia com a Palavra, mas também pela autoridade através da qual são feitos, visto que essa autoridade é uma ordenação de Deus, designada para isso em sua Palavra”, diz a Confissão de Westminter.[2]

          O Espírito, por meio do Concílio de Jerusalém, dirimiu uma dúvida existente no seio da Igreja. Os apóstolos e presbíteros que participaram deste Concílio, debateram e votaram a questão, tendo consciência da orientação do Espírito. Esta convicção se revela no fato de dizerem no parecer final: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós….”(At 15.28).

          Devemos, portanto, ter um alto apreço pelos nosso oficiais e Concílios, orando para que o Espírito que os constituiu, lhes dê o discernimento necessário para decidirem todas as coisas, sob a égide do Espírito por meio da Palavra. (At 15.1-28; 16.4).

  Maringá, 15 de janeiro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1976, p. 149. Vejam-se também: R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 58-59; 90-91; Idem, El Cuerpo Glorioso de Cristo, Grand Rapids, Michigan: Subcomision Literatura Cristiana de la Iglesia Christiana Reformada, 1985, p. 225-226; J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1990, p. 51ss.; John Piper, Alegrem-se os Povos: a supremacia de Deus em missões, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 13-14,17,18.

[2] Confissão de Westminster,XXXI.2.

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